quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sinceridade



Sinceridade


Não aguentei e caí numa gargalhada... Foi meu dermatologista o autor dessa hilariante gargalhada,  aquela que vem do fundo da alma... No meio da consulta, ele contou que mandou um paciente dele passear no zoológico! E então perguntei: - Nossa! Para o zoológico? Ele respondeu: -Sim, para ele aprender com os bichos como que a gente tem que se cuidar... Porque que o leão está lá, todo bonito, juba penteada? Pensa que foi alguém que foi lá penteá-lo? Não! E os patos, com as asas lustradas, lindas brilhantes? Não foi nenhum cabelereiro que arrumou... E os elefantes, quando está muito calor jogam uma camada de lama nas costas para se protegerem do sol e do calor! Por isso que não troco de dermatologista, não troco mesmo! Fiquei sabendo de uma dermatologista que olha para você é fala: - A testa é quinhentos reais, ao redor dos olhos seiscentos reais, o face toda sai por volta de três mil reais... Ah, e não esqueça de pegar todos os cremes indicados para você na recepção com a secretária... Ele não está interessado em ganhar dinheiro as custas de ninguém. Ele é sincero! Talvez porque ele faça dermatologia oncológica, e que para ele uma ruga na testa não siginifica nada comparada à um melanoma. Para ele, a natureza e dignidade fala mais alto... Ele até faz estética mas sabe o limite entre o bom senso e o exagero, o ridículo... Como fala o escritor e psicoterapeuta Flavio Gikovate, é claro que a aparência física é importante, devemos sim nos cuidar, ter boa alimentação, praticar atividade física, mas envelhecer também é preciso! Ele, disse: " -Imagina só, "novo", "novo", "novo", cheio de plásticas e etc, chega aos setenta anos com aparência de trinta anos de idade e morre! Não é natural! É preciso nos deixarem envelhecer! Concordo! Por isso, sinceridade, honestidade e bom senso andam juntos! Gosto dos profissionais médicos que mantém a ética médica, que vêm o paciente de dentro para fora, e não se fora para dentro ou como fonte de renda. O verdadeiro médico não vê a medicina como um negócio. O verdadeiro médico é aquele que vê a medicina em primeiro lugar como um exercício de amor ao próximo...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Agrotóxicos




Agrotóxico e Saúde


Li uma reportagem na internet sobre o aumento de câncer na infância, jovens e adolescentes. No artigo, o oncologista explicava que uma das causas desse aumento era devido aos agrotóxicos nas verduras e legumes, e que o Brasil era estava na lista de um dos maiores importadores de agrotóxicos. Também falava que a quantidade de agrotóxico era maior do que  a permitida nos alimentos. O que eu, como médica, possível pensar de uma coisa dessas? Triste, terrível, sabe porquê? Porque estão brincando com a saúde e com a vida! Um médico luta tanto para salvar uma vida e tem gente por aí que anda colocando agrotóxico a mais nas frutas e verduras para os outros comerem, e sabe porquê? Por ganância! O dinheiro fala mais alto quando se trata de ter uma ótima colheita por fora, mais cheia de veneno por dentro... Para mim isso é um crime! É engraçado, quem mata com uma arma de fogo vai preso, para cadeia, eessas pessoas que matam indiretamente? Só enriquecem? Cadê o respeito pela vida, cadê o amor pelo irmão? Que nada ninguém fala mais sobre isso, o importante é a conta bancária crescer, crescer, não importa como... Não estou achando nada bom o caminho que a humanidade está escolhendo seguir... Concordo, devemos evoluir, mas  até que ponto isto não será prejudicial à nós mesmos? Acho mesmo que devíamos pensar mais, dar valor as coisas básicas da vida para depois avançármos...  Saúde, é algo que devemos preservar. Um médico estuda a vida inteira na intenção de zelar, promover e restaurar a saúde das pessoas, e então vem "não sem quem", que manda "não sei quem", jogar um monte de agrotóxicos nas frutas e verduras para os outros consumirem! Faça-me um favor isso não é dignidade!  Quem sabe disso e se omite é um assassino! Vamos na feira, e lá estão eles, os pimentões lindos, cheios de agrotóxicos, as cenouras grandes cor de laranja vivo, cheias de agrotóxico. Para não falar do brócolis, do alface, da couve, couve-flor é um veneno só! Falam que é melhor comer produtos orgânicos. Deve ser os que vendem as frutas e legumes com agrotóxicos comem, porque para uma pessoa de classe média e baixa comprar fica difícil pagar cinco reais por três inhames pequenos ou cinco reais por três espigas de milho pequenas. Tenho vontade de gritar, mas para quem? Ei, parem de colocar agrotóxicos nos alimentos só para terem produtividade, venderem e ganharem dinheiro!!! Ei, parem de causar doenças, enquanto a gente aqui, médicos, lutamos para as combater! Sinto-me ofendida no fundo da minha alma! Será que dá para parar? Se agrotóxico é prejudicial para saúde, todo mundo vai comer orgânico e ponto final! Proibam a venda de agrotóxico! Mandem as pessoas plantarem couve-flor na varanda do apartamento, feijão e tomate no quintal, em qualquer lugar mas por favor, preservem a saúde! Já bastam as doenças que não podemos evitar... Quando vamos evoluir o suficiente para aceitarmos que o fim é igual para todos? Não adianta levar dinheiro e jóias  para o caixão! Todo mundo vai virar osso, pó para os cremados , seja lá como for, tudo é questão de tempo, para uns mais, para outros menos. Meu sonho é que as pessoas se amem, não façam para os outros o que elas não gostariam que fizessem para si. Como o mundo seria melhor! Quando vamos evoluir? Não tecnologicamente, economicamente, mas moralmente? Para onde caminha a humanidade? Alguns lutando para achar a cura para o câncer, outros o promovendo? Não posso acreditar que vivo num mundo assim... Cadê o "SER" humano? Precisamos evoluir como seres humanos, é só isso que sei... Quem faz coisa errada, mente e sabe, está se beneficiando... Quem são essas pessoas? Quem está brincando com a saúde dos outros, quem quer se beneficiar? Vamos parar para pensar... Vamos deixar de ser o "bobo" da corte... O futuro agradece e nossas crianças também!

domingo, 27 de novembro de 2011

O tempo existe?



Tempo


Separamos, passado, presente e futuro, pensamos que são tempos distintos, separados entre si. Erramos! Vivemos passado, presente e futuro ao mesmo tempo... O tempo é um só! O que eu sou agora, sou na verdade o que o passado me tornou, é um passado presente... O que sou hoje nada mais é de tudo que vivi no passado. Então sou passado e presente ao mesmo tempo, e o que será daqui um minuto, depende do que estou vivendo agora no presente, na verdade já estou escolhendo o futuro, seria um futuro presente. Se decido agora que mudarei para Tocantins, já estou vivendo o futuro no presente, na verdade já sei pelo menos cinquenta por cento de como será minha vida. Tenho dentro de mim o passado, o presente e o futuro. Nã dá para apagar o passado, porque ele é presente. Não dá para dizer que o futuro está longe, porque o vivo a cada minuto, e este,torna-se passado.
O passado, presente e futuro não existem. Existe mesmo uma unidade. Novas tecnologias de neuroimagem mostram que pessoas que vivem numa metrópole tem a região do córtex cingulado e a amígdala cerebral afetados. Estas áreas no cérebro são responsáveis pelo estresse e centro emocional respectivamente. Isto prova que o que sou no presente, nada mais é das experiências que vivi no passado. A mudança está registrada no meu cérebro. Na verdade meu cérebro é o passado que se transformou em presente, e daqui um segundo, o presente passará a ser passado, mas ao mesmo tempo é o futuro se concretizando. Posso planejar um futuro, mas não posso apagar um passado, porque ele sou eu!O que sei é que vivo o passado, presente e futuro. Eu não estou preocupada com o tempo, porque se ele existe, ele é a minha própria existência... 

sábado, 26 de novembro de 2011

Infinito segundo!





Infinito Segundo


Quero escrever aqui sobre o infinito segundo de felicidade. Como pode "um segundo" ser infinito? Sim pode! E aqui, tudo se transforma pela química da vida... Um segundo pode ser infinito, e quem experimentar esse infinito segundo vai saber que valeu a pena viver por um segundo de felicidade... Por esse infinito segundo podemos dizer que a vida pode ser vivida em um segundo.  Não queria viver cem anos sem experimentar um infinito segundo, aquele que marca nossas vidas para sempre, que jamais é esquecido. Fica lá guardado no departamento da memória como um diamante. Quando relembramos esse infinito segundo podemos ativar vários circuitos do cérebro e então, uma corrente de bem estar se propaga por todo nosso corpo, como se fosse um choque elétrico repentino de felicidade... Consigo lembrar agora três infinitos segundos: um beijo que eu não trocaria por nenhum outro na minha vida. Não, não, não foi o primeiro beijo... Foi o beijo que posso dizer que toda minha vida valeu por ter tido ele... Foi o beijo que eu entregaria todo o meu dinheiro para tê-lo de volta... Foi único!
Outro infinito segundo aconteceu na França. Foi amor à primeira vista... Não me esqueço dele nunca, um príncipe na minha vida. Pensando bem, já tive um príncipe na minha vida, ele! Estivemos juntos por algumas horas em uma discoteca. Já faz tanto tempo, mas nunca vou esquecer. Eu brasileira, ele francês, a sorte foi que ambos falavam um pouco de inglês. Juntamos  a língua portuguesa, francesa e inglesa e fizemos nós, a nossa própria língua de comunicação... Porém, só poderia ser um infinito segundo de felicidade, porque o oceano e o tempo nos separaram... Era a pessoa certa, no tempo e lugar errados... Não que a França seja um lugar "errado", pelo contrário a França é maravilhosa, mas longe... Além disso, o tempo era curto, no dia seguinte eu partia...
Outro infinito segundo foi no hospital em que eu era residente de neurologia. Eu tinha feito uma prova do curso de residência de neurologia, e encontrei meu namorado no corredor do hospital me esperando para saber o resultado da prova, se eu tinha ido bem ou não, porque ele sempre estudava comigo. O corredor era longo e quando o avistei de longe, ele estava de braços abertos e vinha ao meu encontro para me abraçar com um sorriso lindo no rosto.
Esses são alguns dos meus infinitos segundos de felicidade... Acredito não ter muitos mais para contar, mas lembrei desses agora... Sim, esses infinitos segundos fazem a vida ser digna de ser vivida, pelo menos para lembrar que esses momentos existirão que jamais serão apagados e para sempre serão guardados...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Paciente treze!



O pão francês


Lembrei-me do escritor e psicanalista Rubem Alves. Ele conta em uma de suas crônicas, que tinha um paciente com mais de oitenta anos, quase morrendo, que ficou com uma vontade louca de comer pastel. Portanto, ele não era mais dono de si, preso em seu leito pela doença, a única forma era pedir para a filha comprar um pastel, mas ela negou! Disse que não poderia comprar o pastel porque o colesterol dele era alto. Acho que ele morreu no dia seguinte com vontade de comer pastel... Ontem, a mesma situação aconteceu comigo... Chamei minha paciente, entrou sendo levada por sua filha em uma cadeira de rodas uma senhora de oitenta e sete anos com Doença de Alzheimer. Era visível que pela sua idade e doença, ela estava bem! Olhava para mim serenamente, quando perguntei se ela estava bem, ela deu um sorriso como criança faz, sem muito dizer... A dose do medicamento para o Alzheimer já estava máxima. Não tinha mais nada a ser feito, mas a filha queria falar algum problema...  Quem não tem problema? Todo mundo os tem de alguma forma mesmo que simples, pelo menos é o que vejo e escuto como médica. Parece que fica chato conversar com alguém e não falar de nenhum problema. Em Londres, para se evitar isso, as pessoas quando se encontram falam do tempo, se vai chover, se não vai, se vai fazer sol... Certo ou não, não sei, acho bom desabafar, por para fora, compartilhar, mas se pensarmos bem, às vezes não temos nenhum problema relevante ao nosso redor, então, porque criá-lo? Foi o que aconteceu quando indaguei a filha da paciente. Sim, havia um problema: - Doutora, minha mãe come muito pão francês! Esse é o problema, preciso de um encaminhamento para a nutricionista! Logo lembrei do paciente do Rubem que queria no fim da vida comer um pastel. Não aguentei falei: - Senhora, se o único prazer dela com oitenta e sete anos é comer pão francês, deixa ela! Então ela disse: - Doutora, mas ela come quatro pães franceses no café da manhã!  Falou em café na manhã, mexeu comigo, também é minha refeição favorita do dia! Imagina se me privassem de alguma coisa do meu café da manhã? Eu não iria gostar... Então falei: - Quatro pães de uma vez realmente é exagero, mas porque você dá quatro pães para ela? Não é ela que pega, nem compra, pois ela está na cadeira de rodas, reduza a quantidade de pães e  pronto! A filha respondeu: É!
Não encaminhei para a nutricionista, não fazia sentido... Porque implicar com o pãozinho que uma velhinha de ointenta e sete anos come com todo prazer no café da manhã? Realmente, às vezes criamos problemas sem sentido, inúteis, que não vão mudar em nada uma situação... Deixa o velhinho comer seu pastel sossegado e a velhinha comer dois pãezinhos no café da manhã! 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Eu sabia...


Eu sabia...

Eu sabia que você não me deixaria sozinha,
Eu sabia que quando eu precisasse você iria até o fim,
Eu nunca duvidei dos seus sentimentos,
Eu simplesmente sabia que você faria tudo por mim...

Você fez o possível e impossível,
Atirou-se mar adentro para me salvar,
Arriscou sua vida por mim,
Mas você conseguiu chegar,

Não foi fácil eu sei,
Mas você estava presente,
No momento em que,
Eu já me via ausente...

Eu sabia que você viria,
Com suas palavras me acolher,
E a minha vida mudaria,
Depois daquele amanhecer,

Então posso dizer-te,
Que nossas vidas não foram em vão,
Estivemos sempre presente,
Dentro da mesma canção...

Só posso dizer,

Que eu sabia como ainda sei,
Que você nunca me deixará,
E para sempre com a gente
Este amor sobreviverá.

Nossas vidas seguem juntas,
Na mesma direção,
Estaremos sempre lado a lado
Vivendo essa paixão!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Paciente Doze



O presidiário



Estava no hospital dentro de um consultório atendendo um paciente. Era uma terça-feira, nove horas da manhã, é a paz reinava. Tudo parecia tranquilo quando repentinamente um funcionário do hospital abre sem antes bater a porta do consultório. Tinha um "ar" desesperado, estava com pressa, muita pressa, só falou: - Doutora quando o posso trazer? Ele está lá embaixo esperando... Falou de um jeito como se eu já soubesse quem era "ele". Em poucos segundos comecei a pensar: - Quem seria "ele"? Ele? Quem? Será que marquei com alguém e esqueci? Então falei: - Bom dia! Ele quem? O funcionário desesperado suando falou: - Ele o presidiário! Fiquei alguns segundos pensando, primeiro que eu não sabia que tinha um presidiário me esperando... Segundo, devia estar esperando há pelo menos uma hora, porque o hospital pede para o paciente chegar uma hora antes da consulta. O certo seria falar que ele deveria como os outros esperarem a sua vez, mas o desespero do funcionário era tanto que disse: - Pode trazê-lo já! Agora! Cadê ele, que eu já o atendo...   O moço respondeu: - Vou buscá-lo doutora, vou buscá-lo, ele está lá embaixo com todos os policiais... Deduzi que o lá embaixo deveria ser a entrada dos funcionários. Não sei. Ele estava lá, o presidiário, cheio de policiais em volta causando desconforto a toda gente. Não seria eu que iria atrasar a resolução do problema. No hospital, como médico sempre aprendemos, se há algum problema, seja ele qual for, temos que resolver imediatamente, não dá para ficar enrolando... Um dia quando atendi um presidiário no posto de saúde, escutei os outros pacientes reclamando: - Imagina, um preso, bandido, e ainda tem prioridade, passa na nossa frente! Pois é, a vida é assim! Não sou eu que vou mandar ele e cinco policiais armados, e mais os que estão na calçada dando cobertura esperar eu atender dez pacientes para depois o atender. Sinto muito, detesto armas!
Continuei atendendo os pacientes quando bateram na porta,  "ele está aqui", "ele está aqui"! Pedi que a paciente saísse da sala dizendo que eu a atendia depois para atender o presidiário. Ela  saiu rapidamente. O presidiário entrou algemado, com ele um policial com uma arma enorme, nem sei dizer que tipo de arma era aquela, mas media o tamanho equivalente ao tronco do policial, seria uma metralhadora? E outro homem sem nenhum uniforme específico trazendo toda a papelada do presidiário. Era um moço jovem, por volta dos trinta anos de idade, algemado, senti-me um pouco incomodada, mas estava ali, naquele minúsculo consultório, eu o presidiário, o agente e o policial com sua arma enorme e horrível. Quase não cabíamos todos lá. E foi assim que atendi o presidiário como qualquer outro paciente. Porque sou médica, atendo pessoas que são pacientes não  importa quem sejam atendo todos iguais! Não importa a raça, a cor, a classe socioeconômica, a idade, se cheira a perfume ou a xixi. Não faço distinção! Não importa se a consulta é particular, de convênio, do SUS... O que eu tenho a ver com isso? Nada! Só me interessa a pessoa que está na minha frente, com algum problema de saúde, e que precisa de mim, tudo mais é secundário... Eu sei que tinha que ser mais rápida, pois de repente o presidiário podia se rebelar, e seria uma confusão para todos, ou outra pessoa vir resgatá-lo e aí seria pior ainda, tiros para todo lado! Socorro!
Não foi uma situação nada agradável... Fiquei pensando no presidiário, preso naquela cela dia e noite, noite e dia e o tempo passando, passando... Deve ser triste, muito triste viver assim... Não sei o que ele fez, não olhei isso no seu histórico, só li que ele tomava gardenal... Ele tinha crises convulsivas... E fico pensando, até que ponto o cérebro dele é alterado para se transformar em uma pessoa perigosa? Será culpa dele mesmo? Ele será assim por causa da sua disfunção cerebral? Terá levado pancadas na cabeça quando era um menino de rua, por exemplo... Não sei, não posso saber, mas tudo parece ter dois lados e fica difícil julgar... Por isso que a justiça dos homens pode falhar, sim pode, e com certeza muitas vezes falha... Só podemos mesmo acreditar na justiça divina... Talvez Deus, que está presente em todos os lugares, em todos os momentos, que sabe até nossos pensamentos, Ele sim, poderá julgar, o homem fará isso superficialmente, às vezes acertando, às vezes errando...
Pedi os exames, prescrevi os remédios, remarquei a consulta e pedi em pensamento: “- Que Deus vós abençoe...” Chamei o próximo paciente...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pedacinhos



Pedacinhos


Tenho medo de mexer nas minhas coisas, pois encontro pedacinhos dele. Agora mesmo fui arrumar alguns papéis e encontrei e-mails impressos que trocamos há dez anos... Então vem a saudade e invade minha alma, faz doer meu coração, sinto lágrimas escorrerem dos meus olhos... É inevitável não os ler... E por ironia do destino, em nossas conversas eu pergunto o que ele sentiria se eu morresse o que faria, mas não tenho a resposta do e-mail... Acho que ele não respondeu... Porque responderia?  E porque perguntei isso? Guardo tudo de novo  no mesmo momento! Não consigo! Não posso mais sofrer assim... Porque eu imprimi esses e-mails? Por quê? Porque os guardei?  Devia ter feito a pergunta para mim, se ele morresse o que eu faria... Não fiz. Se tivesse feito com certeza  agiria de modo diferente... Não pensei que a morte estava por perto... Não, nunca imaginei viver sem ele... Achava que esse dia estava longe demais, que eu não devia me preocupar que tínhamos a vida inteira pela frente, enganei-me...
Havia uma música que sempre me perseguia, fazia parte da trilha sonora do CD filme "Cidade dos Anjos" com a  Meg Ryan, sempre aparecia tocando em algum lugar onde eu estava, no radio do carro, nos lugares públicos, e em vários outros lugares. A frequência com que a música me perseguia era alta.  Eu até tinha o CD, e ainda o devo ter em algum lugar, mas propositalmente o escondi há alguns anos.
Sempre que a música tocava tinha a impressão que a morte levaria meu amor de forma repentina... Eu tinha medo, desligava o rádio, mudava de estação. Enfim, parecia que era um aviso, mas nunca pensei  nele... Nós estávamos sempre juntos que jamais podia imaginar ele longe de mim, como não imagino. Acho que ele está perto, mas não consigo o ver! Mesmo quando estávamos longe um do outro, estávamos perto, não dá para descrever esse sentimento, é indescritível! 
Ele não precisava dizer nada, eu o conhecia pelo olhar, pela alma... Eu conseguia o ler, sabia seu "código"... Ele falava pouco, mas um olhar dizia tudo! Sinto falta dessa "inabalável" cumplicidade... Tiveram épocas que fomos namorados, fomos amigos, fomos irmãos, mas nesses doze anos nunca houve a época em que não fomos nada um para o outro. E é isso que faz a diferença. Essa presença mesmo na ausência fazia tudo ter mais sentido... A presença se transformava em eternidade, cada sorriso, cada expressão em sua face, movimentos de suas mãos seriam eternos... Isso tudo é difícil de ser descrito com palavras...
A música nunca mais tocou... Já até esqueci qual era a música que me perseguia... Ela já deu seu recado, foi embora...
São tantos pedacinhos dele espalhados ao meu redor, que não posso mexer em nada... A blusa que ele adorava me ver vestida está lá no meu armário, uma camisa cor de rosa, pink. Quando eu a vestia, ele dizia: - Você fica tão bem com essa blusa, com essa cor! Na verdade, não me lembro dele implicando com a minha aparência, e eu vice e versa. Ele estava sempre lindo.  Tínhamos até a mesma ptose palpebral, um olho um pouco mais fechado que o outro... Achávamos graça! Ele só falava que gostava de me ver de minissaia, que eu deveria usar mais minissaias... Assim éramos nós, almas gêmeas...  

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Meu momento...



Meu Momento é um parque de diversões!


Esse  é o meu momento!
Momento para pensar em mim...
Gira mundo gira que eu não vou ligar...
Não pare, porque eu não vou descer...

Se quiser parar pare, eu fico olhando as estrelas,
Se quiser girar, gire, eu vou sentir o vento,
Faça o que quiser, vou ao embalo,
Curtindo o meu momento...

Estou em um parque de diversões,
Dentro da xícara que roda, roda, roda,
Inclino minha cabeça para trás,
Meus cabelos vão com o vento,
Assim como todos meus pensamentos...

Na casa maluca eu entro,
Nada faz sentido,
Mas tudo faz sentido!
É só olhar de cabeça para baixo

Meu momento é tudo ao mesmo tempo,
Como num parque de diversões,
Na roda gigante, estou em cima, estou embaixo.
No trem fantasma estou no meio dos monstros,
No castelo encantado estou no meio das fadas,


Entro na montanha russa,
No topo caio desenfreadamente,
Abro os olhos e tudo passou,
Acabou de repente...

Estou aqui no meu momento,
E só penso o que quero...
As pessoas que amo,
Carrego no pensamento...
As que não amo,
Estão fora do meu parquinho...

No meu momento,
O que importa é o que penso,
Tudo o mais é nada,
No meu pensamento...

O que os outros pensam?
Para mim não faz  sentido
Pois estou mesmo preocupada
Com as coisas que realmente sinto,
E que são boas para mim


Neste momento,
Sentimentos ruins aqui não entram,
Não permito que entrem...
Estão fora, não me interessam,
Saiam logo, saiam depressa...

No picadeiro um palhaço,
Fazendo graça,
Da desgraça uma piada,
Do mundo, uma bola vermelha no seu nariz,
Da confusão, um jato de água,
De uma flor de plástico em seu paletó,
E em sua gravata um falso nó,

Gira mundo gira,
Que o mundo engana,
Faz da vida uma peça de teatro improvisada,
Fazendo o que era tudo ser nada.

O que mesmo importa,
É o meu momento,
E vou transformar todos em bolas de sabão,
Do meu parque de diversão...

domingo, 20 de novembro de 2011

Achei na agenda... (Cinco)




Você



Dentro dos teus olhos posso ver o mar,
Ele é tão azul como o céu,
Nos teus olhos vejo o brilho das estrelas,
Você nada diz, pois não precisa...
Teus olhos me envolvem,
Do mesmo modo que os teus braços o fazem...
Sei que posso te ver através dos seus olhos,
Vejo sua alma, você é belo,
Você me deixa tonta,
Só consigo dizer sim, nunca não...
Você surgiu na minha vida tão de repente,
Eu não esperava,
E você me surpreendeu,
Envolvendo-me nas suas ondas,
Porque você veio agora?
Agora que não posso te amar...
Deus, porque fez isso comigo?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mentirosos Inconscientes!







Mentirosos Inconscientes



Engraçado, muito engraçado, os "mentirosos inconscientes"! Sim, os mentirosos inconscientes são aqueles que mentem, e depois acreditam na própria mentira, tornando-a verdade e então, passando para frente para aos menos desavisados como verdade. Seria engraçado se não fosse trágico! A "verdade", que na verdade é uma mentira, inventada, acreditada, fundamentada é difundida  por aí, pelos próprios lobos vestidos de cordeiros. Por isso que existe essa expressão: “- É um lobo vestido de cordeiro". É mesmo, está cheio de lobos que até se acham cordeiros... Até acredito que eles já perderam a consciência de suas mentiras, contaram tantas vezes a própria história inventada que passaram a acreditar nelas e para outras pessoas até se transformaram em "Santos". Até parece! O pior é, quando escutam a verdade, esta entra pelos ouvidos deles e soam como  mentiras, ficam revoltados, querem justiça para suas mentiras! É um paradoxo, mas é verdade... Pode alguém querer justiça por suas próprias mentiras? Sim, pode. Eu como neurologista, acredito ser um problema neurológico ou psiquiátrico. Na verdade, uma pessoa que inventa uma mentira e passa acreditar nela ou é cruel, ou realmente doente. Se for doença tem que ser tratada. Agora com qual remédio? Antipsicóticos? Eletroconvulsoterapia? Bom, isso é com a psiquiatria. O pior é como levar essa pessoa no psiquiatra se ela acredita na própria mentira! É difícil... Nem amarrados... Estou cansada de atender pessoas assim, familiares desesperados... O pior é quando mais de um mentiroso inconsciente se unem, neste caso não tem jeito mesmo, é sair correndo...   
Estou lendo um livro assim de um autor português. O moço está doente, mas nem ele sabe sua loucura já ultrapassou seu entendimento, ele mente e logo em seguida toma sua mentira como verdade. Às pessoas lhe dizem a verdade, mas ele não acredita, e continua enganando os desavisados, fazendo-os de suas vítimas. Ao mesmo tempo da pena do personagem, porque ele está ali, alimentando inconscientemente suas mentiras... Ele acredita mesmo na própria mentira e ainda sofre. Será por conveniência? Saímos fazendo besteiras por aí, temos a consciência disso e então mudamos a história a nosso favor. Se for consciente isso se chama maldade, se for inconsciente isso se chama doença. Conforme o desenrolar da situação o mentiroso consciente pode até ser dar bem, mas se existir mesmo Deus, no final, o cidadão vai ter que prestar contas, e aí, não sei não... Quem sabe fiquem ardendo no fogo do inferno, ou talvez como Jesus diz: na casa do meu pai existem várias moradas. Ele  vai morar onde for seu lugar e isso não nos compete. Agora o mentiroso inconsciente pode estar mesmo com alguma disfunção neuronal e Deus terá piedade. Como é difícil distinguir um do outro, o bom mesmo é ter a sorte de nunca se deparar com um deles, mas se isso acontecer a melhor coisa é rezar para a pessoa acordar desse surto ou que pense no calor do inferno e trate de se consertar antes que seja tarde demais... Como diz na Bíblia, a morte pode chegar repentinamente como um ladrão, e talvez não dê tempo de tirar a fantasia de cordeirinho, mostrar a cara de lobo e pedir perdão...

Meu Amor!



Amor


Ah meu amor não me canso de dizer
Quanta saudade eu sinto de ti!
Pego meu celular quero te ligar,
O seu número e nome ainda estão gravados,
Não, não posso apagar,
Não consigo apagar, não quero apagar,
Mesmo que nunca mais possa te ligar,
Para sempre estarão lá...
Adoraria ver de novo seu sorriso,
Mas fecho os olhos e então consigo te ver,
Vemos nós dois juntos, felizes, andando pelas ruas,
a pé, de moto, de carro...
Fazíamos piada de tudo,
Juntos, éramos a própria felicidade,
Eu sei que nosso amor nunca irá morrer,
Como você dizia,
A distância do físico não é  a mesma do coração,
E isso nós sabíamos bem,
E mesmo quando a vida
Contra nossa vontade nos separava,
Estávamos sempre juntos,
Tínhamos o entendimento,
Que nossos corações batiam no mesmo ritmo,
Que nossos pensamentos caminhavam lado a lado,
E era questão de algum tempo para nos encontrarmos fisicamente,
Mas espiritualmente nunca, nunca nos separamos,
E nunca iremos nos separar,
E onde você estiver,
Tenho a certeza que estará fazendo o que pode por mim,
E eu aqui por você...
Nosso amor ainda vive, e você sabe disso...
Estaremos sempre unidos pelo mais puro e verdadeiro
Sentimento de amor
Sua "falsa" ausência e "falso" silêncio,
Faz tudo ter mais sentido
Faz-nos entender porque Deus quis assim...
Só assim poderíamos ser livres
De toda maldade humana que nos envolveram...
Livres,
Só assim conseguiremos seguir juntos,
Você aí, eu aqui, longe, porém mais pertos do que nunca,
Seremos invencíveis para sempre...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Clarice Lispector no Facebook







Clarice Lispector




Adoro consultar as frases da Clarice Lispector no Facebook. Identifico-me com ela, por isso fui querer saber da vida dela. Procurei e encontrei sua biografia, não é uma história de "mar e rosas", muito longe disso, uma história sofrida, com muito aprendizado, deve ter tido seus momentos de felicidade como todo mundo, mas longe de ser uma vida de felicidades. Não acredito nas pessoas que dizem que são felizes, que vivem uma felicidade sem fim, todos os dias de suas vidas... Mentira! Pura Mentira! E ainda colocam no facebook que estão num mar de rosas, devem estar é num mar de espinhos, porque quem está feliz não fica anunciando aos quatro ventos... Porque felicidade é igual a um beija-flor beijando uma flor, se fizer muito barulho ele foge...  Quem está feliz nem diz para não espantar a felicidade, para não atiçar os olhos dos invejosos. Felicidade continua não existe! Quem diz para mim que vive vinte e quatro horas por dia feliz é o mesmo que dizer que não dorme nunca, que toca uma sonata sem fim... Felicidade sem fim é hipocrisia! Se Deus quisesse que fossemos felizes o tempo inteiro, não teria inventado a tristeza, a doença, a saudade, a morte, a pobreza e etc. A Clarice soube bem o que é felicidade, amizade, tristeza, saudade, sentimento de culpa, separação, saúde, doença, aceitação, loucura, guerra, morte, e viveu o amor de mãe, o amor não correspondido, o amor da amizade, o amor ao próximo e o amor pelo país em que viveu.  Ela nasceu em 10 de dezembro de 1920 na Ucrânia. Se estivesse viva, hoje teria 90 anos, mas morreu um dia antes de completar 57 anos de idade em 9 de dezembro de 1977 no Rio de Janeiro, vítima de um câncer inoperável de ovário. Até a manhã de seu falecimento, mesmo sobre sedativos, Clarice ainda ditava frases para a amiga Olga Borelli. Era de origem judaica, chamava-se Haia Pinkhasovna Lispector.  Chegou ao Brasil com a família devido à perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa quando tinha dois meses de idade. Sempre que questionada sobre sua nacionalidade, Clarice afirmava não ter nenhuma ligação com a Ucrânia. Dizia: - "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" - e que sua verdadeira pátria era o Brasil. Por iniciativa do seu pai seu nome foi mudado para Clarice. Quando tinha nove anos de idade, sua mãe morreu após vários anos sofrendo com as consequências da sífilis, supostamente contraída por conta de um estupro sofrido durante a Guerra Civil Russa, enquanto a família ainda estava na Ucrânia. Clarice sofreu com a morte da mãe, e muitos de seus textos refletem o que sentia e figuras de milagres que salvariam sua mãe.
Quando tinha 15 anos, seu pai se decidiu mudar de Recife para o Rio de Janeiro. Clarice estudou em uma escola primária na Tijuca, até ir para o curso preparatório para a Faculdade de Direito. Foi aceita para a Escola de Direito na então Universidade do Brasil em 1939. Clarice se viu frustrada com muitas das teorias ensinadas no curso, e descobriu um escape: a literatura. Em 25 de maio de 1940, com apenas 19 anos, publicou seu primeiro conto "Triunfo" na Revista Pan.
Após uma cirurgia simples para a retirada de vesícula biliar, seu pai Pedro, morre de complicações do procedimento. Clarice fica arrasada com as circunstâncias da morte tão inesperada, e como consequência Clarice se afasta da religião judaica.  Quando trabalhava na Agência Nacional, responsável por distribuir notícias aos jornais e emissoras de rádio da época, conheceu o escritor Lúcio Cardoso, por quem se apaixonou e não foi correspondida, pois Lúcio era homossexual e de quem se tornou amiga íntima.
Em 1943, no mesmo ano de sua formatura, casou-se com o colega de turma Maury Gurgel Valente, futuro pai de seus dois filhos. Maury foi aprovado no concurso de admissão na carreira diplomática, e passou a fazer parte do quadro do Ministério das Relações Exteriores. Em sua primeira viagem como esposa de diplomata, Clarice morou na Itália onde serviu durante a Segunda Guerra Mundial como assistente voluntária junto ao corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira. Ela também morou em países como Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, países para onde Maury foi escalado. Apesar disso, sempre falou em suas cartas a amigos e irmãs como sentia falta do Brasil.
Em 10 de agosto de 1948, nasce seu primeiro filho, Pedro, em Berna na Suíça. Quando criança Pedro se destacava por sua facilidade de aprendizado, porém na adolescência ao foi diagnosticado com esquizofrenia devido à sua falta de atenção e agitação. Clarice se sentia de certa forma culpada pela doença do filho, e teve dificuldades para lidar com a situação.
Em 10 de fevereiro de1953, nasce Paulo, o segundo filho de Clarice e Maury, em Washington, nos Estados Unidos.
Em 1959 se separou do marido que ficou na Europa e voltou permanentemente ao Rio de Janeiro com seus filhos, morando no Leme.
Provoca um incêndio ao dormir com um cigarro acesso em 14 de Setembro de1966, seu quarto fica destruído e a escritora é hospitalizada entre a vida e a morte por três dias. Sua mão direita é quase amputada devido aos ferimentos, e depois de passado o risco de morte, ainda ficou hospitalizada por dois meses. A obra de Clarice ultrapassa qualquer tentativa de classificação, assim como sua vida ultrapassa qualquer vida simplesmente vivida. Por isso quando Clarice diz alguma coisa, vem do fundo da alma de quem realmente viveu as alegrias e agruras da vida. As palavras de Clarice são as próprias batidas de seu coração... 

sábado, 12 de novembro de 2011

Remédio endógeno e Pôr do Sol



Remédio Endógeno e Pôr do Sol


O melhor remédio se chama "você mesmo" e está dentro de cada um de nós. Só que é difícil encontrar o remédio dentro de nós, porque para isso temos que olhar para dentro e não para fora... O mundo hoje está muito visual, e estamos perdendo os outros sentidos, como já está provado cientificamente em relação a olfação. Não paramos nem para sentir o cheiro de uma rosa. Estamos sempre com pressa, engolimos o café da manhã, o almoço, nem paramos para sentir um cheirinho do refogado, de uma fruta... Tudo é visual, no futuro será que só enxergaremos? Não sentiremos nem cheiro, nem ouviremos mais? Também porque ninguém quer parar para escutar a si próprio e aos outros, todo mundo só quer falar, falar, falar... Não, não perderemos a audição porque mesmo sem querer escutamos, escutamos, escutamos e escutamos cada coisa que Deus me livre! E o tato? Com a internet, acredito que os receptores especializados do tato também serão modificados, porque a maioria do tempo, estamos teclando, teclando, teclando e mais nada.  O tato vai se restringir nas pontas dos dedos. Enfim, o remédio para a felicidade é ver tudo como se fosse a primeira e última vez. É só ter isso em mente. É comer uma fruta favorita e a saborear como se fosse a primeira e última vez que a estamos comendo. É sempre ver a pessoa amada como fosse a primeira vez. O Pequeno Príncipe via milhares de vezes o pôr do sol como se fosse a última vez que o veria, e quanto mais o via, mais o queria ver... É como o Rubem Alves diz: Carpe Diem, Tempus fugitis! Aproveita o momento, o tempo foge! Todo momento deve ser digno de ser vivido como se fosse o último momento de nossas vidas, porque ele pode ser o último pôr do sol visto...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Paciente Onze





Salmos na parede do quarto



Era a penúltima paciente dos quarenta e três que atendi hoje. Já não lembro seu nome, era uma senhora de aproximadamente setenta e poucos anos. Entrou se queixando de dor nos ombros, do ombro passou para o peito, do peito passou para as pernas e ia continuar, mas já tinha me perdido nas dores dela e pedi para ela parar para eu poder lembrar onde era a primeira dor... E então, depois de me falar de todas as dores, ela disse que na verdade não era pelas dores que ela estava lá, mas sim por causa das visões. Eu tive que frear meu pensamento em segundos e sair da sequência das dores para as visões.  Meu pensamento deu uma volta de cento e oitenta graus e falei: - Mas como, que visões? Ao mesmo tempo fui abrindo seu prontuário recheado de folhas de evolução de várias especialidades, ortopedia, reumatologia, oftalmologia, endócrino e minhas evoluções... Enquanto eu folheava o prontuário ela ia me falando das visões: - Doutora, eu sou diabética, tenho glaucoma, e não enxergo quase nada, mas quando eu deito para dormir começo a enxergar palavras e letras no teto do meu quarto e nas paredes. Essas palavras são passagens dos Salmos da Bíblia, várias frases de aconselhamento, eu fico lendo na parede e no teto as palavras e frases passando e passando, mas o pior é que não consigo dormir... A irmã da paciente estava do lado, e então perguntei se ela morava junto com ela, a irmã disse que sim e complementou: - Doutora, eu não consigo entender se ela tem glaucoma e está quase cega, como ela pode ver isso e ler tudo isso? Ela diz que vê tudo isso lá no quarto dela. Em seguida a paciente começou a descrever um homem que tinha visto branco, gordo de blusa azul, relógio grande no pulso e por aí ia, e ia... Quando achei uma anotação de um eletroencefalograma alterado na sua evolução. Expliquei que ela tinha um foco irritativo no cérebro e por isso tinha essas alucinações visuais. Perguntei se ela estava tomando o medicamento que eu havia prescrito e ela começou a falar uma lista de remédios, remédios e remédios e nada do remédio que eu prescrevi... Eu tive que falar para ela parar de falar a lista de remédios e perguntar diretamente se ela tomava o remédio que eu havia prescrito. Então ela disse: Ah! Esse! É! Tomo, tomo...! Na verdade fiquei sem saber se ela estava ou não fazendo o tratamento que eu havia recomendado... Mas ela queria continuar falando das visões, e palavras e salmos etc...  Fiquei pensando até que ponto nossos sentidos podem estar transmitindo uma atividade elétrica cerebral normal ou alterada? Mesmo que essa paciente tivesse um eletroencefalograma normal, eu não poderia afastar foco irritativo no sistema nervoso central. Agora me pergunto se todas as pessoas que viram santos conversaram com espíritos, com Deus, teriam um foco irritativo no cérebro? Será? Tudo é fruto de um distúrbio elétrico cerebral? Não sei, realmente não sei... Quantas histórias estranhas que escutamos em toda parte do mundo, histórias antigas que quase se perderam no tempo... Alucinações? Realidade? Enfim, pedi uma dosagem sérica do anticonvulsivante que a paciente está tomando, associei outra medicação anticonvulsivante. Vamos ver se ela está tomando a medicação direitinha, se as visões desaparecem e ela se convença que não está vendo coisas do céu, do além etc. Às vezes ser neurologista é não é fácil...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Lágrimas em palavras



Alquimia


E foi assim que realizei minha alquimia. Não, não transformei metal inferior em ouro. Transformei lágrimas de saudades que a ausência dele me deixou em palavras. Não sabia mais o que fazer, a saudade era demais presa no meu peito. Se gritasse tentando a expulsar talvez me chamasse de louca. As lágrimas não conseguiam mais escorrer pelo meu rosto, escorriam para dentro do meu coração. Foi então que a transformação ocorreu, lágrimas se transformaram em palavras. Alquimia! A ideia da transformação de metais em ouro seria uma metáfora de mudança de consciência. A tristeza que essas lágrimas causavam não podia mais ficar aprisionada dentro de mim, tive que por para fora, do lado de fora virou palavras... Cada palavra uma lágrima, cada lágrima uma saudade, e a tristeza foi evaporando, virou nuvem, e então, transformou-se em chuva... Dizem que ostra feliz não faz pérola. É preciso de um grão de areia no seu interior. O grão de areia passa a incomodar e a ostra começa a envolver o grão de areia o transformando em pérola. Aprendi isto com um dos meus escritores favoritos, Rubem Alves. Ele escreveu um livro no qual o título é: "Ostra feliz não faz pérola". Digo o mesmo!
Estou feliz com minha alquimia! Não que minhas palavras sejam pérolas para todos, mas são pérolas para mim! Todas as pérolas são presentes do meu amor ausente, e todos os dias ele me cobre de pérolas. Eu e ele transformamos ausência e saudade em pérolas. Sinto-me a pessoa mais rica deste mundo! Alquimia... 



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sinto muito!




Sinto muito!



Sinto muito por você que não vai mudar! A todos que não mudarão que não vão parar para pensar e que são pedras, aliás, até a pedra muda, então não sei, seja lá como for a mudança faz parte da vida, do aprendizado do ser humano. Eu também pensei que não fosse mudar, a vida me pregou uma peça, mudei! Existem valores morais, estes não dão para serem mudados, fazem parte de um ser humano íntegro. O que é moral? Segundo o dicionário Aurélio é um conjunto de regras de conduta consideradas como válidas e éticas (aquilo que pertence ao nosso caráter) quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada, ou seja, regras estabelecidas e aceitas pelas comunidades humanas durante determinados períodos de tempo. A ética busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano. Resumindo, o que é ter moral e ser ético? Simples, "não faça para o outro o que você não gostaria que fizessem com você". Quando você for tomar uma atitude durante uma situação na sua vida e que envolvam terceiros pense isto antes, e logo terá a resposta. Agora se você quer continuar fazendo o que não gostaria que fizessem com você e não vai mudar é uma pena, e sua opinião perante os outros não vale nada! 
O que pensamos de uma pessoa é um conjunto de valores éticos e morais que esta opera durante a convivência com a mesma. Agora, se você gosta de rock in roll hoje, e pagode amanhã, qual é o problema? Se você gosta de brigadeiro e amanhã de cajuzinho qual é o problema? Se não apreciava artes, música clássica e hoje aprecia, mudou? Ótimo! Você mudou, para melhor! É disso que precisamos para um mundo melhor, de mudanças positivas!
Não importo com o que pensem de mim, importo mesmo é com que eu penso de mim. Se eu sou uma pessoa íntegra e tenho moral, respeito meu semelhante, o que penso do mundo e das pessoas é simplesmente a análise que fiz a partir do amor que dei e recebi, pois é o amor ao próximo, a natureza, a si mesmo é que rege o mundo. Se você agir com amor com certeza está no caminho certo, e quando fizerem o contrário com você logo irás perceber... E como devemos nos amar, se isso acontecer, o máximo que podemos fazer é "sentir muito" e seguir nosso caminho... A opinião de quem nos desrespeita, não nos trata com dignidade e amor, não interessa! 



O sapo no paraíso





Além do Horizonte


Lembrei-me de um pedacinho da música do Roberto Carlos, composta por ele mesmo:

"Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito
Prá viver em paz
Onde eu possa encontrar
A natureza
Alegria e felicidade
Com certeza...
Lá nesse lugar
O amanhecer é lindo
Com flores festejando
Mais um dia que vem vindo...
Onde a gente pode
Se deitar no campo
Se amar na relva
Escutando o canto
Dos pássaros...
Aproveitar a tarde
Sem pensar na vida
Andar despreocupado
Sem saber a hora
De voltar...
Bronzear o corpo
Todo sem censura
Gozar a liberdade de uma vida
Sem frescura..."


Por isso amo o Roberto Carlos, tem coisa mais bonita para escrever? Escuto está música desde pequena no carro do meu pai. Será que é por isso que acho que a vida deveria ser um paraíso? Mas depois desses anos todos, exclui a letra final da música onde se fala de um "amor" para ir consigo ao paraíso que fica além do horizonte, dispenso essa parte. Dá para ir para o paraíso sozinho, ou com outros amores que não seja um amor por um homem, ou no caso de um homem, um amor por uma mulher. Podemos ir para o paraíso com nossos filhos, nossa família e nossos verdadeiros amigos. Foi por pensar assim que o Roberto ficou esperando sua amada para ir para o paraíso... Não sei se ele foi não posso dizer, não o conheço, só através das notícias da mídia, mas como os paparazzis não dão folga, acho que ele ainda não foi... Eu então, já até desisti...
Esses dias eu encontrei uma grande amiga, que também está solteira. Ela é linda, inteligente, legal, amorosa, eu não vejo nada de negativo nela, porém ela se queixou que estava sozinha coisa que eu já nem faço, pelo contrário, dou "graças à Deus"... Fomos tomar um café, eu, ela, minha irmã e meu futuro cunhado. Conversamos, conversamos, conversamos, trocamos várias ideias sobre o assunto, e para o meu espanto ela concluiu sem eu nem perguntar: - Lilian, você deve continuar mesmo sozinha! Sabe porque? Porque os namorados que tive eram loucos, mas eram bonzinhos, loucos do bem. Porém, os namorados que você arruma são loucos do mal, loucos e além do mais, maldosos... Não foi minha conclusão, foi dela que me conhece bem há anos. Fiquei parada pensando, pensando e por isso mesmo, para não correr mais riscos, prefiro ir para o paraíso só, pois o príncipe lá no paraíso provavelmente vai virar um sapo ou algo bem pior...

sábado, 5 de novembro de 2011

A casa



A casa


Que dia lindo! Como é bom acordar aqui, nesse pedacinho do céu! Realmente é uma casa muito engraçada. Não é aquela igual a letra de música "A casa" de Vinícius de Moraes:

"Era uma casa muito engraçada
não tinha teto não tinha nada
ninguém podia entrar nela não
porque na casa não tinha chão
ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
ninguém podia fazer xixi
porque pinico não tinha ali
Era uma casa muito engraçada
não tinha teto não tinha nada
ninguém podia entrar nela não
porque na casa não tinha chão
ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
ninguém podia fazer xixi
porque pinico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos número zero
Mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos número zero"

Acho que essa casa simbologicamente é assim, igual a casa do Vinícius, transmite tem muito esmero...
Fica aqui num cantinho do mundo, onde a paz ainda reina. Hoje é sábado, são quase onze da manhã, não escuto nenhum barulho, um silêncio total! Não que seja uma casa isolada no meio do mato. Fica numa rua, cheia de apartamentos. Na verdade essa casa é um apartamento, no quarto andar. Realmente é uma casa suspensa no ar, não estamos no chão, na terra...  Estamos aqui em cima! Pela janela vejo o céu e o silêncio continua... Já vez sol, agora as nuvens cinzentas chegaram e a chuva fina também... Vou até a janela para ver o que está acontecendo lá embaixo. Vejo a chuva caindo, ouço-a cair no chão: "pic, pic, pic", um avião passando e ouço seu barulho rasgando o céu e só... O bairro é antigo, cheio de velhinhos, eles andam de pijama na rua... Isso mesmo, e porque não? Aqui tem velhinho sim! O mundo é de todos! Um cachorro na janela como se fosse gente com as patas para fora apreciando a vista... Vários gatos passeiam soltos no clima da rua, não há estresse, tudo está em harmonia... Eles também moram aqui nessa rua. Eles são de cor preta e cinza. O silêncio continua, o sol voltou... A casa está aqui, não é uma casa nova, é uma casa antiga, tem histórias para contar, mas não sabemos quais... Podemos imaginar qualquer uma... Aqui, as pessoas deixam um pouco delas dentro da casa. Fica sempre alguma coisa. Há enfeites de barcos de madeira feitos à mão, provavelmente pessoas que gostam do mar como eu moraram aqui. Ficou até os sapatos, número pequeno... Quatros espalhados são bonitos! Ontem choveu, tinha um guarda-chuva pendurado na dispensa, andamos com ele por todo lugar. De quem será o guarda-chuva? Não sei? Por onde já terá andado? Não sei, mas passeou com a gente ontem por toda cidade...
A vida é linda mesmo! Quando se tem um minuto de silêncio, um pouquinho de paz para poder olhar o céu e escutar a chuva caindo no chão...     

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Supérfluos



Supérfluos



Estava pensando, quais as coisas que uma pessoa precisa para viver bem? Quero dizer, o que é supérfluo nas nossas vidas? Sempre que vou ao shopping e vejo alguma coisa para comprar eu sempre penso se estou realmente precisando daquilo ou não, e a resposta na maioria das vezes é "não". Então, porque temos que comprar? Para ficar na moda? Bobagem! Lembro então da música do "Titãs":

Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Oh! Oh! Oh!...

É a pura verdade... Vi um pijama bonito, alias, eram vários... Na loja havia com desenhos do Mickey, da Minie, do Snoopy, Mafalda, Hello Kitty até do Pinóquio... Dentro da loja parecia que eu estava num mundo encantado dos pijamas! Logo de início, minha vontade era de ter um pijama de cada personagem... Então parei e pensei: “Não, você tem que escolher um personagem, você não vai poder comprar todos os pijamas da loja”... Escolhi o do Snoopy, então olhei para ele, pensei, pensei, e lembrei-me dos pijamas que eu tenho lá em casa, e na verdade, eu não precisava de nenhum pijama!  Cheguei conclusão que eu não precisaria comprar nenhum pijama até o fim da minha vida! Todos os pijamas que tenho em casa são suficientes por mais vários e vários anos... Era supérfluo! Saí da loja sem nenhum pijama e feliz! Para quer comprar algo que na verdade não precisamos? Estamos presos ao consumismo, só queremos comprar e comprar coisas...  Não pensamos nos plásticos que não podem ser reciclados e que demoram milhares de anos para desaparecer da natureza... E vamos assim, trabalhando mais, para gastar mais, nos estressando mais para que? Para consumir coisas desnecessárias? De quantos sapatos precisaremos para uma vida? Minha avó morreu com 89 anos e só teve um sapato de festa, um vestido de lã, um brinco de ouro que está comigo, quer dizer ainda poderia usá-los nessa  década... Acho que vivemos em uma ditadura capitalista sem perceber ou percebendo e se deixando levar... Sim, estamos aqui, como doidos para comprar supérfluos, para que um possa mostrar ao outro que é mais elegante, quem tem o sapato da moda, quem tem a camisa riscada da moda, o relógio grande da moda verão, porque no inverno a moda era relógio pequeno... E o cinto então, saem os finos e entram os grossos, e vice e versa... São milhares de toneladas de lixos desnecessários poluindo o nosso planeta... Se deixássemos tudo isso para lá, e fossemos todos simples, aposto que nem ladrão existiria, porque todo nosso problema começa na comparação. Quando eu olho para o outro, invejo, e quero para mim.  Se todo mundo não ligasse mais para os supérfluos o dinheiro sobraria, o outro não te invejaria e não precisaria roubar para ficar semelhante... Seria uma paz, uma vida simples! Os índios viviam pelados, não acho que devemos andar pelados, mas acho que devemos frear esse consumismo sem fim... Isso tudo não leva a nada, devemos nos preocupar com o ser humano, com as verdades sublimes, com o que de fato nos interessa... Devemos "parar" e ver o que é importante para nossas vidas... Tenho certeza que gastamos nosso tempo e dinheiro com coisas desnecessárias, somos mesmos vítimas do capitalismo selvagem... Até quando?