quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paciente Nove

Saudade: uma faca no peito!







Saudade: Uma faca no peito



Sim, foi assim que a paciente descreveu o que ela sentia como se tivesse uma faca fincada no peito. A causa dessa sensação era a morte inesperada de um filho de vinte e um anos de acidente de moto. Entendi perfeitamente, porque quando você perde alguém que ama, um ente querido, parece que temos um faca fincada bem no meio do coração. Ela pediu para eu olhar, tocar, disse que sentia o local áspero, que incomodava. Estava sempre passando a mão naquele lugar machucado, machucado pela saudade... Examinei-a, passei a mal no local, não havia nada. A pele estava normal, não havia lesões, estava tudo bem. Eu perguntei se ela acreditava em Deus, ela disse: "- Sim doutora! Acredito! Mas o problema é a saudade, a saudade doutora! Sim, ela havia descrito como ela sente a saudade.   Palavra que  só é conhecida em galego e português, e descreve uma mistura dos sentimentos de perda, distância e amor, para ela: "Uma faca fincada no peito..." E qual é o remédio para a saudade? Acredito que não haja! A gente aprende a conviver com ela... E então, lembro-me daquele filme, "Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças ("Eternal Sunshine of the Spotless Mind"), Clementine ao perceber que o seu namoro com Joel não daria certo, recorre à uma empresa especializada em apagamento de memória, para apagar qualquer vestígio do Joel. E assim, foi feito. Apagaram-se as memórias e com elas  junto a saudade. Infelizmente, não existe uma empresa assim na realidade. Este filme é uma ficção científica. Quem sabe um dia, no futuro, poderemos recorrer à essas empresas,  quando a saudade parecer uma faca fincada no nosso peito. Entretanto, será que iremos recorrer à este método ou deixaremos que a saudade nos acompanhe, pois afinal, ela é o que ficou daquele que muito amamos e que já não está presente aos nossos olhos.

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