sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Leonard Cohen - Dance Me to the End of Love





Adeus...

O amor






O amor


O amor é grande, mas cabe dentro de um olhar...
O amor é grande, mas cabe dentro de uma flor...
O amor é grande, mas se aperta no coração...
O amor é grande, mas cabe dentro de uma lágrima!

E é tão grande que atravessa oceanos,
Muda todos os planos,
Banha as estrelas,
Atravessa o Universo...

Na verdade, o amor não tem tamanho...
Penso que não possa ser medido,
Nunca esquecido,
E nem mesmo vencido...

Não existe nada mas lindo,
Que o amor, seja ele qual for,
De onde surgir,
Para onde quiser ir...

E se não fosse ele,
Nada faria sentido,
Muitos teriam desistido,
Seja lá do que for...

E nada está perdido,
E tudo se transforma,
Não importa o tamanho,
Quando o amor de faz...

E nesse mundo de reveses,
Onde tudo parece confuso,
Há de se haver esperança...
Que o amor vença sempre...

E num coração desolado,
Onde não se acredita mais no amor,
Basta olhar ao seu redor,
E o encontrará dentro de um olhar...

É preciso estar atendo,
Quando se perdeu a esperança,
Olhe para uma criança, olhe uma joaninha, olhe uma flor,
E neles encontrarás de novo, o amor...



By Lilian Regina Gonçalves
11/11/2016

sábado, 5 de novembro de 2016

Álvaro de Azevedo Marques Junior


Alvão








          O Alvão era o meu professor de Direito Civil, digo era, porque não é mais, partiu... Foi mais um que desapareceu das pessoas que amo... Digo que o amo porquê o amo, como diz Fernando Pessoa:
" Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?". Era um amor de admiração, pois não conseguia entender, eu até uma neurologista, ter um professor de idade já avançada e tão ativo e competente, dando suas aulas, para tantas turmas da faculdade, indo e vindo, tendo uma vida independente, admiro essas pessoas...
          Já no primeiro ano da faculdade, antes mesmo, de ter aula com ele, já via o tal "velhinho", digo assim, porque ele próprio se autodenominava desse modo, porque acho que ninguém é velhinho, todo mundo é uma alma, umas mais bonitas e outras mais feias... Ele era uma alma bonita, se via de longe, só por ser um professor, aquele que quer ensinar, que quer transmitir seus conhecimentos tão difíceis de serem aprendidos é um herói, pelo menos neste país que sabemos que os professores não são muito valorizados... Os alunos tinham medo dele, diziam que a prova era difícil, que haviam duzentas perguntas para serem estudadas e decoradas para a prova, e que era uma catástrofe... Eu não via assim e pensava, gosto dele mesmo assim... 
          Então, uma surpresa aconteceu, fiquei sabendo, não me lembro como, que ele havia estudado com o meu padrinho Antônio Gouveia na segunda turma de Economia da Fundação Santo André (FSA), como não acredito que acasos não existem, fui perguntar para o meu padrinho se ele se lembrava dele, sim, meu padrinho lembrava, da mesma forma, eu fui para o Alvão se ele lembrava do meu padrinho, mas ele não lembrava... Pensei, não faz mal, quem sabe se encontram na minha formatura e se reconhecem, conversam, lembram dos tempos antigos, e tudo será divertido e engraçado... Meu padrinho já está convidado, será meu padrinho da formatura de Direito, como foi de Batismo e da Faculdade de Medicina, pensei nesse reencontro, porque a vida é feita de conexões das quais nem imaginamos..
          Quando começaram as aulas de Direito Civil II com ele no segundo ano, não tinha me enganado com minhas expectativas, ele era um excelente professor, explicava tudo direitinho, todas as leis, dava exemplos muitas vezes engraçados, eu me divertia muito, quando podia tirava uma foto com o celular escondida para mostrar para meu filho Lucas de 9 anos que eu tinha um professor velhinho, ele vibrava... 
          O que ele escrevia na lousa era difícil de entender, mesmo porque, eu como médica já via a dificuldade dele em elevar o ombro, havia uma limitação, era evidente, mas ele ignorava... A fala, às vezes devido a própria idade, também era difícil de entender, mas após seis meses já estávamos entendendo até o que ele escrevia na lousa.  Os alunos mais novos não compreendiam as dificuldades dele, mas eu, como médica, neurologista, clínica geral sabia de tudo e só podia olhar para ele e admirá-lo...Ele me chamava de Regina, não de Lilian, é são poucas pessoas que me chamam pelo meu segundo nome, ele dizia que era Regina significava rainha... Eu ficava morrendo de desapontá-lo e ir mal na prova dele, mas isso não aconteceu... Ficava feliz porque iria ter mais um ano inteiro, o terceiro ano, de Direito Civil com ele...    
          Às vezes, eu via o Alvão chegando e indo embora da faculdade com sua pasta de apontamentos na mão, andar incerto da idade, ficava meio apavorada e pensava comigo: "- Ai meu Deus se ele tropeça e cai, nestas escadas e rampas, fechava os olhos e pensava firme que isto não iria acontecer". E não aconteceu na faculdade, mas ele caiu, como tantos outros velhinhos caem... Na residência de neurologia fiz um trabalho junto com a geriatria sobre "Quedas em idosos" e como isso era frequente e avassalador para os idosos, lembro que eu ia ao Ambulatório de Geriatria, entrevistava os idosos e era cada coisa que acontecia que só com anjo da guarda mesmo...
          Infelizmente a história teve um desfecho triste, ele caiu e acabou indo, faleceu... Eu gosto do termo "desaparecimento", não faleceu. Aprendi esse termo com um idoso de 93 anos, que como o Alvão, é um perfeito gênio, tem as limitações do corpo, mas o cérebro está lá, funcionando bem e a todo vapor... Quando o filho dele, que era meu melhor amigo, faleceu com cinquenta e um anos com infarto fulminante, e seu Lysis, com oitenta e sete anos dizia quando conversávamos e conversamos: "- ...desde o desaparecimento do Flavio etc", eu gostava do termo que nunca havia ouvido " desaparecimento", então penso, não, eles não morreram, eles desapareceram, mas estão em algum lugar... 
          Quantas saudades professor!















Lilian Regina Gonçalves
05/11/2016     

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Eles se foram...





Eles se foram...






          Eles se foram, se foram para nunca mais voltar. Partiram para não sei onde e deixaram uma saudades de que fere, maltrata, faz chorar. É saber que não dará mais para vê-los, nem escutar suas histórias, suas explicações, e que essa ausência para sempre. 
Por mais que a morte da minha avó tivesse me abalado, nada foi maior do que a morte do meu melhor amigo, foi como se eu tivesse levado uma facada dentro do coração. Já faz mais de cinco anos do seu "desaparecimento" e a ferida só amenizou...
          Quando o Flávio Aloe faleceu procurei saber onde ele estava de toda maneira, eu tinha que encontrá-lo de qualquer maneira. Como em cinco segundos ele caíra morto de infarto fulminante sem ao menos me dizer: "- Já vou para nunca mais...". 
Eu como neurologista, quero sempre saber o porquê das coisas, sei que não sou Deus e nem sei se ele existe. Fiz todas as perguntar para mim a nível de neurociências, procurei em todos os livros, sites, sobre para onde vai nossa consciência depois que morremos, já que o corpo já sabemos... Li muito sobre Experiência Quase Morte, que era minha esperança que parecia mostrar que íamos para algum lugar, mas a neurociência tinha uma explicação neurofisiológica para tudo, o túnel de Luz, a recepção das pessoas que já tinham ido... Irá impossível combater as explicações da neurociência: "não existe nada".
          Procurei todas os tipos de religião, falei com todos seus representantes, ninguém me convenceu, Eu andava de carro e se via uma igreja com Luz entrava e falava e perguntava... Ouvi de tudo, em alguns momentos acreditei para desacreditar depois... Algumas religiões diziam que ele estava dormindo na terra até o dia do juízo final, outras que ele estava numa das moradas do Pai, outras que ele estava num hospital de recuperação no céu, foram tantas coisas que ouvi que não consegui aceitar nada. O que pude concluir é que para quem tem uma religião e acredita nisso e bem mais fácil viver, mas para mim, para mim? Uma neurologista como acreditar? Eu tenho uma religião, porque o cérebro é preparado para se acreditar em alguém para amenizar a própria morte.
          Muitas coisas aconteceram, busquei até uma psicografia que até me ajudou muito, parecia muito ser palavras dele... Mas a neurociências também comprova todos esses fenômenos como sendo da própria atividade cerebral, temos capacidade de saber o que outra pessoa está pensando. A psicografia nada mais é do que uma pessoa lendo a mente da outra, não era o Flavio, era os meus próprios pensamentos... A única coisa que me acalmou foi um amigo que também neurologista disse para mim: "- Calma Lilian, a Física Quântica  um dia irá explicar...". Parecia plausível a ideia dele! Li um pouco de física quântica mas não entendi muita coisa, mas acho que a resposta estará aí...
Por incrível que parece depois que o Flavio Alóe faleceu, comecei a ir no Divã do Gikovate, Flávio Gikovate, queria perguntar para ele algo sobre isso, um médico, psiquiatra, psicanalista, deveria ter algo para me falar. E foi ele quem realmente me ajudou a aceitar o fato. Com seu jeito preciso, sem muito blá, blá, blá, disse logo: "É uma pena! Mas nunca iremos saber, só saberemos quando realmente passarmos para o lado de lá, e não tem o que fazer...E eu, em particular, não estou nem um pouco interessado em saber o que tem do lado de lá, porque estou muito feliz aqui! Todos iremos saber um dia". E ainda citou o filósofo Sócrates, que preferiu tomar cicuta ao negar seus princípios filosóficos e escapar como um covarde fugitivo. E Sócrates dizia mais ou menos assim: "- Eu não tenho medo da morte, ou ela será um sono profundo da qual nunca mais iria acordar, mas se existir alguma coisa, eu vou encontrar todos os poetas que gosto e será uma festa!
          E foi assim, que o Flávio Gikovate conseguiu por paz no meu coração... Grande homem, sábio, de uma visão ímpar da relações humanas. Eis que o pior aconteceu, este ano, em Abril, se não me engano, descobriu um câncer de pâncreas. Todos os médicos sabem que este câncer é o pior que tem, que em cinco meses a pessoa se vai... Ele estava esperançoso, mas tenho certeza que sabia do que se tratava, mesmo assim seguiu em frente com toda força do mundo, escreveu um livro novo, lançou-o na Livraria Cultura do Conjunto Nacional e foi um sucesso. Eu disse para o Flavio pelo Twitter, que o David Bowie, quando soube de seu câncer fatal, não se esmoreceu, gravou um CD que que foi considerado uma obra de arte "Lazarus", e que ele teria forças e ainda lançaria um novo livro. No final fiquei até chateada de ter dito isso para ele, porque era como que eu estivesse dizendo que não teria jeito o câncer de pâncreas... Ele continuou com o programa no Divã do Gikovate numa menor frequência, mas eu nunca mais tive coragem de o vê-lo. Realmente sou uma pessoa fraca para morte... Já levei muitas broncas por causa disso, foram tantas que já perdi as contas, mas esta sou eu. Saudades dos Flávios!