segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Acordar....




 
 
Acordar



Acordei! Não acordei em São Paulo! Acordei aqui em um pedacinho de paraíso na terra. Que paz! Que silêncio digno de uma manhã tranquila... É segunda-feira, véspera de feriado, o sol já nasceu e já se escondeu... Ontem, consegui ver as estrelas no céu! Daqui dá para ver melhor, muitas estrelas brilhando, lindo! Em São Paulo nunca consigo ver as estrelas desse jeito... Serão meus olhos? Será por causa do céu todo poluído? Será do clima? Não sei, mas aqui o céu transmite mais paz, parece que está mais perto, nos sentimos mais leves, mais calmos... Ontem, na hora do almoço, um cheirinho de sardinha assada, melhor do que sentir cheiro de fumaça de caminhão! Está todo mundo sossegado, sentados em um grande gramado... As crianças brincam livremente, os adultos estão lá, cada um fazendo alguma coisa, passeando, lendo, olhando as crianças, namorando, andando de bicicleta, patins ou fazendo nada, curtindo mesmo o momento... Há casais de jovens, meia idade e velhinhos, todos juntos em harmonia! Todos lindos, cada um no seu tempo... Eles não perderam a esperança, estão todos arrumados, mesmo os mais simples estão bem vestidos, cuidados, tranquilos...
Logo mais, estarei na serra, no meio das montanhas, onde as estrelas estão mais perto ainda, onde o ar é mais puro... Entre a modernidade e antiguidade há um equilíbrio, nada é feio, tudo é bonito! Que felicidade! Que dia colorido!
Pensando nas crianças, nos jovens, nos adultos, nos velhinhos, nas construções antigas e modernas, nas comidas antigas e modernas, parece que aqui não existe passado, presente e futuro, o tempo é um só! Isso nos dá mais segurança, uma paz interior, uma visão melhor da vida e da existência... Gosto de estar aqui! Consigo ver tudo como uma coisa só, e não só em partes... Aqui, Deus é um só...



sábado, 29 de outubro de 2011

Achei na Agenda... (Quatro)





Achei na agenda (IV)...


Uma página cheia de recortes de revistas com palavras e frases. Achei interessante escrever aqui algumas destas palavras e frases. A agenda é de 1984...

Viva melhor, boa noite, relaxe, música e fantasia, balé, férias, São Paulo, Honda, Paris, New York, sports, jeans, Hollywood, Wrangler, provocante, Snoopy,

Viva a mulher, 
O importante é ter Charm,
A moda agora é ultraleve,
Meu coração pula de amor!
Tentar de novo, com um antigo amor.
Já pensou?
Ao sucesso
Shot, chocolate ao leite com amendoim.
Mach, chocolate com leite e amendoim  (A fonte da vida!), Nestlé
Cad-Lac, Lacta
Você é um caminho cheinho de luz!
Amor, doce de amendoim amor,
Plets, goma de mascar.
Os rapazes do vôlei cumpriram a promessa (William, Xandô, Montanaro, Amauri, maracanã e ao técnico Brunoro).
Delicado, bala de goma.
Desvende esta trama.
Memórias tocantes de uma época agitada.
Signo de Câncer: Sonhador, romântico, vulnerável, seu humor varia com as fases da lua.
Escort,
Sorvete, Kibon, Carioca.
Puck, chocolate ao leite com flocos de arroz,
1984, George Orwell
A história se repete...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Saudades de mim...






Saudades de mim


Sim, estou com saudades de mim, tudo porque hoje encontrei uma agenda antiga, de 1984, e a lendo percebi que não sou mais a mesma pessoa. Queria saber onde está aquela pessoa que escreveu na agenda... Onde? Não sei, não sei onde foi parar... Fiquei perplexa, eu era alegre, brincava com as palavras, fazia piadas, e acreditava mesmo em Deus sem um pingo de dúvida... Porém, a vida me transformou como descreve tão bem Fernando Pessoa:

"Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras"


Foi isso mesmo, pintaram meus sentidos! E não creio que para melhor, mas sim para pior... Seria ridículo dizer que foi só comigo que isso aconteceu claro que não, eu sei... Azar? Não sei, realmente não sei, mas poderia ser pior, como diz aquele ditado: " Nada é tão ruim que não possa piorar". Dá até medo de dizer alguma coisa... Melhor dizer que tudo é lindo, maravilhoso, como mostram os perfis das pessoas nas redes sociais... Dá até medo de Deus achar que não somos agradecidos e nos querer por em prova de novo... O fato é que estou com saudades daquela pessoa que morava dentro de mim, era mais alegre, tinha mais esperança, acreditava nas pessoas, era mais leve...
Olha só o que escrevi para alguém naquela época, e que agora reescrevo e dedico à todos os meus ex-namorados que contribuíram  e jogaram tinta nos meus sentidos:

Vingança nas nádegas

E por demais esquisita,
A vida como ela é,
Minha vontade infinita,
É te dar um pontapé
Sinto um ódio grande e intenso,
E meu anseio é certeiro,
Quase todo tempo penso,
Em chutar o teu traseiro,
Não vou xingar a tua "veia",
Mas não dispenso vingança,
A minha melhor ideia,
É mesmo chutar tua "poupança"!
LRG


Ai que engraçado!!!


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Paciente Dez: Férias Conjugais



Férias Conjugais



Chamei o paciente, entra no consultório um paciente de longa data... Um senhor por volta de oitenta anos com perda de memória, acredito que pela própria idade... Nós neurologista chamamos de transtorno cognitivo leve, não é doença de Alzheimer, mas o tratamento é com a mesma medicação. Este é o caso desse senhor. Ele sempre vem acompanhado pela sua enfurecida esposa, que insiste em dizer que ele está péssimo, cada vez pior, que ela não aguenta mais, e que ele a está deixando doente com suas atitudes. Naquela consulta, tinha um detalhe novo, ele tinha começado a falar mal dela... Ele olhava para mim e não dizia uma só palavra. Quando eu perguntava algo, se isso tudo era verdade, ele discretamente movimentava a cabeça dizendo que não... O movimento de sua cabeça era tão sutil para a esposa não perceber, que na verdade ele falava "não" com os olhos... Então perguntei aquelas perguntas triviais: - Que dia do mês é hoje? Qual o dia da semana? O senhor sabe o mês? Em que ano estamos? O senhor sabe onde está? Qual cidade? Estado? Ponto de referência? Como é de costume, ele respondeu tudo corretamente. Estava mais orientado no tempo e espaço do que eu... Então falei para a esposa: - Mas ele não está assim tão ruim como a senhora descreve! O que acontece?
A esposa decidiu desabafar, pois ele estava mudo. Olhava para mim e tentava falar com os olhos, quando ela se distraía, e eles percebam que poderia se expressar sem ser julgado movia a cabeça dizendo "não"... Ele estava preso dentro de toda aquela situação... Estava no cativeiro. Foi rotulado ser uma pessoa com Alzheimer, pois a medicação é a mesma, e a partir daí começou sua prisão... Entendi, qualquer palavra dita poderia piorar a situação quando chegasse a casa...
Então a esposa falou: - Ele anda falando mal de mim para as pessoas... Pensei comigo, isso não é coisa de doente porque vejo muitos casais falando um mal do outro... Continue escutando: - Então, pedi para ele umas férias conjugais! Falei para ele que já estava tudo decidido e que queria férias conjugais!
Ele não tinha como expressar sua opinião, pois já estava tudo decidido... Aproveitando que uma irmã dele viria do nordeste e passaria em São Paulo com destino ao Paraná para visitar outros irmãos, a esposa preparou a mala do esposo e o pôs junto do ônibus com a irmã dele com destino ao Paraná... Agora, fico imaginando como o homem ficou sendo despachado sem ao menos ser consultado, para "Férias Conjugais", com certeza "bem" da esposa ele não iria falar... Imagino-o no ônibus, desabafando com a irmã...  O pior foi que a esposa se esqueceu de pegar um contato dos familiares do esposo no Paraná. Quando percebeu, não tinha nenhum número de telefone marcado na agenda do pessoal de lá. Bom, três dias se passaram e o senhor não voltou... Ela tinha arrumado a mala para três dias... Eu até comentei com ela, férias conjugais de três dias? Só? Acho que quando alguém quer tirar férias conjugais deve ser de no mínimo um mês. Pois então, começou o tormento para ela, sem notícias do marido, e sem poder se comunicar, ela ficou esperando ele voltar por um mês... As férias conjugais dela vivaram um pesadelo... Ele por sua vez, como ela mesmo ficou sabendo depois, estava aproveitando suas férias conjugais impostas  junto da família, passeando pelo mato e pescando. É "o feitiço havia virado contra o feiticeiro"... Porém, a esposa ficou sabendo que uma irmã do marido estava em São Paulo, e entrou em contato urgente pedindo a volta do marido... Ele voltou, e tudo continuou igual ou pior... Quando a história terminou, os dois olhavam para mim, então, falei: - Senhora, férias de três dias é muito pouco! Da próxima vez a senhora prepara a mala dele para um mês, e não se esquece de pegar um telefone de contato para saber se ele está bem... Acho triste quando às pessoas pensam que só porque casaram são donas um do outro. Pelo que parece assinar um papel no cartório quer dizer: "minha propriedade", e então, perdemos toda nossa individualidade...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Celulite no Cérebro




Celulite no Cérebro


Esses dias eu andei vendo algumas postagens no facebook que dizia:

"A gordura localizada não é um mal, desde que esteja localizada no corpo dos outros." (autor desconhecido)

"Senhor fazei com que eu emagreça se não conseguir fazei com que minhas amigas engordem. Amém." (autor desconhecido)

Pode ser até engraçado para algumas pessoas, mas não acho graça nenhuma nestas piadas... E ainda serem postadas no mural no perfil do facebook? Acho muito feio...
Prefiro ter celulite no corpo a ter celulite no cérebro... Existem muitas coisas para nos preocuparmos no mundo, mas ainda existem pessoas preocupadas com a celulite delas, e o pior, com quem tem o privilégio de não ter celulite, para essas pessoas é desejado que elas engordassem ou fiquem com celulite... Quer dizer, se eu não estou bem o outro, meu irmão, também não pode estar... Crueldade! Isso me assusta na humanidade, pensamentos deste tipo... Mal sabem eles que todo mundo vai envelhecer... Será que eles descobriram a fórmula da eterna juventude para estarem falando desse jeito? Será que ainda não caiu a ficha deles para saber que a beleza exterior é efêmera? Eu como neurologista acho mesmo que é celulite no cérebro...
É claro, temos que nos cuidar, manter um equilíbrio entre a mente e o cérebro. É bom para a saúde ter uma dieta equilibrada, fazer exercícios, mas apesar disso, uma gordura localizada acaba sempre ficando, ou se não é retirada por lipoaspiração, aplicações de substâncias na gordura etc. Agora quero ver como se resolve a gordura localizada no cérebro... Ah, esse é um trabalho bem mais difícil porque não dá para aspirar não, a eliminação se faz no próprio interior... É preciso pensar muito, meditar sobre a vida e os seus valores mais sublimes... Fácil não é, mas o que eu não quero mesmo é ter celulite no cérebro... Evolução da consciência por um mundo melhor! Já!     




 

Seis meses sem você...




Seis meses sem você


Faz seis meses que você desapareceu dos meus olhos...
Digo-te que foram os seis meses mais longos e tristes da minha vida...
Sua ausência traz o silêncio,
O silêncio de uma noite sem fim...
Essa ausência traz também a saudade,
Que se faz presente todos os dias da minha vida...
Não sei onde você está agora,
Queria pedir a Deus para te ver...
Mas mesmo que te visse,
Como eu poderia saber que não era só minha imaginação?
Não posso fazer nada, só sentir essa saudade,
Que agora mora no meu peito, dentro do meu coração.
Nem sei como te dizer a falta que você me faz,
Não sei se grito, será que você pode me ouvir?
Não sei se choro, será que você pode me ver?
Não sei, não sei, não sei...
E então, resolvi escrever estas palavras via internet...
Como às vezes estávamos acostumados a nos comunicar...
Quem sabe de alguma forma chegue até você...
Agora, só posso dizer que faz seis meses que você se foi...
E a partir daquele dia, transformou sua presença em saudades...
Saudades de você,
Você que fazia meus dias mais coloridos...


Deixo aqui uma frase que vi ontem no facebook,:

“ E entre tudo que ele poderia ser pra mim, ele escolheu ser saudade."

Caio Fernando



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Achei na agenda... (Três)





Quem eu sou?


Quem eu sou?
Já não sou o que fui ontem,
Não posso dizer quem serei amanhã,
O que serei daqui uma hora será fruto da minha imaginação, futuro...
Porque sou o ar que respiro agora, presente...
Não posso dizer se serei vento ou tempestade,
Se disser o que sou agora,
Amanhã será passado...
Quem eu sou?
Só saberá quem comigo estiver ao meu lado...

sábado, 22 de outubro de 2011

Achei escrito na agenda... (Dois)




Deus e Morte


Você já tentou descobrir quem é "Deus"?
Onde ele possa estar?
Onde?
Como será sua forma, seu jeito, sua voz?
A morte, você já pensou na morte?
Morrer é acabar?
Amar, sonhar, lutar e morrer... Morrer...
Você não tem medo da morte?
Você não tem medo de nunca mais voltar a viver?


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Banco Imobiliário




Presente da Madrinha


O banco imobiliário foi presente de aniversário da minha madrinha Aparecida. Não lembro ao certo quantos anos eu iria fazer talvez sete ou oito anos de idade. Eu tinha visto o banco imobiliário do irmão da minha amiga e fiquei encantada, queria um banco para mim! Naquela época, tudo era mais difícil e meus pais não podiam comprar o banco imobiliário e fazer a festinha de aniversário.  Eu adorava festa de aniversário e também queria muito o banco imobiliário, mas teria que escolher um ou outro. Minha madrinha ouviu a história e ficou sensibilizada com o meu desejo. Então, ela e minha mãe fizeram um acordo, minha mãe faria a festinha de aniversário, minha madrinha daria o banco imobiliário e a Dona Luíza, vizinha da frente, faria o bolo como presente de aniversário. E assim foi feito! E tenho essa lembrança até hoje guardada na minha memória. Lembro até hoje o dia que ganhei o banco. O momento de felicidade compartilhado com a minha madrinha. Quantas saudades dela! Porém, ela já não está aqui na terra, partiu... Como diria o escritor Rubem Alves, ficou encantada... Não sofri muito com a morte dela em si, porque ela, mesmo viva, já não estava mais naquele corpo... Depois de dois AVC (acidente vascular cerebral) um em cada hemisfério cerebral, ela se foi, apesar de seu coração continuar batendo e ela continuar respirando... Ficou meses assim, e um dia me chamaram para fazer o atestado de óbito. Eu jamais gostaria de fazer o atestado de óbito da minha tão amada madrinha, mas era tudo o que eu podia fazer e assim evitar todo o trâmite do serviço de verificação de óbito. Infelizmente não podia fazer mais nada por ela... Quando ela teve o primeiro AVC, ficou paralisada do lado esquerdo, chegou até a voltar andar, mas não conseguia movimentar o braço e então, ela  desanimou... Eu queria tanto que ela se esforçasse, voltasse a andar, mas não foi possível, ela não suportou se vir daquele jeito... Eu admiro muito  meus pacientes que atendo com AVC, e que apesar de todas as dificuldades continuam a vida, mas isso não é para todos... Cada pessoa responde de certa forma as agruras da vida. Eu queria muito que ela reagisse, fizemos o que pudemos, mas não foi possível, seu "ser" não quis, não suportou... Ela me faz muita falta. Tenho saudades de quando a visitava depois do AVC, e ela falava todos os estados do Brasil e suas capitais, pelo menos isso o AVC não havia lhe roubado... Ela gostava muito de mostrar que algo dela tinha ficado intacto... Andei procurando o banco imobiliário, mas não achei, tive que comprar um banco novo. Fui à loja e queria o igualzinho ao que minha madrinha havia me dado, da Estrela... A caixa já não era igual, e havia muitos tipos de bancos imobiliários, muito chato, pois na minha época só havia um tipo. Agora são vários tipos e vários temas, é acho que estamos complicando a vida ao invés de simplificar... Comprei o mais básico, cheguei a casa, abri a caixa e não era igual! Não tinha as casinhas verdes e nem os hotéis vermelho, ao invés disso só casas que se encaixam uma em cima da outra, até uma quantidade que quer dizer "um hotel". Não gostei da mudança, o conteúdo foi simplificado... Surgiram vários tipos, mas com conteúdo simplificado... O que eu posso fazer? Vou tentar encontrar meu banco imobiliário antigo...  
Saudades do meu antigo banco imobiliário...
Saudades da minha amada madrinha...

Amizade


Hoje é o aniversário da minha amiga. Queria dizer minha melhor amiga, mas não sei posso dizer, porque tenho outras amigas muito queridas e elas poderiam ficar com ciúmes... É claro que melhores amigos são raros. Já tive pessoas que achei serem amigas e por fim, tive grande desilusão. Amigo de verdade é aquele que sabemos que podemos contar com ele em todos os momentos da nossa vida. Amigo verdadeiro é aquele que está ali, nas horas boas e nas horas ruins. Podemos até ficar algum tempo longe, sem se falar, por motivos que a vida nos impõe, mas sentimos a pessoa perto, em nossos corações e pensamento. Sabemos que uma hora ou outra ela vai ligar, mandar um recado, chamar para um aniversário, para um café, pedir um conselho ou um favor. E então, fazemos de tudo para encontrar, ajudar, falar com aquela pessoa. Essa amiga que faz aniversário hoje é muito importante para mim.  Nossa amizade enfrentou o tempo, a distância e algum desentendimento que para amigos de verdade isso não é problema, é aprendizado e crescimento. Nossa amizade começou no colégio, sétima série. Eu era aluna nova no Colégio São José e estava muito feliz por estar lá. A felicidade ficou completa quando na minha classe encontrei essa amiga. Foi algo de empatia e afinidade, e logo ficamos amigas. Descobrimos que morávamos na mesma rua, quase uma casa em frente da outra, na qual eu tinha mudado a pouco tempo. Ficamos tão amigas que resolvemos selar essa amizade. Na época, estava na moda alpargatas e laços no cabelo. E então, cada uma comprou um par de alpargatas brancas, e fitas coloridas e fomos enfeitar nossas alpargatas. Fizemo-las igualzinha uma da outra, e no dia seguinte fomos para o colégio. Depois fizemos dois laços iguais, e num outro dia fomos com os laços no cabelo. Uma professora comentou que parecíamos duas borboletas iguais, achamos engraçado. E era isso que queríamos que todos soubessem que ali nascia uma grande amizade... Esta amizade foi crescendo, íamos uma na casa da outra, as famílias se conheceram e ficaram amigas. Fomos fazer várias atividades juntas, jazz, natação, caderno de poesias, diário etc. Viajamos juntas com a família para Peruíbe e Guarujá. Em um dia chuvoso, voltando a pé da natação,  dividindo um mesmo guarda-chuva fizemos um juramento, que iríamos preservar nossa amizade para sempre, apesar de todas as adversidades que surgissem no nosso. Nunca desejaríamos o mal uma da outra, e a sinceridade prevaleceria acima de tudo. A verdade seria dita sempre, mesmo que pudesse nos machucar. Se uma ou outra precisasse de ajuda faríamos o possível para ajudar, mesmo que isso exigisse muito esforço da outra parte. E assim nossa amizade atravessou o tempo e todas as dificuldades. Sempre tenho a imagem daquelas duas garotas de treze anos debaixo do guarda chuva, subindo uma ladeira e fazendo laços de amizade eterna. Foi muito bonito, e hoje é o aniversário da minha amiga. Não preciso repetir o que dissemos uma à outra quando adolescentes, mas posso dizer que para uma amizade ser verdadeira é preciso de sinceridade, comprometimento, bem querer e esforço... Parabéns amiga, desejo à você toda a felicidade do mundo, e que continuemos sendo amigas para sempre!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dia do Médico 18 de Outubro





Medicina com amor!




Lembro-me até hoje o dia que decidi ser médica, tinha cinco anos de idade. A partir deste dia nunca mais tive dúvidas e jamais pensei em fazer outra coisa até o dia do vestibular. Igual ao Nelson Freire que nasceu com o piano dentro dele e minha irmã nasceu com a arquitetura dentro dela, nasci com a Medicina dentro de mim. Como eu tinha bronquite asmática estava sempre fazendo inalações, tomando medicamentos e injeções, assim que pude, convenci minha mãe trazer a seringa com agulha da farmácia quando eu ia tomar alguma injeção. Ela confiou, e a partir daquele dia, minhas bonecas levaram todas uma injeção. Como elas eram de plástico, a marca do furo ficava, e cada uma tinha vários  furinhos. Além disso, eu tinha minha caixa de remédios. Todos os remédios que eu tomava, pedia para minha mãe não jogar o vidrinho fora e os guardava para depois brincar... Eu nunca pensei em ser médica por "status" ou dinheiro, minha única intenção era, e é ajudar pessoas.  Escolhi a Neurologia por dois motivos: primeiro porque a amo, e segundo porque é uma especialidade difícil, quase não há cura para as doenças, as pessoas ficam deficientes... Deve ser difícil ter uma doença neurológica, então, achei que essas pessoas eram as que mais precisavam de mim... Sempre peço a Deus que me ajude que me inspire fazer o melhor para cada um dos meus pacientes. Quando eu era pequena, por volta dos sete anos de idade, minha série preferida era "A incrível jornada da doutora Meg Laurel" (The Incredible Journey of Doctor Meg Laurel), com a atriz Lindsay Jean Wagner, a mesma que fazia a série "A Mulher Biônica". Era uma médica, brilhante e corajosa,  que nos anos 30 tinha deixado o conforto e a segurança de Boston para cuidar da população de uma pequena cidade do interior. Lá foi ela, sozinha, conduzindo uma carroça com os medicamentos que dispunha da cidade grande no bagageiro. Vivia simplesmente em uma casinha da cidade, não cobrava nada por seu atendimento. Eu amava assistir essa série. Foi assim que cresci. Não é fácil ser médico. Temos que conviver com o ser humano, a doença e a morte. Fico triste por não valorizarem os médicos como eles deveriam ser valorizados. Trabalhamos muito, fazemos coisas terríveis para aprender, estudar e atender os pacientes. Na faculdade, temos que estudar muito... São noites e noites sem dormir. Quantas vezes eu dormi sentada com o livro nos braços estudando, e toda hora que acordava, lia um pouquinho, e voltava a dormir. Na residência médica, fazemos coisas absurdas, ultrapassamos os limites do corpo. Já cheguei entrar de plantão em uma quinta feira e sair na segunda à noite. Quando já era impossível se manter em pé, dividíamos os horários no plantão, era uma hora e meia para cada um descansar na madrugada. Já descansei no chão na UTI com um colchonete, em sofá de dois lugares onde os pés as pernas ficavam para fora. Já descansamos em cima da maca, sentados e apoiados com a cabeça em cima de uma mesa. Uma vez, quando tudo já estava calmo, dividimos uma poltrona para três pessoas na UTI.  Os médicos deveriam ser mais valorizados, mas vamos levando, tirando "água de pedra" como muitos dizem por aí... Acredito que sejam poucos os médicos que escolheram a medicina visando dinheiro, status, ou que a família tenha imposto. A maioria escolheu a medicina pelo amor ao próximo, e hoje é nosso dia! Parabéns a todos os médicos que exercem a medicina com o mais sublime amor...  


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Consenso Mundial Sobre Religiões




Consenso Mundial Sobre Religiões

Ah, cansei dessa desorganização no mundo sobre as religiões. Acho mesmo que deveria ser feito um consenso mundial sobre religiões. O consenso levaria em conta as preocupações de todos a fim de resolvê-las em um ambiente em que todos fossem respeitados e todas as contribuições avaliadas. Seriam escolhidos representantes de cada religião do mundo. Essas pessoas,  que tivessem maior conhecimento sobre a religião a qual pertencem, seriam escolhidas democraticamente a fim de explicá-la a todos os outros participantes do consenso. Seriam aulas feitas em power point projetadas em data show onde cada representante explicaria tudo sobre sua religião, quando foi fundada, ano, por quem,  as bases da doutrina e conclusões. A participação de cada religião seria de acesso igual, onde houvesse uma cooperação harmoniosa de todos os participantes para que se chegasse a uma conclusão única sobre Deus. O objetivo do consenso seria uma decisão por diálogo que nos fosse melhor como um todo. Não existiria competição e nem atrito, e o respeito e a paz deveriam ser mantidos por todos. Estaríamos resolvendo um problema mundial. Não sei quem disse que religião não se discute, discordo, deveria sim ser todas analisadas a fim de que se chegasse a uma conclusão. Então, depois do consenso, teríamos uma religião para todos do planeta terra. Ninguém precisaria ficar fazendo guerra, se matando em nome de Deus, e a paz reinaria no mundo. Eu acredito nisso, que um dia nós seremos capazes de nos unirmos civilizadamente, para expormos as adversidades religiosas para que possamos chegar a um bem comum. Tenho certeza que Deus não acha nada bonito ser dividido em pedaçinhos, e cada religião falando em seu nome por aí. Se Deus é um só para todos, foi o criador do Universo, devemos lutar para que as religiões sejam unificadas. Não tem que se abrirem novas igrejas, porque uma discorda da outra, Deus é paz, não desunião. Devemos caminhar para um consenso comum. Acho que seria uma grande evolução da humanidade...

domingo, 16 de outubro de 2011

O dia do acidente que não aconteceu...






 
 
O dia do acidente que não aconteceu

Era um dia comum como todos os outros, dia vinte e nove de Setembro de dois mil e onze, uma quinta-feira à tarde, mas, tornou-se um dia muito importante para mim, o dia do acidente que não aconteceu... Graças a Deus! Sim, digo graças à Deus, porque ele me poupou desse acidente de trânsito em que eu estaria envolvida, e seria com certeza uma chatice!  Nesse dia, senti a presença de uma força maior, um anjo, o próprio Deus, mas tenho certeza que ele me poupou dessa tragédia. Senti no fundo do meu coração que fui protegida, e a partir desse dia, jurei nunca mais duvidar da existência de Deus. É claro, para muitos isso seria um absurdo, dizer que algum dia eu duvidei que Deus existisse, mas sou uma neurologista formada no HCFMUSP, para nós tudo tem que ter uma explicação científica. Cheguei a publicar alguns artigos em revistas de medicina, livros, e a parte da conclusão tem que ser baseada em fatos reais, quer dizer não podem restar dúvidas, tem que estar provado ali no papel, depois de toda análise, estatística, dois e dois tem que ser quatro. No entanto, a partir desse dia tive a certeza, não que eu não tivesse, mas às vezes os olhos querem ver, mas pude sentir... O dia continuou a ser um dia comum, mas para mim, um dia que ficará marcado na minha história. Passado o susto, fui comprar os convites para o Jantar Dançante do Dia dos Médicos e tudo ficou na paz, eu irei à festa... Se meu anjo da guarda não estivesse lá, meu dia poderia ter sido horrível com toda aquela história que ninguém deseja passar, polícia, ambulância, celular, ligações, carro batido, seguro, choro, desmarcação de trabalho e claro, eu nem iria comprar os convites da festa, aliás, não haveria festa... O acidente não aconteceu, comprei os convites e pude seguir meu caminho e atender meus pacientes que precisam e estavam à espera de mim... Obrigada meu Deus, por permitir que o meu dia continuasse sendo apenas um dia comum... 


sábado, 15 de outubro de 2011

Achei escrito na agenda... (Um)



Só Agora


Só agora depois de tanto tempo posso sentir a sua dor. Agora que você já não faz mais parte da minha vida é que sei, o quanto você sofreu por mim. Agora, posso dizer que talvez saiba, o quanto era esse sofrimento e sua mágoa. Mágoa, talvez esta, difícil de ser esquecida. Como poder entender o sofrimento de um coração sem poder estar dentro dele? Impossível. Só quem vive a dor de um amor que não pode ser correspondido é que sabe o quanto dói, e agora eu sei, porque quem vive agora essa situação sou eu. Dor esta tão intensa e dilacerante, que entra pelo peito como um punhal ao saber que a pessoa que amamos se encontra nos braços de outra pessoa. Mesmo que ela esteja com você em alguns momentos, como entender isso? É impossível perdoar, é impossível esquecer. Eu que vivi o outro lado, não podia imaginar essa dor. O que posso fazer agora? Compreender o outro já é tarde demais. Esperar agora é quase impossível. A vida é uma roda gigante, dá muitas voltas... Só entendemos o outro quando estamos no lugar dele. Por isso jamais devemos julgar ninguém, pois você um dia poderá estar vivendo a mesma situação. Devemos sempre nos colocar no lugar do outro e ver se gostaríamos de passar o que estão passando por nossa causa, se a resposta for "não", tome logo as providências para consertar o erro...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sozinha





A excursão

Acho engraçado quando alguém fala que nunca iria ao cinema sozinho (a). Não entendo porque temos que andar sempre acompanhados... O que pode impedir uma pessoa de ir sozinha no cinema, no teatro, no barzinho, no concerto, viajar... Não consigo entender o que passa pela cabeça dessas pessoas, será medo de entrar em contato consigo mesmo? Eu adoro andar sozinha! Gosto muito da companhia dos meus amigos, da minha família, mas às vezes, gosto de estar comigo mesma. Sozinhos, conseguimos refletir melhor, ver o mundo melhor, podemos ouvir o "eco" dentro de nós mesmos e sabermos quem realmente nós somos, e o que sentimos quando estamos sós. Eu não me preocupo, se eu tiver que ir a algum lugar sozinha eu vou mesmo! Já perdi as contas de quantas vezes fui ao cinema sozinha. Uma vez, em Portugal, decidi que queria fazer uma viagem de Portugal até a França, eu deveria ter uns vinte e dois anos de idade. Então, meus familiares arrumaram uma viagem organizada pelo padre da Igreja da cidade em que eu estava. A excursão sairia da Guarda e iria até Lourdes na França, porém eu desceria um pouco antes, em Foix para visitar meu tio. Tudo ficou combinado, e eu esperaria em frente à igreja, no horário e dia marcados. Chegou o dia, eu estava lá, às oito horas da manhã de um dia ensolarado em frente à igreja da Guarda. “Avistei um ônibus, como diria em Portugal, o autocarro”, era ele mesmo, pois parou na minha frente, a porta se abriu, o padre me cumprimentou dando boas vindas, meus familiares ficaram fazendo "tchau" na calçada, a porta do ônibus se fechou, então eu olhei para dentro do ônibus para encontrar um lugar que pudesse sentar. Foi quando olhei repentinamente, os lugares já estavam quase todos ocupados por muitos e muitos velhinhos, todos de cabelos brancos olhando para mim, uma garota de vinte e dois anos. Na hora levei um susto, pois já estava dentro do ônibus, porta fechada, ônibus em movimento e pronto! Também, eu poderia ter imaginado uma excursão da igreja, para Nossa Senhora de Lourdes na França, só poderia ser com os velhinhos da igreja. Não havia ninguém da minha idade, nem que se aproximasse da minha faixa etária, o mais novo do ônibus deveria ter uns trinta anos a mais do que eu... Fui para o fundo do ônibus e sentei logo um velhinho de chapéu na cabeça me ofereceu uma bala e começou a conversar... Só posso dizer que a excursão foi ótima, fiz amizade com todos eles. Fomos viajando pela Espanha, Vale dos Caídos, Valladolid, Zaragoza e depois de alguns dias chegamos a Foix na França, onde eu desceria... Chegou a hora do "adeus", falei "tchau" para todos os meus amigos velhinhos e segui sozinha... Nunca mais os vi, mas os tenho sempre guardados no meu coração...  Foi tão bom viajar sozinha!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Seria Perfeito!





Café e cinema...


Era assim como eu queria te ver daqui uns trinta anos, como vi aqueles velhinhos tomando café da manhã na Reserva Cultural em São Paulo, para depois assistir um filme francês em plena manhã de domingo. Seria perfeito! Mas este sonho ficará sendo apenas um sonho. Você não ficará velhinho, e não iremos tomar café da manhã e assistir filme francês na Reserva Cultural. Acho muito estranho quando algumas pessoas dizem: - É bom ele ter morrido novo, assim todo mundo vai lembrar-se dele bonito, jovem... Por quê? Eu não entendo velho é feio? Eu acho os velhinhos lindos. Eles estavam todos lá no café, bem vestidos, felizes, sorrindo, cheios de vida! Outro dia, entrou um paciente no meu consultório de sessenta e dois anos e disse que não queria ficar velho. Fiquei olhando para ele, sem entender nada... Ficar velho não é uma opção, é um fato! Todos nós iremos ficar velhos, é uma estrada de mão única, e não dá para voltar atrás. Então, porque não fazer amizade com a velhice? Queria sim, vê-lo envelhecer, para mim ele continuaria lindo como foi quando era criança, e moço. Quando amamos de verdade a pessoa nunca fica feia, não estamos preocupados com o exterior, mas sim com o interior da pessoa. Quanto mais velha a pessoa, mas rica de experiências ela será... Fiquei triste, porque esse sonho meu nunca irá acontecer, e o pior, é que eu jurava que sim, mas me pregaram uma peça das boas. E vendo aqueles velhinhos, consigo sim, imaginar o meu amor velhinho e achá-lo lindo! Tenho certeza que você seria um velhinho todo cheio de charme, com seus cabelos e barba branca, seu sorriso seria o mesmo, e seria um menino travesso como sempre foi, e iria aprontar poucas e boas na sessão de cinema! Tenho certeza, que compraria pipocas, e no escurinho do cinema iria jogar pipoca na moçada, eles olhariam para trás, mas nunca iriam achar que aquele velhinho "sério" é que estava jogando pipoca...  

igod





 
 
igod

Sinto saudades de você que fazia os meus dias mais coloridos. Outro dia, vi uma brincadeira no facebook, falando que o Steve Jobs agora teria que inventar o igod, god em inglês quer dizer Deus. Seria como o ipod, mas esse daria para fazermos conexão com o "outro mundo" e assim, falarmos diretamente com as pessoas que amamos e que estão no céu. Eu bem que queria um igod. Espero que os cientistas descubram logo uma forma de nos comunicarmos com quem não está mais presente na terra. Eu queria muito saber se está tudo bem com você, o que tem feito, onde você mora, enfim queria saber, "como vai você..." Porém, tudo é um silêncio... Deus que me desculpe, mas eu acho muito chato  nos deixar aqui morrendo de saudades das pessoas que amamos. Vamos ter que esperar quanto tempo para matar essa saudade? Para quem acredita piamente no espiritismo, isso não é problema, porque eles estão lá, às vezes mandam uma carta, mas mesmo assim, a saudade fica dentro de nós, todos os dias da nossa vida. Fico pensando, será que quando eu te encontrar vou ver aquele mesmo sorriso lindo? Vou escutar a mesma voz? Sentir o seu cheiro? Ver seus olhos azuis? E se você for só uma luz? Bom, eu também serei uma luz, mas, seremos os mesmos? Se você for um anjo como sonhei que você era, ficarei mais contente, porque pelo meu sonho você é um anjo lindo. Você é o mesmo? A sua aparência a mesma, irradia uma luz e você está todo de branco, a diferença é que você tem grandes asas brancas... Você continua lindo, um lindo anjo! Queria muito saber como você está agora... Queria muito saber de você... Será que você continua fazendo suas brincadeiras aí no céu? Como sinto saudades de você... Você que fazia meus dias mais coloridos...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ser criança...


 
 
Perdidos no mar...


Estava brava com Deus, mas então pensei como estava sendo injusta. Tudo bem aconteceu tudo aquilo no Guarujá, mas graças à Deus não aconteceu nada com os meninos. Quando ele chegou e disse que eles haviam sumido, senti um “frio na espinha” como dizem por aí... Sai em alvoroço em direção ao mar, mas logo os avistei. No momento a gente entra em desespero, pensa em tudo, mas quando os vi, foi tão bom! Eles estavam lá, brincando com as ondas... É tão bom ser criança! Quando eu era criança amava entrar no mar, brincar com as ondas... Eu criava um mundo imaginário dentro do mar, eu estava lá, às vezes perdida, às vezes sendo salva, outras vezes uma sereia, um peixe, um pirata...   Quando vi os dois meninos, tão felizes brincando, só pensei que haviam perdido a noção do tempo... Quando a gente é criança, não estamos presos a relógios, o tempo não é importante, diferente de nós, adultos, escravos do tempo, eles não, crianças, livres no tempo... Então, os dois acenaram para mim, faziam “tchau”, e queriam continuar a brincadeira, porém, o pai de um dos meninos,  estava desesperado, tinha se assustado, pensava que as crianças tinham se afogado no mar... É difícil olhar crianças, é piscar os olhos e eles podem estar aprontando alguma peraltice... Não que seja peraltice para eles, porque os olhos  das  crianças vêm o mundo colorido, ainda ninguém lhes pintou os sentidos como diz Fernando Pessoa:

"Procuro despir-me do que aprendi,
 Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
 E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
 Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
 Desembrulhar-me e ser eu..."

 A brincadeira acabou não aconteceu nada com eles, e isto era motivo de alegria. Fui até a igreja, e acendi uma velinha agradecendo por estarmos todos bem. Fiquei muito triste, não queria deixar os meninos irem embora... Senti como é bom ter crianças por perto. Já gostava do menino e gostei do outro menino também. Antes eu queria ter uma filha, mas agora, se eu tiver um menino vou ficar feliz também! Nada é por acaso. 


terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Menino que sonhava ver o mar







 
O Menino que sonhava ver o Mar

Era uma vez um menino chamado Lucas. Ele morava em um lugarejo que ficava entre as montanhas lá no interior de Minas Gerais. Lucas era um menino muito feliz que adorava ler e brincar com seus amigos.  Ele sempre levantava cedo e como sua escola ficava na cidade, ele tinha que andar dois kilômetros até chegar lá, mas para Lucas isto não era problema porque ele sempre tinha a companhia de seus amigos e juntos iam conversando, brincando e cantando. Quando voltava para casa Lucas tinha que ajudar seu pai na roça, e quando sobrava um tempinho ele nadava no riacho ou pegava um livro para ler. Ele gostava muito de livros, sempre trazia livros da escola ou as pessoas que o conheciam e sabiam de sua paixão por livros acabavam lhe emprestando ou lhe dando algum... Apesar de fazer pouco tempo que Lucas aprendera a ler, desde pequeno, quando ainda nem sabia ler, ele fazia de conta que lia os livros que encontrava em casa, e em seguida corria contar para a sua mãe uma história que ele imaginava ter lido.
          Um dia, Lucas pegou na escola um livro que contava a história de um marinheiro e sua viagem pelo mar. Neste livro, havia vários desenhos do mar, como Lucas nunca tinha visto o mar, pois morava muito longe dele, começou imaginar como ele seria, qual seria sua cor, seu cheiro, seu sabor, como seria pisar na areia, como seria sentir as ondas do mar em contato com seu corpo.  No outro dia, Lucas foi até a biblioteca da escola e trouxe para casa um livro com fotografias do mar, ele ficou horas olhando para elas até adormecer. Cada dia que passava, Lucas ficava com mais vontade de ver o mar, ele gostava das montanhas, dos riachos, das cachoeiras da sua cidade, mas ele estava apaixonado pelo mar. Essa vontade foi ficando cada vez maior, e então, ele pediu para seus pais que o levassem para ver o mar. Porém, Lucas não sabia que as coisas não eram tão simples como menino de oito anos imaginava, seu pai trabalhava na roça o dia inteiro, tinha que cuidar das vacas, dos porcos, da horta não podia se ausentar, sua mãe tinha muitas coisas para fazer em casa e cuidar de sua irmã que era um bebezinho; além disso, eles nem tinham dinheiro para viajar. Lucas tentou entender, seus pais o levaram até a cidade na casa de um amigo que tinha televisão para ver se viam o mar. Um dia, o mar apareceu na televisão por alguns minutos, Lucas deu um grito de alegria, mas a felicidade durou pouco, pois na verdade, não era dessa forma que ele queria ver o mar. A mãe do Lucas tentou fazer várias coisas para ver se ele se esquecia do mar, fez pão de queijo e doce de leite que ele adorava, o deixou andar descalço, tomar sorvete no inverno, molhar-se na chuva, brincar com os meninos até tarde da noite, e até deixou o cachorro entrar em casa, mas nada adiantou... Ele se esquecia por algum tempo, mas depois voltava a pensar e a falar do mar. Até que um dia, para a alegria de todos, a sua mãe recebeu uma carta dizendo que seu irmão, que até então morava no Pernambuco, tinha se mudado para o litoral de São Paulo e comprado um carrinho para vender coco na praia. Então, tudo começou a ser planejado. Quando o Lucas ficasse de férias, seus pais fariam uma autorização para que ele pudesse viajar sozinho de ônibus até a praia, pois ele só tinha oito anos de idade, e seu tio o apanharia na rodoviária quando ele chegasse lá.  Lucas esperou seis meses até as férias chegarem, e mais onze horas de viagem de ônibus. E quem naquele dia estava lá na praia, pode ver um menininho muito feliz olhando para o mar, brincando com suas ondas, sentindo seu cheiro e seu gosto, pulando, correndo e fazendo castelos na areia.
          Hoje, o Lucas cresceu, mas nunca se esqueceu da primeira vez que viu o mar, e se você for à praia e vir um homem feliz olhando para o mar com um lindo sorriso, mergulhando em suas ondas e fazendo castelos na areia pode ser que seja o Lucas, ou alguém, que como ele um dia se encantou com a beleza e grandeza do mar... 

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Memórias II




Paçoquinha & Fruittela


"- Não se esqueça de trazer paçoquinha para mim!". Foi o que ele disse pelo telefone quando combinávamos de nós encontrarmos. Pensei comigo: "- Paçoquinha?". Mas como negar um pedido desses feitos pela pessoa que amamos. Concordei. Só agora, lembrei-me da história da paçoquinha e seu significado... Há alguns anos, quando almoçávamos juntos, a paçoquinha era minha sobremesa. Terminávamos de almoçar, íamos para o caixa pagar o almoço. E então, eu sempre comprava uma paçoquinha e ía comendo pelo caminho de volta. Aqueles almoços, onde o mundo desaparecia, e éramos só nós dois no nosso mundo particular, estavam guardados na memória dele... Aquilo que guardamos as sete chaves na memória, é aquilo que amamos, porque o que não amamos, o cérebro faz questão de esquecer ou pelo menos tentar esquecer... E agora, lembro um pedaçinho daquela música do Roberto Carlos, "Detalhes", ele sabia disso e transformou em música:

Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Prá esquecer
E a toda hora vão
Estar presentes
Você vai ver...

Ele havia guardado "pequenos detalhes de nós dois", e queria voltar ao passado... Eu, na hora não entendi, e era tudo o que eu queria também, mas não deu tempo de dizer... Eu levei as paçoquinhas, mas as esqueci no estacionamento dentro do carro. Lembrei no meio do caminho, mas não dava para voltar, o estacionamento era muito longe... Ele nem soube que eu não me esqueci de trazer as paçoquinhas... Naquele momento, achava que era só um capricho dele, uma brincadeira, mas não, era um convite para voltarmos ao tempo em que éramos felizes, voltarmos ao passado... Infelizmente, não deu tempo e ele partiu... Só agora, posso compreender todo o significado daquele pequeno detalhe... Era só um detalhe, mas dizia tudo! Como quando nos olhávamos e dizíamos tudo o que as palavras não podiam explicar... O que ele não sabe, é que também guardei na memória a sobremesa predileta dele, eram aquelas balas moles de morango "fruittella". Ele comprava um pacote e comia todas em quase um só minuto, uma atrás da outra... Eu não gosto de balas, mas às vezes pegava uma do pacotinho dele... É a felicidade também mora nos momentos simples, nos detalhes, dentro de um pacotinho de bala, dentro de uma paçoquinha... 


domingo, 9 de outubro de 2011

Memórias I



Menino Travesso


Sabe, às vezes estou chateada e vem você com suas brincadeiras loucas, e eu, esqueço que estou triste. Pelo menos ontem você comeu aquele pedaço de goiabada no almoço. Agora, guerra de milho deve ser uma loucura. Vocês dois deveriam fazer um filme chamado “Os Pestinhas III”. Você anda terrível, posso te dizer um “puto” travesso. A palavra puto em Portugal quer dizer, menino, moleque, e você acha a maior graça quando eles falam assim... Às vezes, você é quieto demais, mal fala uma palavra, outras vezes, você sai aprontando por aí... As pessoas acham que você é mal humorado, quieto. Eu fico pensando, não é a pessoa que conheço... Gosto de te ver assim, alegre, comendo trufas, jogando milhos pelo ar, fazendo tchau para desconhecidos na rua. Você é legal, às vezes, um pouco calado, outras vezes parece bravo, e outras vezes ele brinca, dá risada. Você é um ser único, particular, não existe ninguém igual a você neste mundo! E isto te faz importante para mim... Vou te contar uma piada suja: - Sabia que lá em Portugal não se usa Viagra? Lá se usa ração para pinto! Que lástima!

sábado, 8 de outubro de 2011

Paciente Dez




Amizade com o Gardenal



Depois de tudo analisado, tomografia de crânio e eletroencefalograma, pensei dois segundos e disse para a paciente: "É dona Maria, não tem jeito, a senhora vai ter que fazer amizade com o Gardenal. Ele vai ser seu amigo a vida inteira... Veio para ficar..." Ela, que já estava acostumada com ele disse: "- Eu sei doutora, eu sei..." Fico impressionada, nestes anos como médica, neurologista, o gardenal (substância: fenobarbital) é o é medicamento mais temido pelos pacientes. A maioria conhece como gardenal, não como o fenobarbital, como diriam "o nome genérico". Se falarmos que ele terá que tomar fenobarbital, eles aceitam, mas falou em gardenal, é um espanto! Não sei da onde veio essa lenda, mas é antiga, muito antiga... Fala-se em gardenal, eles pensam que é sinônimo de loucura. O engraçado é que o remédio nem é usado para isso.  Alguns já me disseram: "- Não doutora, eu não tomo gardenal, tomo fenobarbital! Outros falam: “- Eu tomo tudo, menos gardenal”!". Acredito que isso venha pelo fato que, se você toma gardenal, logo isto é sinônimo de ter epilepsia, convulsão, "crises de ataque", e com isso lá vem o preconceito... Parece que falar que é epilético é um crime. Percebo que este preconceito é antigo as pessoas ainda não entenderam que a Epilepsia pode ser uma doença primária, quer dizer, acontece sem causa conhecida. É igual ter hipertensão ("pressão alta"), na maioria dos casos, você tem porque tem, nasceu assim... O pior é quando os exames se apresentam todos normais, o que deveria ser um alívio, para eles é uma preocupação: "- Doutora, os exames estão normais? Como isso? “Não é possível”! O pior é explicar que é melhor que os exames estejam normais... Percebo que existe muito preconceito com esta doença. Não deve ser fácil, perder a consciência, cair, se debater, soltar a urina, acordar confuso, sonolento com dor de cabeça, mas as pessoas têm que aceitar e compreender. Ninguém pode ser discriminado por ter crise convulsiva, porque qualquer um pode ter durante a vida. O próprio envelhecimento do cérebro pode causar focos epileptiformes. A epilepsia não é uma doença contagiosa, a pessoa não está morrendo, não precisa puxar a língua da pessoa, ela não está possuída e etc. A única coisa que se tem a fazer, é, afastar objetos próximos do paciente que o possam machucar, e virá-lo de lado.  Acho muito sério este preconceito, a maioria não cosegue arrumar um emprego, quando conseguem e apresentam uma crise convulsiva durante o trabalho são mandados embora. Então, voltam ao médico para pedir um laudo para pedir afastamento do trabalho e benefício. Fazemos o laudo, explicando tudo, e eles voltam dizendo que não lhes concederam o auxílio, e que é para eles voltarem trabalhar. Eles tentam arrumar um novo emprego, não conseguem. Conseguem-se, assim que descoberta a doença são mandados embora. Voltam para o médico, pedem novo laudo, de novo não é concedido o benefício e a história vai se repetindo... É um ciclo, vicioso, sem solução! Acho que é preciso ser feito alguma coisa. As autoridades responsáveis precisam tomar alguma providência, ou se faz uma lei que estes pacientes não podem ser mandados embora, ou todo mundo que tem epilepsia não trabalha e fica no benefício. Eu se tivesse a doença, gostaria de ter uma vida normal, trabalhar, estudar, e não ser discriminada. Sinto que alguma coisa deve ser feita... " Epilepsia: mais Amor, menos preconceito, ninguém está livre de ter uma convulsão alguma vez na vida”! E  lembro-me do programa, "No divã com Flávio Gikovate", um psiquiatra, escritor, perguntaram para ele, o que é moral? Ele respondeu: “- Antes de fazer alguma coisa para alguém, você tem que se perguntar se gostaria que fizessem isso com você, se a resposta for “não”, então não faça”! “Isso sim é ter moral”. É aquele velho ditado: "- Não faça com o outro aquilo que você não gostaria que fizesse com você". Simples, mas muita gente se esquece... 



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs




E assim caminha a humanidade...



É, morreu o Steve Jobs, assim como irá morrer o João, o José e a Maria... Todos os dias morrem muitas pessoas no mundo, mas quarta-feira morreu o Steve Jobs. Ele era um gênio da tecnologia, tinha fama, dinheiro, tudo que uma pessoa pode querer neste mundo, mas veio à morte e o levou com cinquenta e seis anos. Não teve dinheiro que o salvasse, nem contatos, melhores médicos, novas terapias, morreu, como morreu um médico, neurocirurgião do HCFMUSP, quando eu era residente, do mesmo câncer de pâncreas. Não teve choro, nem velas, orações que os livrassem da morte. Vejo no facebook, na internet, televisão, não se fala em outra coisa, se não a morte do Steve Jobs e palavras que ele deixou. Ele diz que a vida é curta, o dinheiro e status social não compram a vida de ninguém e que devemos viver de acordo com nossas intuições e não de acordo com a dos outros. Vejo nos noticiários, falando sobre a morte certa de todos nós, seres humanos. Falei até para minha mãe, ninguém filosofava sobre a morte, agora morre esse homem e não se fala de outra coisa... "É, minha mãe respondeu, é que ele deixou coisas escrita sobre a vida e a morte..." Ninguém quer falar, pensar sobre a morte. E todos pensam: " Ah, eu não quero nem saber, Deus é que sabe, quando ela chegar chegou, ninguém morre na véspera como o peru". E assim caminhamos, correndo para lá e para cá, tentando ficar rico, ter status social, consumindo sem parar, destruindo o nosso planeta com plásticos, lixo, tóxico etc. Outro dia me peguei pensando nos copinhos de plástico de beber água do meu filho, perdi a conta de quantos tem aqui em casa, deve ter alguns vinte ou mais, nem que ele viva mil anos, não gastará todos esses copos de beber água que ganhou, comprou em vários lugares. Porém, é preciso consumir, quantos mais copos de plástico melhor e assim por diante, este é apenas um exemplo simples, de como caminha a humanidade. Eu, quando era criança, tinha um copo de plástico que já vinha acoplado um canudo. Hoje em dia, nem existe mais esse modelo de copo... Era um para toda infância, e eu me lembro dele até hoje. Será que o meu filho irá se lembrar dos vinte e um copos de plástico que ele teve na infância? Minha avó, que morreu com oitenta e nove anos, teve um sapato social para a vida inteira. Isto me faz pensar, o que precisamos para viver nossa vida em paz? Deveremos ir à onda dos outros como diz Steve Jobs, e fazer tudo o que a maioria faz? Vamos continuar achando que o caminho para uma vida feliz e duradoura é ter dinheiro, sucesso e bens materiais? Ninguém pensa em mais nada, a filosofia é coisa para loucos nos dias de hoje, para que parar e pensar sobre a vida? Não temos tempo para isso, temos que ir para os shoppings, para os restaurantes, hotéis cinco estrelas etc. Outro dia o escritor Paulo Coelho falou, não desista nunca dos seus sonhos, por mais malucos que eles forem, eu mesmo, fui internado três vezes no sanatório. E lembro que você conta que um dia, estava caminhando a beira mar e foi ajudar um mendigo que estava caído, como você estava com uma bermuda jeans rasgada, e camiseta branca que ficou suja ao tentar ajudar o mendigo, ao pedir socorro para os policiais e pessoas, ninguém te reconhecia ninguém olhava para você e muito menos dava atenção ao seu pedido.  Obrigada Steve Jobs, por sua contribuição para a evolução da humanidade e pelas suas últimas palavras. Quem sabe às pessoas te ouvem porque você já era homem importante quando a morte bateu na sua porta.    

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paciente Nove

Saudade: uma faca no peito!







Saudade: Uma faca no peito



Sim, foi assim que a paciente descreveu o que ela sentia como se tivesse uma faca fincada no peito. A causa dessa sensação era a morte inesperada de um filho de vinte e um anos de acidente de moto. Entendi perfeitamente, porque quando você perde alguém que ama, um ente querido, parece que temos um faca fincada bem no meio do coração. Ela pediu para eu olhar, tocar, disse que sentia o local áspero, que incomodava. Estava sempre passando a mão naquele lugar machucado, machucado pela saudade... Examinei-a, passei a mal no local, não havia nada. A pele estava normal, não havia lesões, estava tudo bem. Eu perguntei se ela acreditava em Deus, ela disse: "- Sim doutora! Acredito! Mas o problema é a saudade, a saudade doutora! Sim, ela havia descrito como ela sente a saudade.   Palavra que  só é conhecida em galego e português, e descreve uma mistura dos sentimentos de perda, distância e amor, para ela: "Uma faca fincada no peito..." E qual é o remédio para a saudade? Acredito que não haja! A gente aprende a conviver com ela... E então, lembro-me daquele filme, "Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças ("Eternal Sunshine of the Spotless Mind"), Clementine ao perceber que o seu namoro com Joel não daria certo, recorre à uma empresa especializada em apagamento de memória, para apagar qualquer vestígio do Joel. E assim, foi feito. Apagaram-se as memórias e com elas  junto a saudade. Infelizmente, não existe uma empresa assim na realidade. Este filme é uma ficção científica. Quem sabe um dia, no futuro, poderemos recorrer à essas empresas,  quando a saudade parecer uma faca fincada no nosso peito. Entretanto, será que iremos recorrer à este método ou deixaremos que a saudade nos acompanhe, pois afinal, ela é o que ficou daquele que muito amamos e que já não está presente aos nossos olhos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Paciente Oito




E.L.A.

Não era "ela", mas sim era ele, um paciente do sexo masculino. Na verdade eram os dois, ele o paciente, com ELA (esclerose lateral amiotrófica) a doença neurológica. Eu como neurologista posso dizer, acho a doença mais "chata" da minha especialidade. A pessoa vai perdendo os movimentos dos braços e pernas, até ficar em uma cadeira de rodas sem se mexer. Além disso, vem dificuldade para falar, engolir e por fim dificuldade para respirar. Então, em aproximadamente um ano, vem a morte certa. A consciência fica preservada! É uma prisão em si mesmo! Um cativeiro! O remédio parece água com açúcar, caríssimo, e pouca coisa ele pode ajudar, mas praticamente só existe ele para a doença.  É claro, como toda regra tem uma exceção, e aqui digo: - "Graças à Deus! Porém, existem pacientes que apesar das dificuldades conseguem ter uma sobrevida maior. E sempre lembro de uma paciente com ELA há 10 anos, com sua bengala, mas vivendo e feliz. Parecia que ela não dava muita "bola" para sua doença... Por isso que nunca digo para meus pacientes com ELA, o que acontece com a maioria dos casos, fala sempre dessa paciente. Jamais tiro a esperança dos meus pacientes, não posso fazer isso, pois a esperança é a última que morre. E conta na mitologia grega, uma história mais o menos assim: Pandora, uma jovem, tinha em suas mãos uma caixa, que por orientação de Zeus, não poderia ser aberta, mas como a curiosidade mata, ela abriu. E dentro da caixa saiu um fumaça horrível, que trazia todos os males, doenças, dores, e a fumaça que se espalhou por todo mundo. Desde então, a humanidade passou a conviver com  todos esses males. Quando saiu, toda a "fumaça", Pandora olhou para dentro da caixa, e viu um passarinho verde, lindo, imediatamente ela fechou a caixa para ele não sair. E este passarinho chama-se "esperança", a que nunca devemos perder... E como Nietzsche diz: " A esperança é muito mais estimulante que a sorte.
Voltando ao paciente, ele entrou, mas não me parecia triste ou preocupado, acompanhando-o estava sua filha que já sabia de tudo sobre a doença. O paciente já estava praticamente diagnosticado por outro colega, com todos os exames e já havia sido prescrito o tratamento.  O paciente queria que sua força voltasse ao normal, e sua fala e deglutição melhorassem, mas estava sempre sorrindo. Expliquei que a medicação era aquela, mas ele já tinha tomado, e não tinha se dado bem com o remédio. O que estava fazendo bem para ele era um bochecho com antisséptico bucal. Então falei para ele fazer fonoterapia, fisioterapia, e continuar com seus bochechos. Porém a filha fazia perguntas estranhas, e falava para mim, que o pai dela não tinha consciência da doença que tinha, e que continuava fazendo de tudo e que queria continuar vivendo com sua esposa. Eu não estava entendendo, porque que ela queria que o pai tomasse consciência dessa doença, se ele não há tinha podia viver melhor assim, ótimo! Tudo já havia sido feito, e ele só queria continuar feliz os seus últimos dias de vida, fazendo o que ele julga bom para ele, sem pensar na ELA. A filha queria que eu o fizesse ter consciência que a doença, na maioria das vezes fatal, a pessoa vai ficando paralisada, quero dizer os músculos vão ficando fracos nos membros superiores e inferiores, depois atinge os músculos da deglutição e fala, e por fim, os músculos da respiração. A pessoa morre com insuficiência respiratória, mas a consciência está sã e preservada... Além de querer que seu pai tomasse consciência dessa tragédia, queria que ele largasse a casa onde vive com sua esposa, para ficar com os filhos. Perguntei para ele: - " O senhor quer sair da sua casa e deixar sua esposa? Ele respondeu: "- Claro que não doutora, ela cuida bem de mim, e estamos felizes! "Não aguentei, falei para ele que a consulta tinha acabado, para ele esperar lá fora, e que eu somente iria preencher alguns papéis”! Mandei a filha voltar, ele não merecia ouvir o que eu tinha para dizer... Quando ela voltou falei: “- Olha seu pai, tem uma doença fatal, vou pedir alguns exames para fazer diagnóstico diferencial, mas ele viverá  aproximadamente mais um ano (expliquei dos casos que surpreendem com uma sobrevida maior)”. Se o seu pai não tem consciência da doença que carrega melhor para ele. Se ele quer sorrir e tentar fazer tudo o que fazia antes, ótimo para ele! Vocês só precisam ver se o que ele for fazer não põe em risco a vida  dele e de outras pessoas, de resto ele pode fazer o que desejar. E se ele está feliz com a esposa, ela cuida dele, porque ele tem que sair de lá para morar com os filhos? A consulta acabou, mas ela insistiu que ele fosse encaminhado para o psicólogo e psiquiatra. Realmente, não era eu quem iria o fazer tomar consciência da doença dele. Lembro-me de uma história que o escritor Rubem Alves conta em um dos seus livros. O senhor velhinho na cama, quase morrendo, pediu para a filha como último desejo, que lhe comprasse um pastel. A filha olha para ele é diz: "- Papai, você não pode comer pastel por que é fritura vai aumentar seu colesterol". Aprendi que devemos apreender a respeitar mais os idosos... 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Barbies



 
Pueril


Ele quase acertou, eu não tinha coleção de "Barbies", era coleção de boneca de papelão. As Barbies não são da minha época. Na minha época tínhamos coleção de Susi e bonecas de papelão! Nada contra as barbies, mas prefiro as Susis. Não tínhamos uma coleção de Susis, e sim uma Susi para a vida inteira, porque não tínhamos muito dinheiro, graças à Deus! A minha Susi foi presente da minha madrinha Júlia. Minha irmã ficou sem Susi. Então, minha mãe comprou na feira duas bonecas parecidas com a Susi para nós brincarmos juntas. Um dia, fiquei muito doente com bronquite, não quis saber de bonecas, larguei a Susi de lado. Minha irmã aproveitou-se do meu desinteresse momentâneo pela boneca e ficou com ela. Quando melhorei e fui pegar minha Susi, minha irmã não queria devolver a boneca. Não teve jeito, meu pai teve que gastar seus tostões e comprar outra Susi. Agora sim, cada uma tinha sua Susi, e brincávamos, brincávamos com elas, trocávamos as roupas delas. Fazíamos roupas para elas com retalhos de tecido.  Às vezes, nossa mãe comprava roupinhas na feira para elas. Como éramos felizes. Agora coleção, só dava para ter de bonecas de papelão, porque o dinheiro era pouco. As bonecas de papelão eram vendidas na banca de jornal, recortávamos as bonequinhas e suas roupas e brincávamos com elas. O problema é que a coleção desapareceu com o passar dos anos. Ele insistia em dizer que eu tinha uma coleção de Barbie por mais que eu falasse que não. Ele dizia que havia algo em mim, que ele não sabia descrever, mas que eu era pueril. Dizia que minha puerilidade afetava sua seriedade, e era isto que o atraía, que o fazia me admirar... E então, ele dava uma risada, contaminado pela minha puerilidade, e voltava a ser criança, estava salvo novamente. Nossas tardes eram assim, voltávamos a serem crianças... Tenho certeza que se tivéssemos nos conhecidos na infância, seríamos muito amigos e passaríamos todas as tardes rindo e brincando. Eu consigo até imaginar, uma menina de vestido rodado, laço na cabeça, cabelos castanhos com olhos azuis, e um menino um pouco maior, com olhos azuis rindo e pulando...


Café da Manhã

 
 
 
 
Café da Manhã


Se alguém me perguntasse qual refeição do dia eu mais gosto, diria sem pensar, o café da manhã! Não tem nada mais gostoso que acordar, seja com um sol ou chuva na janela, sentir aquele cheiro de café, para mim a "bebida dos deuses", como falava na antiguidade... Tenho percebido que tem pessoas que nem tomam café da manhã,  porque não conseguem tomar ou comer pela manhã,  ou porque não têm tempo. Se eu não tomar o meu café pela manhã, não sou nada, não existo! É isto que estou fazendo agora enquanto escrevo, tomando o meu café! Dizem que o café faz mal para saúde, tem religião que até implica com o café. Isso eu acho o máximo da chatice! Se já não bastassem todos os problemas que enfrentamos no dia a dia, implicar com o café, é arrumar "pelo em ovo". Posso até dizer que, para quem tem problemas no estômago, como gastrite, úlceras, doença do refluxo gastroesofágico pode até não fazer bem. Outro problema é para adormecer, como ele é um estimulante do sistema nervoso central, tem pessoas mais sensíveis que  podem ter dificuldade para adormecer depois de tomar café, por isso recomendamos que seja tomado até às três horas da tarde, pois a meia vida do café é de mais ou menos oito horas. Acredito que sejam essas as precauções do café. Eu como médica, posso dizer que, pesquisas mostram que as pessoas que tomam mais café  tem menos chance de desenvolver doença de Parkinson e doenças cardiovasculares. Bem, voltando ao meu café da manhã, nunca esqueço um café da manhã em um hotel, cujo nome eu não consigo lembrar, em Berlim, na Alemanha. Tinha tudo de bom, com um sabor indescritível, champignons cozidos, ovos mexidos, pães maravilhosos, geleias de todo o tipo, queijos de todos os tipos, cereais, sucos, iogurtes, manteiga e café...  Aqui no Brasil, foi em Recife, também não lembro o nome do hotel, mas havia uma mulher só fazendo tapiocas maravilhosas, era só escolher o sabor! E o café da manhã, em um cafezinho lindo que tem há muitos anos na praia da Enseada no Guarujá, é maravilhoso! Uma vez, ganhei de um namorado, um pacote de café da fazenda da família dele, eu adorei o presente! Se ele tivesse me dado outro presente não teria agradado tanto, realmente as coisas não estão no valor que elas custam, mas sim, em todo um significado simbólico de toda uma situação... Outro namorado me ensinou que geleia de laranja no café da manhã é uma delícia! Pura verdade, nunca tinha dado bola para geleia de laranja! Já o meu amor, adorava tomar café com pão de queijo, era um, dois, três pães de queijos dos grandes por vez... Enfim, nada melhor que começar o dia com um café da manhã...

domingo, 2 de outubro de 2011

Paciente Sete




Trocar a cabeça



Chamo a paciente, uma senhora por volta dos 80 anos com doença de Alzheimer. Então pergunto: - Como vai a senhora? Ela responde: - Não sei dizer doutora, às vezes acho que estou bem, outras vezes acho que estou mal. Pensei, realmente nem sempre estamos bem! Às vezes, tem uma coisinha que incomoda uma dor de cabeça, uma dor de dente, uma dorzinha no pé, nas costas, algo que ouvimos e não conseguimos "digerir", quero dizer, "um sapo não engolido".  O famoso sapo, entalado no meio da garganta, que às vezes fica como uma sensação de "bolo". Contra isso só tem dois remédios, ou se engole o sapo e não se pensa mais nisso, ou se põe o sapo para fora. Ao colocar o sapo para fora, temos que tomar cuidado e lembrar, que uma palavra proferida, pode jamais ser esquecida...  Uma vez, visitei um consultório de uma colega, que tinha uma placa bem visível aos olhos dos pacientes: "Se você já passou dos cinquenta anos, e não tem nenhuma dor, meu amigo (a), sinto-lhe informar que você morreu". Pura verdade! Então, conclui que a paciente estava bem. Porém, essa paciente tinha Alzheimer, e eles sempre me surpreendem com alguma frase que me faz pensar filosoficamente. Ela disse: “- É doutora tudo bem, mas se desse para trocar a cabeça seria bom, é que às vezes ela não funciona muito bem”... Então, como algumas pessoas trocam de coração, fígado, córnea, medula, ela pensou em trocar a cabeça, o cérebro... Então, falei: “-Infelizmente ainda não existe transplante de cérebro”! Não tem como trocar sua cabeça, e pense bem Dona Maria*, se trocássemos sua cabeça, a senhora não seria mais a Dona Maria e sim outra pessoa, não é?  E ela concluiu que sim. Melhor ficarmos com a nossa cabeça e sermos-nos mesmos, do que trocar de cabeça e não sermos mais nós. Com as nossas cabeças, mesmo quando a mesma falha, ou faz algo estranho, não estamos sendo levados pela cabeça de ninguém. Ela saiu muito feliz da consulta, a cabeça dela tinha seu valor...