quarta-feira, 19 de abril de 2017

Mundo





Não, não estou entendendo o que está acontecendo por aqui, nesse planeta Terra. Só posso dizer, como médica, que nós estamos no caminho errado. Fazer "guerra" no século XXI é mostrar que como homens não evoluímos nada... Eu fico triste, fico triste de verdade, porque enquanto estou tentando melhorar um braço ou uma perna de uma criança com Paralisia Cerebral, tem um louco atirando bombas em cima de crianças, idosos, pessoas que têm um coração... Eu poderia dizer que estou fazendo a minha parte e dar costas para isso, mas não consigo! Desanimo-me com com a história atual da humanidade. Ainda mais quando seu filho de dez anos começa a chorar sem parar, e fica uma hora para dizer para mim o que está acontecendo, e vejo que nos seus olhos o choro não é falsa, a dor no peito dele é muita. E depois de muito tempo consigo que ele fale o motivo, já pensando em tudo que há de ruim nesse mundo, e ele diz que os mocinhos da banda coreana (Coréia do Sul) que ele gosta vão para a guerra! Ai eu fico pensando, a Coreia do Sul já está em guerra, que guerra é essa? Já estamos em guerra? Então, eu tento acalmá-lo dizendo que vai ficar tudo bem, que os mocinhos não vão morrer, nesse ato imbecil, mas ele chora... Ele não consegue entender que história é essa, de guerra, de morrer na guerra. Vejo nos olhinhos dele, vermelhos de chorar, que a dor na alma dele é séria. Pergunto-lhe, onde ele havia ouvido isso, qual site, e descubro que serviço militar obrigatório de quando os rapazes fazem dezoito anos. Disse-lhe que aqui também tem o serviço militar e que os homens tem que se alistar com dezoito anos, ele fica em choque! Não sabia! E vejo a pureza de uma criança! Ele ficou indignado, perplexo, como se isso fosse um absurdo de existir, e deve ser, porque as crianças são puras, ninguém pintaram seus sentidos... Pensei no poema de Fernando Pessoa que temos que ir tirando as tintas que pintaram (o mundo, os adultos, a escola, a mídia) os nossos sentidos, é como se fosse uma casa com sua pintura original, e vem um e pinta de uma cor, vem outro e pinta de outra cor, e assim sucessivamente... Quando chega num determinado tempo da vida, nem sabemos mais qual era nossa pintura original; e então, para os que despertam, só nos restam ir raspando as "tintas" com a qual  pintaram  nossos sentidos... É triste...       

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Joelhos Ralados






           Acho aquela frase de não sei quem é que diz: "- Queria voltar para época em que minha única preocupação eram meus joelhos ralados!". Sim eu queria voltar no tempo, queria voltar para minha rotina de infância. Ir para escola, tomar aquele achocolatado na hora do recreio, o qual nunca, nunca mas tomei igual por não encontrar nada parecido... Arrumar minha bicicleta com buzina, espelhinho, plastiquinhos coloridos nas rodas, e sair andando sem medo de nada pelo bairro até a noite...
          Poderia sair de patins por aí, pelas calçadas, no chão liso em frente à Igreja, no salão da igreja, por aí... Faria muitos papagaios coloridos, perfeitos, com rabiola longa, tão perfeitos que voavam longe, muito longe. Eu sabia tudo de papagaios, os meninos vizinhos da rua haviam me ensinado a fazer um papagaio profissional daqueles que voam longe...
          Ai que saudades, de uma vida que nunca, nunca, nunca, será igual... Eu era feliz, o mundo não havia me pintado os sentidos mais genuínos de um ser humano na infância... Fico pensando nos dias de hoje, naquelas crianças da Síria, da Palestina, dos lugares onde há guerra, que triste terem a infância roubada por adultos doentes. Nem o meu filho teve a infância que tive, e não estamos, ou achamos que não na guerra...
          Eu fico triste, muito triste com esse mundo atual, e ver que o dinheiro, poder, ganância fala mais alto para alguns seres humanos do que a própria vida...
Muita coisa mudou, mas não sei se estamos evoluindo, não sei o que a humanidade está fazendo com o planeta.
          Só tenho a dizer a criança que eu era: " - Sinto muito, as coisas mudaram para pior...".

LRG, 06/04/2017