terça-feira, 26 de novembro de 2013

Quisera!






Quisera!


Quisera eu que algumas lembranças, memórias contidas em meu cérebro fosse apagadas. Penso naquele filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (Eternal Sunshine of the Spotless Mind), no qual Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que durante anos tentaram fazer com que o relacionamento desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele; eu gostaria que tal procedimento existisse. O filme é uma ficção científica, do ano de 2004, e realmente espero que um dia essa ficção científica vire realidade. Eu, como neurologista, acredito muito que um dia isso será possível, e então, gostaria de me submeter a tal procedimento.
Queria sim apagar memórias do meu cérebro! Seria uma beleza acordar e não se lembrar de coisas indesejáveis, memórias que vira e mexe pipocam no seu cérebro. Elas parecem erva daninha, você não quer pensar que viveu tal situação, que conheceu tal pessoa, mas seu cérebro vai lá e resgata essas memórias sem você querer! 
Enquanto isso não é possível (por enquanto), vou fazendo uma listinha de tudo que quero esquecer para sempre, e quando tal procedimento existir, vou lá e até me candidato ao grupo de estudo experimental, vou ser cobaia. Eu quero deletar essas memórias como a Clementine, personagem do filme fez. E acordar no dia seguinte, leve, livre e solta, "formatada". 
 
  
 

domingo, 24 de novembro de 2013

Nononono!

 
 
 
 
Nononono!
 
 
Seria cômico se não fosse trágico, mas fato é que o ocorrido era verdadeiro. A paciente estava lá, sentada na minha  frente, tinha tido um "derrame", um AVC (acidente vascular cerebral) e de todo o vocabulário aprendido no decorrer dos seus sessenta anos foi a sílaba "no", que falava quatro vezes repetidas, tornando-se uma palavra "nononono".
No início, até pensei que a sílaba "no", queria dizer "não", mas não era isso, ela dizia "nononono" para tudo mesmo que a pergunta derivasse uma reposta afirmativa. Falava "nononono" e afirma com a cabeça. Realmente, era o que lhe sobrara da sua fala, todo o seu português. 
Fiz perguntas para a paciente, ela respondeu, disse seu "nononono", eu acho que entendi. O filho que a acompanhava na consulta deu uma risada, realmente era cômico, se não fosse trágico, até ela mesma ria. A vida havia pego uma peça na senhora...
Fiquei pensando, porque lhe restar apenas essa sílaba no vocabulário, "no", seria não? Não há tantas coisas que queríamos realmente dizer "não" e falamos "sim"! Eu mesmo demorei para dizer "não", não como palavra, mas como vontade, para pessoas, para situações... Luto até hoje com esse "não", esse "não" que é: não quero, não posso, não estou com vontade, não gosto disso, não vou fazer isso para agradar o outro, e tantos outros não... Às vezes, é impossível dizer não, mas outras vezes é imprescindível, mesmo que gente fique com cara emburrada...
Depois de vários anos de terapia, sempre lembro da minha mestra dizendo: "- Olhe sempre para dentro de você! Puxe a camiseta vestida, coloque a cabeça lá dentro e pergunte para seu coração, e se a resposta for não, escuta-te, diga não! Porque se não a vida vai acabar arrumando uma forma de você dizer "não"....   

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O HOMEM (JESUS CRISTO) legendado - Roberto Carlos / Erasmo Carlos.avi

O Comboio Parte II





O Comboio Parte II


Já faz um ano que andei nesse comboio,
E estou aqui com minhas anotações,
Livrinho amarelo, com minha letra,
Todo escrito em forma de orações...

Estou em pensamento dentro daquele comboio...

Entra uma senhora apressada,
Com um casaco cor de caramelo,
Procura o número de seu assento...
O comboio não pára em segue em movimento...

Olho pela janela,
Um homem no meio do mato,
Ele tem uma fogueira acessa,
Um boné e uma história na cabeça.

E lá vai o comboio...

Entra o fiscal no vagão,
Conferi os lugares,
Pedi os bilhetes,
E segue no seu trabalho, todos pagaram pela viagem!

Árvores com folhas amarelas,
O barulho do trem sobre os trilhos,
Seguindo seu caminho,
E amanhã, passará novamente e nada será igual...

Outras pessoas estarão no trem amanhã,
Outra paisagem,
Folhas de árvores caídas,
E o homem do boné, talvez não esteja mais no mesmo lugar...

Vejo muitas pedras, pedregulhos pelo caminho,
Lembro-me do poema de Carlos Drummond de Andrade,
"No meio do caminho",
No meio do caminho havi uma pedra...

Penso na vida finita que conheço,
Penso  no infinito,
Penso no cientista, no filósofo e professor,
Penso na alma mais bonita!

Penso no amor eterno,
Nas almas gêmeas,
No amor inesquecível,
E viver além disso, apesar disso...

Eu podia dormir na viagem,
Como o rapaz ao meu lado,
Mas estou aqui escrevendo,
O que vou percebendo...

Escrevendo, sinto-me viva...
Sinto meu coração bater,
E meu sangue pulsar,
Sinto o ar dessa tarde em novembro entrar nos meus pulmões...
Vida!

Olho agora para os trilhos do trem,
São muitos no caminho,
Se entrelaçam, cruzam-se,
Seguem em paralelo, faz-me pensar na vida, tal como ela é...
Como trilhos de trem... Metáfora!

O comboio para em outra estação,
Entra um moço que me faz lembrar você!
É tão parecido que faz meu coração bater mais rápido!
Não é você, jamais poderia ser...

A lembrança, faz meus olhos encherem de lágrimas...
Saudades, saudades,
Você é saudades!
Meu amor!

Foi bom escolher esta viagem no trem,
Quis assim, um momento assim,
E essa viagem já dura uma hora e dez minutos,
E lá vou eu...

Um passarinho voando livremente,
A ponte, o rio, os fios da eletricidade,
E tudo se mistura,
O antigo e o moderno, o novo e o velho...

E tudo se resume no momento,
Que há um segundo, será passado,
E tudo ficará entre presente e futuro,
Mas o presente é tão rápido... Haverá tempo?

Não, não exite o tempo...
Não temos o mesmo tempo,
A pouco tomei café da manhã,
Mas para muitos já está na hora do almoço...
O tempo não existe!

O sol aparece entre as nuvens,
E acredito que por hoje é só...
Fim da viagem de comboio, trem...
Piuí-piuí... O trem chegou na estação...   

Um dia!





Um dia!


Chega um dia que de repente você acorda sem vontade de comer. Senta-se ao redor da mesa da cozinha vai preparar seu café da manhã e não encontra nada que lhe dê apetite. Você está com fome não tem vontade de comer nada, nada, nada!
Abro o armário alguns pacotes de bolacha caem sobre minha cabeça, olho-os todos e chego a conclusão que não quero bolacha! As bolachas recheadas tem gordura trans, dizem que faz mal a saúde, as outras me parecem tão artificial...
Eu estou com muita vontade de tomar o café da manhã, mas nada me apetece!
Vou ver os pães que tem em casa. Outro dia tinha um pão industrializado integral de forma, parecia uma verdadeira borracha, era horrível! Estão lá os pães no saquinho, todos integrais e que fazem bem à saúde (eu acho)... Acho uma bolacha integral no pacote, a última, derradeira, pego-a e dou uma dentada, meio mole, mas não vou jogar fora, pois me lembro das crianças pobres todas magrinhas sem comida pelo mundo a fora... Não, não, não posso jogar aquela bolacha fora e pegar uma nova crocante, seria um desafronto demais para minha consciência. Lembro dos dias de férias que passei na aldeia, na casa da minha avó em Portugal. O padeiro trazia o pão novo fresquinho e quentinho na sua carrinha, minha avó comprava, mas não deixava a gente comer o pão fresco, pois primeiro tinha que acabar com o pão antigo, frio e duro...
Resolvo esquentar meu pão integral na chapa e comer com manteiga. Procuro, procuro, procuro a chapa e não encontro!  Nada de pão na chapa! Aqui em casa tem sido assim, parece que tudo some, então nem adianta procurar, tem que desisitir mesmo da procura e passar para a segunda opção... Minha mãe ensaca todas as coisa, ou coloca em potes de plásticos ou vidro, meu filho mexe com as coisas para lá e para cá, fora a assistente do lar que faz suas arrumações... Então, mudei para pão integral com uma fatia de mussarela e peito de peru, bah, bah... E lá se foi o meu café da manhã... O que foi meu café? Uma xícara de café solúvel, nescafé.... 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O meu amigo morador de rua!







O meu amigo morador de rua!


Eu não sei o nome do meu amigo morador de rua, mas está lá, na rua por onde passo todo os dias. Não seu passado, não sei o que faz, não sei dos seus hábitos, se é alcoólatra, usuário de drogas,ou tabagista. Ele me parece um senhor normal, de seus sessenta anos de idade. Só sei que me faz feliz quando saiu do seu trabalho com estas palavras: "- Até logo doutora! Bom descanso!". Fala isso com um sorriso no rosto, com tamanha sinceridade que meu coração sente gratidão.
Fico aí entre a cruz e a espada, ao mesmo tempo feliz ao mesmo tempo triste. Eu teria o direito de ficar triste por vê-lo assim, numa cada improvisada que cabe somente o seu corpo ora deitado, ora sentado, cuja porta é um arranjo de caixas de papelão? Não, não posso ficar triste, a felicidade não é analisada desse jeito, talvez ele seja mais feliz que eu...
Ele não me parece triste, ele sabe ser amável comigo, ele faz alguém feliz nesse mundo: "eu"!.
Às vezes passo despercebida, porque a casa dele apesar de ser na rua é escondida, ele diz: "- Doutora, bom final de semana! Descansa!". Eu digo, "obrigada" e fico com o coração na mal. Já cheguei a falar algumas coisas, nada profundo, tenho medo de ficar triste, já que a tristeza me acompanha deste que meu amigo partiu desse mundo. E agora que estou melhor, tenho medo da tristeza...
Tem dias, aqueles de frio com vento gelado, que a casinha que cabe seu corpo está fechada com a porta de papelão. Eu não sei como ele está lá dentro e como vai passar toda a noite e madrugada, eu rezo e peço a Deus que ele sobreviva! E então, no dia seguinte ou num dia em que eu esteja passando distraída ele me fale "Tchau doutora, boa noite, bom descanso"...


 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Chorar!





Chorar!

Eu choro sim!
Choro porque te amo,
E por que te amo choro!
Lágrimas de choro...

Choro com a alma,
Choro com o riso,
Choro com os olhos,
Choro com o coração...

E porque choro,
Choro porque não te vejo,
E sua ausência para meus olhos,
Fazem eles chorar...

Poc, poc, poc...
Cai lágrima salgada,
Escorre nas estradas da minha face,
E cai no chão, no cimento desse mundo moderno...

Poc, poc, poc,
Lágrima triste, não irás cair na terra,
Cairás no cimento,
Atenção! Aqui é proibido chorar! Dizem os homens modernos!
Pense em dinheiro, em poder, em competição...
Vamos fingir alegria! Vamos lá!
Poc, poc, poc...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Engano?





Engano!


Engano! Foi um engano! A medicina não foi a primeira opção que fiz como profissão!
Sempre tive a impressão que eu tinha escolhido ser médica desde criança, e que nunca havia tido dúvidas sobre essa decisão. Mas últimamente comecei a pensar que alguma coisa saiu errado, ou o amor pela medicina chegou ao fim, ou foi um sonho de criança de cinco anos de idade, ou tinha sonhado antes outra coisa e não dei atenção para esse outro sonho. Em último caso, amo realmente a medicina, mas não amo ser médica no contexto geral em que me encontro!
Tudo se mistura é a realidade vivida é na verdade sonhos sonhados, sonhos vividos e não vividos, decepções e alegrias, mas na verdade, o que acontece ou aconteceu?
Sempre digo que escolhi ser médica com cinco anos de idade e nunca mais mudei de opinião, segui firmemente esse sonho, essa escolha e deu certo... Fui atrás de um sonho e consegui realizá-lo. Nunca pensei se teria condições para exercer a faculdade de medicina ou não, simplesmentei foquei, como é comum dizer hoje em dia: "- Foca na sua meta, no seu sonho!", foca do verbo "focar", não olhar para os lados, não perder de vista , estar sempre ali, olhando para frente, como um cavalo com aquele acessório que leva nos olhos para não olhar para os lados... 
Mas pensando agora com os meus "botões" pura distração! Antes de ser médica, eu queria ter sido bailariana! Esse sim foi o primeiro sonho... Lembro-me que estava encantada com os ensaios de balé quando era pequena, eu amava dançar. Apresentei-me três vezes, a primeira fantasia eu era uma flor, nos apresentamos no teatro Conchita de Moraes. Depois, lembro-me da apresentação da formatura, no mesmo teatro, meu personagem era uma boneca. A ilusão acabou quando o lugar da prefeitura em que eu fazia balé fechou! Meu pai não tinha condições de pagar aulas de balé particular para mim... O sonho foi chegando ao fim...
 
Entre indas e vindas, fui para na natação. Como eu tinha bronquite o médico recomendou que eu nadasse, minha mãe me colocou nas aulas da prefeitura no Estádio Esportivo Pedro Della Antonia, hoje leva o nome de Estádio Bruno Daniel. Eu adorava nadar, meu professor se chamava Jair, lembro dele até hoje, ele fazia de tudo para eu avançar na natação. Cheguei a ser convidada pelo técnico Rosinha da Pirelli para fazer parte do grupo e treinar para competições, era meu sonho, porém também vetado! A exigência era que se treinasse todos os dias e que o pai autorizasse viajar para várias cidades do Brasil par competição, meu pai não autorizou, minha mãe não tinha permissão do meu pai para me levar todos os dias para treinar no estádio... Sonho acabado! O meu professor Jair ficou muito triste. Ele sabia do meu desejo para me aprimorar e competir. Nas competições internas do estádio eu sempre ia, e tirava sempre o segundo lugar. Eu tenho as faixas até hoje, mas às vezes, tenho até dúvidas se não era o jair que pegava a faixa de segundo lugar sem eu ter conseguido... As aulas de natação também chegaram ao fim por causa da prefeitura, piscina olímpica destruída, quem viu disse que fui uma tristeza... Estou para fazer uma visita no estádio, mas ainda não tive coragem...
 
Na adolescência resolvi voltar para a dança, fui para o jazz com as minhas polainas coloridas. Eram horas muito agradáveis! Mas chegava o vestibular, não havia mais tempo era só estudar para entrar na medicina... O sonho de ser médica desde infãncia sempre existiu, eu amava brincar com minha coleção de frascos de remédios vazios, remédios de balinhas coloridas, seringas sem agulha que pedia  para guardar quando levava uma injeção e fichas médicas que confeccionava sozinha. E assim estou aqui.... Será que era para estar aqui?
Não, não houve engano... Existiram circunstâncias incontornáveis... E tudo saiu assim...