sábado, 16 de fevereiro de 2013

Eu e o Mundo!






Eu e o Mundo!



O mundo girando,
E eu  aqui às vezes parada,
Gente morrendo,
E eu aqui ó sabendo...
Gente com fome,
E eu aqui comendo...
Gente cansada,
E eu aqui às vezes fazendo nada...
Sem rumo, gente andando,
E eu só sonhando...
Um carinho apenas gente pedindo,
E eu aqui recusando...
O mundo precisando de gente,
De gente que queria construir um mundo melhor...
Se todos colaborassem, poderíamos construí-lo agora no presente,
E aguardar um novo futuro, mais colorido, mais bonito de ser vivido! 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Coração Atrapalhado






Coração Atrapalhado!


Eu tenho um coração atrapalhado,
Sensível, louco, descompassado,
Um coração bom e generoso,
Mas muito melindroso.







terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Dia de Sonho







Dia de Sonho



Quero um dia de sonho,
Para antes do sol nascer,
Colher gotas de orvalho,
E dar de beber na mão,
Ao primeiro  pássaro que vier,
Cantando uma linda canção!


Quero um dia de sonho,
Para andar nua na chuva,
Pisar em folhas de canela,
E sentir seu cheiro doce e único,
E como fosse uma gazela,
Correr, por aí, toda cheia de graça e pura!


Quero um dia de sonho,
Para virar uma princesa a tarde,
Apanhar flores no campo,
E com elas me enfeitar,
E pedir a José, o Santo,
Que você seja sempre meu par!

Quero um dia de sonho,
Para me agarrar a primeira nuvem que passar,
Sair voando leve como criança,
E lá do alto jogar na Terra poeira de esperança,
E pedir a Deus que o mundo comece a se amar!


Quero um dia de sonho,
Para nunca mais sonhar....


Lilian Regina Gonçalves
Data: 10/08/1983

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Dona Cera e a Menina Corajosa!





Dona Cera e a Menina Corajosa



A história que vou contar é uma história real muito interessante! Não sei se inédita, mas é trágica e cômica ao mesmo tempo!
Era uma vez uma menininha de sete anos de idade, branquinha, olhos azuis, caelos castanhos e longos, levemente gordinha e muito feliz! A tal da menina, era viva demais, tudo queria saber e observar! Ela já se sentia adulta! Apesar de passar todo o tempo livre na calçada com a molecada, andando de bicicletas e patins, pulando amarelinha, jogando bola, empinando papagaio, tomando banho de chuva, subindo em teclados, procurando ninhos de largatixa, ela adorava estudar. Sim, essa menininha era eu!
Adiandada meio ano na escola por fazer aniversário  no meio do ano, a menina estava lá, no antigo segundo ano da grade escolar. A professora era mesmo a "Dona Cera". Não sei se seu nome era Cera mesmo ou um apelido, mas era conhecida como "dona Cera" e ponto final! Diziam ser uma boa professora, mas brava, nada muito boazinha... A medida que as aulas começaram fui notando que a dona Cera era toda sorrisos para a filha da diretora da nossa escola. Lembro que a menina era aplicada, boa aluna, mas a dona Cera exagerou! Tudo era a tal da menina, seu nome era Regina. Toda atenção da professora era para a Regina, filha da diretora. Nós, os outros alunos, começamos a perceber a diferença que era notória. Parecíamos não exitir na sala de aula! Ficávamos lá vendo a professora agradando a filha da diretora, num show de desigualdade comunal! Aprendi que tudo não passava de jogos de interesse. Era melhor tratar bem e agradar a filha da professora da escola porque nunca se sabe quando vamos precisar de um favorzinho ou até mesmo uma posição melhor na escola.
Mas a tal da menininha estava indignada, não, não, isso não estava certo!  Foi quando certa hora, a badalação foi demais, olhei para o colega do lado e ele estava  percebendo a mesma coisa. E um grupinho de crianças foi se formando e começamos discutir a desigualdade que estávamos vendo todos os dias na frente dos nossos olhos!
Não sei como as coisas evoluíram mas decidimos escrever uma carta para a professora, a dona Cera, contando da nossa insatisfação, e daquela desigualdade que quando adulta eu viria a saber que o mundo está cheio disso...
Ficou combinado que eu escreveria a carta e entregaria em mãos para a professora. Todos apoiaram, seria o fim daquele jogo de interesses e quem sabe a professora se importasse com nós também, o filho do pedreiro, o filho do feirante, a filha da dona de casa, a filha da empregada doméstica etc. Fui para casa e com sete anos de idade redigi uma carta, com toda a gramática que tinha aprendido até então... Com certeza, a carta estava cheia de palavras escrita erradas e nem se fala da gramática... Eu só queria resolver essa desigualdade desnecessária e humilhante. 
Terminhada a carta, ainda tentei lê-la para minha mãe que estava no tanque lavando roupa e não deu importância nenhuma para aquilo, carta escrita por uma menininha!!! O dia amanheceu fui para a  escola com a importante carta! Chegando lá, todos perguntaram sobre a carta e eu disse: " - A carta está pronta, está aqui! É hoje, o dia é hoje! Vamos entregar a carta!".
Formamos a fila para subir para a sala de aula, meninas de um lado, meninos do outro, os mais baixos de estatura na frente, os mais altos atrás, professora na frente coordenando. As mães ficavam olhando as crianças subirem, quando a dona Cera viu a minha mãe, logo disse: "- A Lilian está fogo!". Ela havia percebido, que havia uma ovelha que não queria só pastar sem pensar...
Então, chegou a hora, todos em suas carteiras, sentados, levantei a mão e disse que precisava entregar uma carta para ela! Toda cheia de formalidades pediu para a menininha vir até a mesa dela entregar a carta. Levantei com toda coragem, todos em silêncio entreguei a carta que explicava tudo o que sentíamos sobre aquela forma de sermos tratados como se na sala só existisse uma pessoa... 
Ela pegou a carta. Eu voltei para o meu lugar. A dona Cera abriu minha carta e começou a ler em voz alta para toda a classe com todos os meus erros de português... E como haviam erros! Eu só tinha sete anos! Lembro desse dia até hoje, e até pensei na hora: "- Porque errei tanto! Eu li várias vezes essa carta! Corrigi tudo!". Tarde demais, e ela lia e lia conforme o que estava escrito! Não,eu não chorei, eu sabia que tinha feito o melhor que podia naquela época. Ninguém riu, a classe se manteve num silêncio profundo, a "coisa" era séria mesmo!
Ela se dirigiu para a classe e perguntou quem eram os outros alunos que eu me referia na carta que estavam descontentes com sua maneira de agir. Mas, ninguém, ninguém levantou a mão! Todos os meus amigos e amigas que estavam juntos na "ação" deram para trás... Eu estava sozinha... Mas não tinha medo, estava aliviada!Foi então, que ela se dirigiu até mim, e estendeu sua mão para que eu apertasse a dela e tudo ficasse em paz! Hesitei alguns minutos, não, eu não queria dar a mão para ela... Ela ficou alguns segundos com a mão esticada no ar e então, resolvi estender minha mão e apertar a mão dela! 
Eu não me lembro como decorreu o final do ano na escola, mas acho que deu resultado. Agora desse dia da carta eu lembro como se fosse hoje...   



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Saúde Mental - Rubem Alves. Recomendo esta crônica como médica neurologista!







Eu, como médica neurologista recomendo essa crônica do escritor e filósofo mineiro, o meu predileto: Rubem Alves.


Crônica de Rubem Alves:


Saúde Mental



 " Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.  Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília meireles, Maiakóvski. E logo me assustei. Nietzche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gohg matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão cônica. Maiakóvski suicidou-se. Todas elas pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as ideias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientesnao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem-unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa.
Não, saúde mental eles não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Somos muito parecidos com computadores. O funcionamento do computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware  é constituído  por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituido por entidades espirituais - símbolos que formam os programas e ficam gravados na memória do computador.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. Assim como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais impostante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos do hardware ou por defeitos do software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco, há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software, há que se fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata de pertubações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto,  que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza seja tão grande que o hardware não a comporte e se arrebente de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
Dados esses pressupostos teóricos, estamos  agora em condições  de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias.
Opte por um soft modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. E muito cuidado com a música! Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o software pensará sempre coisas iguais. E há os programas  obrigatórios de televisão, especialmente no vazio dos domingos.
Seguindo essa receita, você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas, como você cultivou a insensibilidade, não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.

Ninguém!






Ninguém!


Ninguém é tão forte,
Que nunca tenha chorado!
Ninguém é tão fraco,
Que nunca tenha vencido!
Ninguém é tão suficiente,
Para nunca ser ajudado!
Ninguém é tão inválido,
Que nunca tenha contribuído!
Ninguém é tão sábio,
Que nunca tenha errado!
Ninguém é tão corajoso,
Que nunca teve medo!
Ninguém é tão medroso,
Que nunca teve coragem!


Lilian 06/07/1983