sábado, 30 de junho de 2012

O avião





Avião


Você é tão grande,
Você é tão poderoso,
Voa nos ares,
Todo pomposo!


Estou aqui dentro,
Nada posso fazer,
Apenas olhar o céu,
E adormecer...


Avião, voa, voa,
E leva-me rapidinho,
Para os braços do meu amor,
Que são cheios de carinhos...


Que boba essa poesia,
Sobre uma moça e um avião,
Que sonha que ele voe depressa,
Para perto de sua paixão...


O avião ainda no chão,
Esperando o sinal,
Não sou mais eu, sou eu e ele...
Somos um só afinal!


Estou aqui no céu,
Nas nuvens de algodão!
Já sinto saudades,
Do meu pedacinho de chão...


Tenho medo de estar aqui,
Tenho medo de avião...
Resta-me fingir,
Que seguro a sua mão...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Padre e o Anjo






O Padre e o Anjo



O padre estava lá no meu voo TAP 85 destino a Portugal. Ele viajava sozinho, na janela, com sua maleta de mão coberta com um pano de flanela branca com uma cruz vermelha bordada. Dessa vez eu não tinha intenção de fazer o checking o que me interessava? Viajaria sozinha, qualquer lugar podia ser sem ser ao lado da janela porque senão  passado quatro horas de viagem começo a abrir e fechar a janelinha sem parar, um tipo de “medo de avião”...
Decidida a não fazer o checking online mudei de ideia, ligo o computador, abro o site da Tap a ir Portugal, e entro no meu avião online... Tudo já praticamente ocupado! As cadeiras vazias piscavam em verde no mundo virtual. O computador sugeria-me um assento, até que parecia um bom assento não ficava em frente a outras cadeiras de avião, mas sim em frente às paredes dos banheiros do  avião. O lugar podia ser até mais confortável mais perto do banheiro do avião? Não é por nada, mas a todo tempo tem gente querendo ao banheiro, e é um passa pra lá passa pra cá, fora o cheiro nada agradável que se instala depois que quase a toda tripulação já foi ao “toaillete”
Sobravam dois assentos, um para o fundo do avião outra na frente, ambos os lugares corredores e não nas janelas. Não gosto de ir à frente do avião, parece-me que se o avião cair de bico no solo quem tiver no “rabo” do avião ainda tem uma chance para sobreviver. Mas desta vez escolhi a parte da frente, do lado do senhor padre de oitenta e seis anos de idade que rezava para que Deus lhe enviasse um anjo para sentar-se ao seu lado. Não que eu me considere um anjo, mas o anjo que ele esperava sentou: “eu”, com toda a paciência do mundo!
Ele se apresentou Senhor Joaquim, era muito simpático e logo começou a falar e falar... Eu o observava, um terno com um broche em cruz a maleta caracterizada logo presumi que se tratava de um padre velhinho. Respirei aliviada, tinha escolhido o lugar certo!
Foi então, que ele se apresentou como senhor padre, que estava no Brasil há 50 anos, e o engraçado que percebi é que não havia perdido o sotaque. E que viajava para dar uma olhadela na sua casinha em atrás dos montes, em Vila Real. Às pessoas ao meu redor começaram a olhar para mim e como dizer: “- Você está perdida com esse padre falador a noite toda ao seu lado no avião...”, mas elas não sabiam que ele tinha pedido um anjo para acompanhá-lo na viagem e mesmo sem saber sentia que iria cuidar daquele solitário, padre, velhinho talvez a noite inteira.

Com o tempo fui percebendo que ele não estava acostumado a viajar muito e não sabia dos rituais do avião. Eu lhe auxiliava em tudo. Liguei a televisão, ensinei a mexer no touch da tela, colocando em filmes, músicas etc...
Mostrei-lhe os fones de ouvidos, mas ele não quis saber deles. Hora ou outra ele pedia para eu dar licença para ele passar para andar e fazer exercícios com as pernas no corredor do avião. Todo mundo olhava para mim com dó, torcendo que o velhinho fosse dormir, mas ele não parava de falar. Mal sabiam eles que eu estava toda feliz com o senhor padre que havia rezado a despedida do Ayrton Sena no Cemitério do Morumbi e que conhecia o Papa João Paulo II, e que amava ler livros de filosofia. Então, eles perceberam que eu estava muito bem ao lado do senhor padre por mais que ele entrasse e saísse do seu assento ao lado da janela, e por mais que ele quisesse conversar...
Chegou a hora do jantar! E ele pergunta-me: “- Mas como vamos jantar assim?” Mostrei-lhe a mesinha que se abria, das costas do assento d frente, o lugar onde por o copo e tudo mais...Montei sua mesa de jantar, abri seus talheres e queijos e manteigas pois com a mão trêmula dos seus oitenta e oito anos ficava difícil ainda mais com o avião balançando. Eu pedi até um ataca de vinho para mim e para ele. Foi quando ele sujou seu terno australiano guardado só para momentos especiais, pois eu dei um jeito de limpar o terno para ele. Foi quando ele puxou de dentro de sua camisa um cordão com uma santinha que não soube distinguir quem era ele disse que não era conhecida disse que se tratava de ser a Santa Angélica. Então ele disse: “- Eu rezei muito para que um anjo se sentasse ao meu lado!” Você  está cuidando de mim! Eu pensei, não sei se sou anjo, mas neste momento sou!
Insisti para que ele trocasse de lugar comigo mesmo que eu tivesse que ficar na janela que odeio, mas não teve jeito, ele ficava lá, e tempos em tempos pedia licença para sair para caminhar, dizia que as pernas estavam estranhas e que tinha escolhido mal o terno porque não era confortável para a viagem... Ele quis ir bonito, com seu terno australiano e agora o mesmo o incomodava... Entre idas e vindas, acordei sentada do lado da janela para o café da manhã. Perguntei para o padre se ele tinha e-mail, disse que não, mas logo compraria um notebook... Eu disse: “- Compra sim!” Então escrevi para ele meu nome, endereço, telefones e vou esperar seu contato.
Foi uma viagem muito agradável...


sábado, 23 de junho de 2012

Brisa Leve






Brisa Leve



E foi como uma brisa leve que ele tocou minha face, sua ausência, sempre sentida, tocou-me como poderia me tocar como um vento, uma brisa. Não soubesse todos os ventos que já vieram ao encontro à minha face poderia enganar-me, mas esta brisa só podia ser ele. Ela veio de tão longe, atravessou oceanos e veio ao meu encontro, era meu aniversário...
Eu estava subindo uma escada, no céu, noite estrelada, silêncio, a brisa tocou minha face, parei imediatamente, fiquei imóvel, como se flutuasse, era ele, não podia deixar de vir no dia do meu aniversário! Se ele fizesse isso, ele sabe eu brigaria, mas estava livre  de todas as minhas  maldições, ele veio...
Não sei como conseguiu essa proeza. Parei por alguns minutos, não conseguia me mover, porque a brisa não conseguia me deixar passar... Eu fiz um minuto de silêncio, olhei para o céu estrelado, dei um grande sorriso, parecia estar sendo embalada por algo muito bom. Nada podia confundir esse momento mágico!
Bem sei eu que querias dar-me um presente, numa caixinha, com um laço enfeitando, mas o que poderia conter nessa caixinha se tudo o que eu queria era mesmo o teu beijo em brisa e céu estrelado num segundo transformado!
São esses infinitos segundos que nos dão força para viver, saber que o amor muito além de preso em caixinhas de joias, sacolas enfeitadas, flores compradas é muito mais que isso, não está preso em recipientes e nem pode ser comprado ou amarrado, é brisa leve encantada!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Presença Ausência







Presença Ausência




Eu sei que você está longe
Mas perto do meu coração,
Cada vez que fecho os olhos,
Lembro-me de uma canção...


Não fosse aquele dia em que te vi
Nada teria existido,
E você agora,
Não estaria em meus sentidos...

Mas a noite se fez mágica,
Como bolas de sabão...
E agora te trago,
Aqui dentro do meu coração!


Também é mágico o pensamento...
E corre tão veloz!
Ao fechar meus olhos,
Vejo-te e escuto tua voz!

Foi Deus que fez assim
Esse mundo misterioso
E transformou-o de uma só vez
Num bombom delicioso!


Se não fosse sua “presença ausência”...
Tudo seria sem graça,
E jamais me lembraria,
De quando você me abraça...



For you...

domingo, 17 de junho de 2012

O Cheiro do Amor





O Cheiro do Amor


E o cheiro do amor se transformou,
Virou cheiro de filé mignon
Com molho de mostarda
Shoyo com champignons. 


Tem vinagre balsâmico italiano
Vinho tinto espumante
Uma pitada de maisena
Um molho negro de sabor inebriante...


O amor está no ar
Com seu cheiro de especiarias marcantes
O leite em creme é sedutor
A nós moscadas tem cheiro refrescante


Tudo é sutil
Ao mesmo tempo marcante,
Entre o fogo, a panela, os temperos,
O amor é o mais importante....




quinta-feira, 14 de junho de 2012

Plantão





Plantão


E vendo que já são quase duas horas da manhã, lembrei-me dos meus plantões da residência de clínica médica da Santa Casa. Chegava certa hora da madrugada que o pronto socorro começava a esvaziar. Os mendigos já haviam chegado, já estavam acomodados no isolamento por causa do risco de terem tuberculose e contaminarem outros pacientes. Os pacientes com infarto agudo do miocárdio já estavam estabilizados, os pacientes com diabetes mellitus descompensados já começavam a melhorar, pacientes com aumento da pressão arterial já estavam medicados e esperando a pressão arterial chegar aos níveis pressóricos normais  e finalmente os pacientes com distúrbios psiquiátricos todos sedados e quietinhos esperando o dia amanhecer.
Quando já tínhamos estudado e preparado todos os resumos dos casos de todos os pacientes em pequenos rascunhos de papéis para passarmos para o chefe às sete horas da manhã na visita geral com toda equipe presente. Quando as serventes começavam a lavar o chão do pronto socorro quase nos enxotando para fora do recinto era hora de dividirmos o horário. Éramos dois residentes, um deveria ficar acordado cuidado de tudo e o outro ia para o conforto médico que ficava bem longe e no último andar do hospital. Lá estavam todos os beliches, e nós exaustos procurando um vazio para deitar o corpo e fechar os olhos por pelo menos uma hora. E assim era nossa vida, tudo calmo às quatro da manhã, três horas até às sete da manhã, uma hora e meia para cada um procurar um beliche vazio do outro lado do hospital.
Acaba de bater duas horas da manhã, preciso descansar fechar os olhos... Até às sete da  manhã são cinco horas, mas não precisarei dividi-las com ninguém...

Coisas do Coração!









Coisas do coração!


Eu não sei por que,
Eu não quero saber,
Não quero dormir,
Não quero entender...

Quero sempre estar,
Pairando no ar...
Eterna consciência
De te amar...

O amor é alquimia
Faz tudo transformar
E se for verdadeiro
Faz-nos voar

O que quero pensar?
Nada, nada, nada...
Não são com palavras
Que hei de explicar...

Mundo, mundo, mundo,
O que você entende do coração?
Não me venha com teorias,
Do que é a paixão...

Dá licença mundo,
Eu quero passar,
A vida me chama,
Num breve sussurrar...

E os dias se transformaram,
Num carrossel colorido,
Não façamo-lo parar,
Não faz sentido...




Meu Diário 23/02/1997
LRG

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Você!







Achei na agenda 1997!




Você!

Quando vier a inspiração,
Escrevo uma poesia para você,
Agora são só pequenas palavras,
Que quero dizer...

Para mim valeu a vida
Por te conhecer
O importante é.
Que infinito segundo você me fez viver...

Não  quero pensar
Só quero sentir,
Só posso gostar
E não discutir...

O que é essa vida,
Senão apenas momentos...
A felicidade é isso!
Pedaçinhos dos bons sentimentos...

Quero fechar os olhos
E apenas sonhar,
Você é a alegria,
De o meu despertar


Não sei por quê?
Não sei como?
Você apareceu!
Como um sonho...

Talvez seja um sonho,
Mas eu quero sonhar,
E nos seus braços,
Despertar...

For You...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Querido Amigo Velhinho!







Querido Amigo Velhinho!

Meu novo e velho amigo
No dia em que te vi,
Antes mesmo de te conhecer,
Tive a sensação que nossa amizade iria crescer.

Que história mais esquisita,
Nesse mundo gigante,
Saber que seria sua amiga
Mesmo antes tão distante!

O tempo parece que não existe!
Sinto que te conheço muito antes,
Da nossa primeira conversa,
Sinto que apenas te reencontrei...

Meu amigo de idade avançada
Oitenta e oito anos para sua alma é nada
Apesar do corpo cansado
Dessa longa caminhada!

Eu sei que você é um velhinho,
Com a alma de menino,
Nesse corpo já marcado,
Pelos sinais do tempo passado...

Ah meu amigo!
Eu sei que está chegando sua hora,
O tempo não nós perdoa
Mas não me deixe sozinha agora!

Amigo querido, amigo velhinho,
Você tem um cantinho
Dentro do meu coração
Sentirei saudades quando seguires o caminho...

Meu amigo querido amigo velhinho,
Você é preciso na minha vida,
Peço a Deus que te ilumine,
Que não seja agora sua partida...





For you Lysis!

A Sutileza da Velhice





A Sutileza da Velhice


Ele estava lá na academia de ginástica que frequento seu nome ainda não sei, sua idade deve ser para mais de oitenta anos. Olhei para ele quando ele falou que tinha que ir devagar aos exercícios de musculação, um pouco por dia, porque senão não dava para aguentar...  Foi nesse momento que comecei a filosofar sobre a velhice percebendo que como nós tornamos delicados, frágeis... Tudo vai se esvaindo do nosso corpo, tudo vai dizendo adeus a essa vida.
Ele se encaminhou para um aparelho de musculação estava vestido com uma bermuda jeans bege um pouco acima do joelho e uma camiseta branca. Notei seus passos incertos, o cuidado  ao caminhar para não cair de “maduro” no chão, sua pele fina da velhice, tão frágil que qualquer batida nelas é motivo para ficarem hematomas. A pele torna-se tão delicada que resseca fácil e acaba até provocando coceira. Ele virou-se e sentou-se no aparelho de ginástica com todo cuidado. Notei seu rosto, a pálpebra caída, a pele flácida, frágil, as rugas que o tempo fez marcar em nossos rostos ou com risos ou lágrimas, mas elas são a prova de que se viveu... Foi então que comecei a pensar nas tão temidas rugas! Olhei para outras pessoas na academia, todos tinham suas rugas e eu não conseguia achar nenhuma ruga feia. Porque as rugas são feias? Comecei a pensar que acharia mais feio um velhinho sem ruga nenhuma... As rugas me pareceram bonitas e achei a velhice tão sutil!
A velhice é para desacelerar, a velhice é a vida se transformando em frágil, delicada. A velhice é o caminho que todos iremos percorrer... Porque não fazer desse caminho, um caminho lindo, assim como a juventude? Não lindo e cheio de vigor, de força igual à época em que somos jovens, mas sim, leve, sutil, com passos lentos e memória curta.
Assim como damos valor às crianças devemos dar igual valor aos velhinhos. Não são só lindas as crianças! Os velhinhos também são engraçados, às vezes cismam de contar piadas, eles terminam de contar aquela piada sem graça, sem graça, e a gente faz o maior sacrifício para dar risada. Outras vezes, contam toda a história de suas vidas, tão bonito!
A velhice é um diamante lapidado pelo tempo! A velhice é tudo que fomos e somos! Ser velho é ser mais sábio, é ter mais discernimento, mais sabedoria... Querendo ou não vamos aprendendo com a vida, haverá tempo para tudo, e ser velho é ter todo esse tempo no seu cérebro, na sua memória.
Minha avozinha era tão velhinha e frágil morreu aos oitenta e nove anos de idade, mas sua memória estava íntegra. Naquele cérebro senil havia experiências de décadas. Quando lhe contávamos alguma coisa ela dizia: “É a vida minha filha, é a vida!”. Agora penso nessas palavras é digo a mesma coisa: “-É a vida, é a vida...”
   

sábado, 2 de junho de 2012

Paciente Trinta e Quatro: O esqueleto!






O Sonho, a Morte e o Esqueleto

O senhor Geraldo, um senhor de oitenta e um anos de idade, entrou no consultório. Ele estava admirado, depois de muitos anos sem sonhar ele tinha sonhado na noite passada! Ele sonhou, sonhou com a própria morte... E então começou a contar seu sonho instigante. Disse que estava lá ele, morto, todo calmo acompanhando todos os acontecimentos de sua morte. Ele, que nunca pensou em ser cremado, iria ser cremado! E foi assim acompanhando seu funeral tranquilamente chegando ao crematório com toda cerimônia. Quando estava lá começou a pensar no próprio sonho, o que está acontecendo? Eu sou aquele morto que será cremado? Percebeu no sonho que ainda estava vivo, acordou! Chegou dizendo na consulta que hoje ele havia nascido de novo! Essa vida é engraçada com seus mistérios. O senhor Geraldo havia acabado de nascer com oitenta e um anos de idade...
Perguntei se ele gostaria de ser cremado quando morresse, ele disse: “- Não doutora, eu nunca tive esse desejo...”!  Caímos na gargalhada, que sonho inusitado! Então também falei: “- Eu também não quero ser cremada”! E pensando agora sobre o meu corpo morto quando esse dia acontecer, eu não quero em hipótese alguma ser cremada. Não sei como é o processo, mas quero que meus ossos sejam doados para minha faculdade de medicina (Medicina Santo Amaro em São Paulo) para que os alunos possam estudar anatomia. Não quero ficar inteira no formol, quero ficar um esqueleto envernizado...
Quando comecei a faculdade de medicina em Volta Redonda no Rio de Janeiro, onde passei um mês vindo depois para a Medicina Santo Amaro, nós conseguimos um esqueleto inteiro para ficar dentro do nosso apartamento. Quando voltávamos da faculdade à noite, pegávamos nosso livro de anatomia, espalhávamos o esqueleto inteiro a sala e começávamos a estudar osso por osso. Quando mudei de faculdade ficou lá naquele apartamento meu esqueleto de estudo. Já em São Paulo, consegui um osso temporal para mim, seria o osso em que está o ouvido, ficava na minha escrivaninha. Meu pai ficava todo incomodado com o osso e dizia: “- Aí filha, de quem será essa orelha?”.  Eu respondia sem nenhuma preocupação: “- Não sei pai, não sei de quem é essa orelha...”.