quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Paciente Seis



Doença de Parkinson e Judô



Chamo o paciente, entra no consultório um senhor oriental de aproximadamente setenta e cinco anos, e pergunto se está tudo bem. E então, para minha surpresa ele responde: - Sim doutora, eu somente vim pegar a receita! Estou bem! Que bom respondi, e fui olhar seu histórico no computador. O diagnóstico era doença de Parkinson. Olhei de novo para ele, será possível que está tudo bem? Mesmo os que estão razoavelmente bem dizem que está tudo mal! Perguntei, de novo, o nome dele para ver se não havia trocado os pacientes. Era ele mesmo, e começou a dizer: - Sabe doutora, preciso lhe contar uma coisa. Eu logo pensei: estava bom demais para ser verdade, vai começar a lista de lamúrias... E para minha surpresa ele disse: - Doutora, agora sou professor de judô! Estou ensinando alunos a lutar judô!  Fiquei alguns segundos pensando: um idoso, de setenta e cinco anos, com doença de Parkinson, agora professor de judô! Eu perplexa falei: Claro, o senhor está certo! Vá em frente! Não tem problema! Ele terminou: - Não dá para parar doutora, na minha família são todos judocas, inclusive todos os meus filhos!  E pensei finalmente um paciente que não se deixa intimidar pela doença, isso é raro!

Amor



 
 
Almas Feridas




Almas tristes, feridas,
Machucadas pelo amor...
Amar, viver, sonhar...
Eternamente buscar...

Sentir saudades de um tempo,
Um momento...
Alguém que já partiu...
E que já não pode voltar,

Um pensamento longe...
Uma sensação e te encontro...
Uma magia, uma luz, uma energia,
Não te vejo, mas te sinto no ar,

O vento traz os pensamentos, momentos...
As estrelas trazem o brilho do teu olhar,
O sol traz a chama acessa do teu coração!
E então, eu sinto a vida!

O silêncio me inspira uma canção para te ninar,
Para te mimar, para te levar para o mar,
Nas ondas do meu pensamento, navegar...
Ao teu lado ir livre, sem querer voltar...

Assopro palavras ao vento na esperança que aos teus ouvidos possam chegar: - Meu Amor, eu te amo, onde estás?
Almas separadas unidas pela energia que paira no ar,
Quero suas mãos para alisar os meus cabelos,
Quero seus olhos para me olhar, e me fazer brilhar,
Quero sua boca para me chamar, beijar-me e sorrir para mim,
Quero uma gargalhada sua, para todo o meu dia enfeitar,
Quero tua alma para me amar!

Não sei onde estás,
Não sei onde te procurar,
O que fazer sem você meu amor?
Diga-me, por favor!

Favores e pacientes!






Paciente e favores, e mais favores...




Deveria ser declarado o "Dia dos Favores"! Todos os pacientes que atendi tinham favores para pedir.  Era incrível, acho que não teve um paciente que não tinha favor para pedir. Quando estava no final da consulta, depois de tudo analisado, esclarecido, receitas feitas, retorno marcado, só falava falar "tchau" e vinha a pergunta: -"Doutora gostaria de pedir um favor!", e não era um, eram dois, três e quatro, uma lista deles. O pior é, era evidente que a maioria dos favores deveriam ter sido feitos por outros médicos que cuidam do paciente, mas eles sempre vão empurrando para os outros, porque dá trabalho fazer mil e um relatórios, receitas, encaminhamento para especialistas, e pelo paciente não tenho coragem de negar. Tenho pena de dizer "não posso", "não é da minha parte", mas penso com o coração e não consigo deixar de fazer o bem para alguém se isto está ao meu alcance, não é do meu feitio. Às vezes digo que não, mas me corta o coração. Não é que eu não goste de fazer favores. Adoro ajudar outras pessoas! Faço isso pelo amor ao próximo, mas como dizem: "tudo tem um limite", ou "tudo que é demais parece mal". E especificamente naquele dia, estava me parecendo mal... É que vejo cada coisa, que às vezes fico abismada. Alguém nasce com algum defeito físico, tem que se virar para ser alguém na vida. Quem não tem mãos pinta com os pés. O próprio cantor Roberto Carlos perdeu parte de uma perna quando era menino em um acidente, mas isso não o impediu de ir em frente, torna-se um rei. Existem até empregos especiais para os deficientes físicos, vagas para concursos separadas. Agora, alguém que teve alguma doença neurológica que o deixou com um pouco de perda de força em alguma parte do corpo, não pode fazer mais nada! E foi assim, depois de fazer mil relatórios para o paciente, um homem jovem, já recuperado, andando, falando normalmente, controlado das crises convulsivas. Ele me diz que único problema atual é que ficava "nervoso" à noite quando chegava a casa. Logo pensei, nossa ele deve trabalhar o dia inteiro. Então, perguntei: "- O que o senhor faz? Ele respondeu: - “Nada”! Sou aposentando por invalidez". Na hora pensei: "fazer nada também cansa!" e então, ele se foi. Chamo a última paciente, que ficou horas esperando para ser atendida, lá vem uma senhora, com seu marido ambos com mais de 80 anos. Ela tem sequela de AVC, depressão, infarto, transtorno cognitivo e não pediu o favor de ser atendida primeiro, e também não reclamou. E eu tão pouco falei, poderia ser um insulto falar: - "Porque a senhora não pediu para ser a primeira a ser atendida?”Conclui: "Cada um tem a idade na sua mente e não no corpo”. Cada um lida com a doença de uma forma particular, positiva ou negativamente”. 

domingo, 25 de setembro de 2011

Ridículos





Ridículos, ainda e sempre...


Sim, esse era, e é o nome da peça de teatro: "Ridículos, ainda e sempre", dos Parlapatões, Patifes e Paspalhões, Espaço Parlapatões na Praça Roosevelt, São Paulo.  Fiquei sabendo da peça, não li a sinopse, pois tinha certeza que era boa. Já avisei o pessoal, comprei ingressos, e lá fomos nós, ao todo seis pessoas. Quando chegamos no local ninguém sabia do que se tratava a peça, confiaram em mim e eu nos Parlapatões, porque os conheço há alguns anos e sei que são ótimos. Porque sou assim, se gosto de algo uma vez, duas, três vezes, e faz sentido para mim, então, faz parte de mim e ponto final. Estávamos sentados no espaço, antes da peça, e então alguém perguntou: "- Do que se trata a peça?" Fiquei pasmada, pois não sabia dizer, pois não tinha lido a sinopse, tinha agitado todo mundo para ir e estávamos lá, faltando trinta minutos para começar a peça. O que eu podia fazer era dizer a verdade: “- Gente, eu não sei, só sei o nome da peça, “Ridículos, agora e sempre”. Todo mundo caiu na gargalhada, e só agora, fui ver no ingresso, e ainda falei o nome da peça errado, pois é: “Ridículos, ainda e sempre”. Bom, não vou falar mais sobre a peça, quem tiver curiosidade que vá assistir à peça, pois vale a pena conferir. O fato é que até agora não li a sinopse da peça, e estou pensando na palavra ridículo, e o que é ser ridículo. Ridículo no dicionário quer dizer o que provoca risos ou troça no adjetivo (um fato ridículo), e no substantivo masculino: aquilo que provoca o riso ou a troça (temer o ridículo). Sinônimos de ridículos: esquisito, estrambótico. E uma frase do Napoleão Bonaparte: “Do sublime ao ridículo, só um passo é necessário". Fiquei pensando, será que somos todos ridículos? Só algumas vezes ridículos? Todo mundo olha uma fotografia do meu pai tirada há trinta e sete anos e dizem: "- Nossa! Esse terno do seu pai, hein! Ridículo!”.  O terno é marrom, com linhas perpendiculares e horizontais grossas em bege. Quer dizer, na época era lindo, e agora, simplesmente ridículo. Isso só me faz pensar que daqui uns trinta e sete anos irão olhar uma fotografia minha é dizer: "- Nossa como você estava ridícula com esta roupa." É fato, com certeza somos ridículos em algum momento da nossa vida. Então para que se preocupar? O título da peça faz sentido, "Ridículos, ainda e sempre". É engraçado, tem gente que se preocupa tanto para não ser ridículo, segue a risca as tendências da moda, se está na moda botas, usaremos botas; se está na moda roupa cor de laranja usaremos a cor laranja. Agora, se saiu da moda, e você está de laranja, você é ridículo! Caímos em nossas próprias armadilhas? Vamos indo no embalo dos outros, isso sim, sendo ridículos. Todo mundo teme o ridículo, mas não adianta se não é agora, um dia você será ridículo. Por isso, acho muito chata essa história de temer o ridículo. E por isso acho Londres um lugar encantado, você anda pela Oxford Street do jeito que você quiser sem ser chamado de ridículo, porque nada é ridículo! Tudo está valendo, não importa quão ridículo você possa parecer, você é o que é naquele momento, e não precisa temer o ridículo... 


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Paciente Cinco




As perdas


Era um moço novo, bonito, entrou no consultório e sem hesitar, um pouco desesperado, já foi falando: “- Oi Doutora, por favor, me ajude”! Perdi tudo que tinha em três semanas! Realmente era um grito de socorro! Então perguntei o que tinha acontecido e ele sucinto respondeu: - Há três semanas perdi meu pai, ele era novo, de infarto fulminante! Sou filho único doutora, éramos muito amigos, é como se tivesse perdido o meu chão... Há duas semanas, minha avó, mãe do meu pai falecido, não aguentou a morte do filho e morreu também. Fiquei muito mal, não conseguia trabalhar direito, não entenderam minha tristeza no emprego e me mandaram embora. Então, fui buscar conforto com a minha namorada, e sabe o que ela disse doutora? Que "antes o meu pai do que o dela"... Terminei o namoro, é claro! Fiquei olhando para ele, e realmente tive que concordar que sua vida tinha virado de cabeça para baixo em três semanas. Lembrei também da pessoa amada que eu havia perdido a quatro meses também de infarto fulminante. Não era meu pai, meu pai está vivo, mas doeu tanto que mal pude suportar. Uma coisa é você perder sua avó com 89 anos, como a minha, bem velhinha, o corpo quase se desintegrando, andando toda encurvada e cansada de viver, pois a alma não quer mais aquele corpo... Outra coisa é perder uma pessoa que até um minuto atrás estava ótima, sorrindo, jovem, sem quase nenhum cabelo branco, e em três segundos cair morta sem dizer uma palavra. O entendia perfeitamente! Logo em seguida, sinto que, quando se ama uma pessoa de verdade, e ela morre, a saudade dói demais, e acredito que possa mesmo matar. É por isso que quando morre um, de um casal de velhinhos, o outro logo vai atrás... É evidente, quando já se é velho, pouco se tem para viver, já se fez tudo que se tem para fazer nesta vida, então, se era um amor verdadeiro e a saudades for demais o coração não aguenta. Quando o casal é novo, e um morre, o outro tem que assumir tudo, tem a vida para tocar para frente, tem que viver mesmo que por obrigação. Agora, esse moço, vai ter que viver sem seu pai, sem seu chão, vai ter que aprender a andar de novo, de modo diferente, vai ter que aprender a andar junto com a ausência da pessoa amada e a saudades, não é fácil, leva tempo, muito tempo. A vida nos engana, de um minuto para outro e tudo pode mudar! Todos os nossos planos sejam eles profissionais, pessoais passam a não existir mais. Acabou! É como uma bexiga estourando espontaneamente. Um minuto atrás, ela estava lá toda cheia, brilhante, colorida, e de repente "bum", e em segundos ela não passa de pedaços de borrachas rasgadas pelo chão. Uma amiga minha dizia: "- Cuidado, a vida engana!". Engana mesmo! Por outro lado, ninguém fica esperando você melhorar. O luto tem que ser resolvido em um mês, dizem os psiquiatras de hoje. Antigamente, as velhinhas e os velhinhos da aldeia quando um morria, o outro andava de roupa preta pelo resto da vida. É claro, a morte, dói para o coração que ama a outra pessoa de verdade, pois como o velho ditado diz: pimenta nos olhos dos outros é refresco. Os tempos mudaram ninguém pode ficar triste, o mundo anda muito depressa, ninguém tem mais tempo para essas coisas, namorada (o) não tem mais paciência para namorado (a) triste, patrão não quer saber de empregado chorando, é necessário produzir, não perder tempo com sentimentos. É o mundo tornou-se descartável! 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Saudade




O Sorriso


Lá veio ela, a saudade, chegou sem avisar no começo da tarde. Eu estava dentro do carro, dirigindo para o trabalho, vidros todos fechados, como é usual nos dias de hoje por causa dos ladrões, mas não teve jeito, a saudade entrou e lembrei-me do seu sorriso. Posso dizer com certeza que jamais vi um sorriso tão lindo, tão vindo do coração, que às vezes explodia com uma gargalhada. Adorava quando você sorria daquele jeito, geralmente quando fazia uma travessura, ou quando eu falava alguma coisa que o fazia rir. E então, unia-me ao teu sorriso e a todo aquele ar de alegria, coisa de criança, inocente, sem propósito de ser, sorriso de alegria mesmo! Voltávamos a serem duas crianças, dois adultos, um de mais de trinta e outro mais de quarenta anos de idade, mas duas almas crianças de uns dez anos de idade , se alguém visse, acharia que estávamos loucos, mas não, tínhamos voltado ao passado, éramos crianças! Como eram lindas nossas tardes, só um podia entender o outro, era o nosso mundo particular, nosso jardim secreto... E foi essa lembrança,  do teu sorriso, que a saudade trouxe, mas o mais triste era ter a certeza absoluta, que nesta vida não te veria mais sorrindo... Então, lágrimas escorreram  dos meus olhos, pela minha face, lágrimas tão tristes que faziam doer meu coração. Lembrar-se do teu sorriso, fazia-me feliz. Sentir saudades suas, enchiam meus olhos de lágrimas. E saber da sua ausência certa, nos próximos dias da minha vida, machucava meu coração... 

Solteirice






Solteirice


Surgiu misteriosamente na minha caixa de entrada do meu e-mail, uma pessoa que se denominava: poderosado(nome de um ex-namorado)@hotmail.com. Não sei dizer quem é, se é uma mulher ou homem se passando de mulher, mas não vem ao caso. O estranho é que essa pessoa estava preocupada com a minha solteirice, mandando-me uma matéria do portal ig que falava sobre mulheres solteiras. O mais engraçado, é que ela estava se preocupando sem necessidade, pois para eu estar sozinha não é nenhuma preocupação.  Fiquei pensando onde a imaginação das pessoas pode ir, a pessoa estava gastando seus minutos de vida com pensamentos que não fazia menor sentindo para mim. Equivocou-se, errou completamente, o que ela (e) julga um problema para mim, este problema não existe! Como a sociedade pode impor padrões que julgam certo, e as pessoas acatarem completamente sem ao menos questionar? Para mim esse padrão não existe, e sua preocupação é totalmente desnecessária, poupe seu tempo com isso, ninguém precisa casar para ser feliz. Estou muito bem assim, e se quisesse já poderia ter casado pelo menos duas vezes na minha vida! Estou feliz comigo mesma, e não estou sozinha, não se preocupe "Poderosa".



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Barco, o naufrágio, o escolhido.


 
 
 
O Barco, o naufrágio, o escolhido.




Fiquei sabendo, na época da adolescência, que para saber qual pessoa amávamos de verdade  era simples. Bastava imaginar todos os pretendentes dentro de um barco em alto mar. Logo em seguida, uma tempestade terrível começava, com relâmpagos, trovões e ondas enormes. Então, o barco começava naufragar, todos iriam morrer, era inevitável. Entretanto, você poderia salvar um deles, somente um, o escolhido, era a pessoa que você realmente amava. Os anos foram passando, e no decorrer da minha vida, depois de muitas confusões amorosas, às vezes sozinha deitada na cama do meu quarto antes de dormir, fechava os olhos, colocava-os no barco e pensava qual deles salvaria. Era engraçado e trágico ao mesmo tempo, imaginar todos entrando no barco, a grande tempestade, todos desesperados olhando para mim, estendendo suas mãos e então, o grande momento, eu dava a mão para uma pessoa e a puxava para fora do barco. Há alguns meses, depois de 42 anos de vida, estava pensando quem eu teria amado de verdade, e cheguei a ter dúvidas se já havia amado alguém. Lembrei-me do barco, e então, os possíveis amados foram entrando no barco, veio a tempestade, o momento da decisão e não lembro se salvei alguém porque adormeci e logo em seguida tive um sonho, era uma voz que me dizia: - Olha, quem você amou de verdade foi esta pessoa, e esta outra pessoa.! Acordei feliz porque agora sabia quem realmente eu tinha amado! Porém eram dois nomes, duas pessoas... Isto me deixou intrigada, porque dois nomes? Será que podemos amar mais de uma pessoa ao longo da vida? Desde criança sempre imaginei um único amor! Aquela pessoa amada incondicionalmente, um amor como o de Romeu e Julieta. Já li sobre o assunto e muitos especialistas dizem que sim, podemos amar mais de uma pessoa. Entretanto, para mim, só pode existir um amor verdadeiro! Eu tinha dois nomes, estava feliz! Os dois estavam solteiros, livres, estava fácil, era só colocá-los novamente no barco e salvar um. Porém, o inesperado aconteceu, antes de eu ter tempo de pensar no naufrágio, creio que um mês depois do sonho, um deles fatalmente faleceu! Não poderia mais salvá-lo do naufrágio, não pude fazer nada, nem ao menos estender a minha mão, pois morreu subitamente em cinco segundos, e com ele, todos os meus sonhos, mas o amor, este sim sobreviveu. Quanto ao outro, não sei dizer, pois como diz o Rubem Alves, uma mãe pode ter três filhos, mas se um deles morre, era este o que ela mais amava. A morte deixa a pessoa amada eterna. Acredito que agora, não precisarei mais imaginar o tal barco...


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Lembranças


Lembranças, Tristeza e Saudades



Não sei o que aconteceu hoje, mas uma tristeza invadiu minha alma. Ela chegou sem avisar, nem ao menos pediu licença, e entrou trazendo lembranças de um tempo passado. Estes momentos passam como slides no meu pensamento, alguns felizes, outros tristes, mas que causam tamanha tristeza. Percebo como o tempo passou rápido, até ontem eu era uma menina cheia de ilusões. Lembro-me do primeiro dia de aula, tinha somente cinco anos de idade, usava um vestido branco cheio de bolinhas coloridas, estava tão feliz! Guardei aquele momento em minha memória, que hoje me traz muitas saudades. Depois vieram tantos outros dias de escola, mas nunca igual aquele. Consigo lembrar até do cheiro do giz de cera. Ás vezes, quando estou em alguma loja, e vejo algum giz de cera, abro a caixinha para sentir o cheiro, mas nunca, nunca é igual aquele que usei no meu primeiro dia de aula. Hoje, olho para trás e vejo aquela menininha, tenho saudades dela... Tenho dúvidas que ela more aqui dentro de mim, e acho que a vida com seus contratempos a tenha assustado e ela tenha ido embora... Tento buscá-la, não a encontro, e mesmo que a encontre não sei se ela poderá ser pura, feliz, cheia de esperanças e ilusões como antes. Já não acredito que ela possa ver o mundo do jeito que ela via. Agora, aquela menina de vestido branco com bolinhas coloridas mora em outro lugar qualquer, onde não exista tempo, e infelizmente, não sei onde fica...




segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Paciente Quatro




Tratamento a seco



Fazia tempo que ele não aparecia nas consultas. Alguns dias atrás havia lembrado aquele paciente, e até pensei: - Nossa, faz tanto tempo que o senhor José, não aparece... Será que ele voltou para sua terra? Será que melhorou da depressão e já não precisa mais de médico e nem remédios? Será que morreu? Nunca se sabe quando a morte bate na porta, às vezes, nos pega de surpresa causando um desastre para os que ficam, e já não sei dizer para os que vão... Pois para minha surpresa ele apareceu! Não tinha morrido, não tinha conseguido voltar para sua terra natal. E não estava bem, pois olhei para ele, e seu olhar já dizia tudo... Não precisava nem perguntar, mas perguntei: - O senhor está bem? Ele respondeu: - Não doutora, eu estou péssimo! Então perguntei: - Porque seu José o que aconteceu? E ele respondeu: - É doutora, tentei fazer o tratamento a seco, mas não deu certo... Fiquei olhando para ele e ao mesmo tempo tentando lembrar-se do "tratamento a seco". Lembrei até das roupas que vem com a instrução: "Lavar a seco", mas não conseguia lembrar-se de nenhum tratamento a seco. Bom, excluídas todas as terapias com água, como hidroterapia, natação, banhos com águas termais, lama medicinal etc.  Pensei até na eletroconvulsoterapia para tratar depressão grave, mas ele teria falado esse nome, ou teria falado "levei um choque, doutora". Pensei, será que inventaram alguma máquina que a pessoa depressiva entra, faz-se o tratamento a seco, a mesma sai feliz e que não estou sabendo? Então tive que perguntar: - Como assim seu José, que tratamento é esse? Então ele me respondeu: - Parei todos os remédios de uma fez, fiquei a seco, e fui fazer ioga. Não deu certo doutora, vim buscar as receitas! A inocência nos seus olhos era evidente! Não dava para brigar com ele, tinha sido uma tentativa, uma esperança. Geralmente os pacientes fazem isso, mesmo orientados a não fazer, alguns, em algum momento do tratamento param os remédios. Acho que na verdade ninguém quer tomar remédio, só em último caso! Expliquei para ele, que depois do início do tratamento medicamentoso para depressão, não se pode pará-lo de uma vez, pois os efeitos da retirada brusca são graves. Fiz as receitas, expliquei tudo direitinho e ele foi embora. Espero que tenha melhorado.
* Nome fictício.

domingo, 18 de setembro de 2011

O Caderno


 
 
O Caderno
Já faz muitos anos, talvez faça uns 20 anos, eu e minhas irmãs resolvemos deixar um caderno em branco no apartamento do Guarujá dos nossos pais. Escrevemos na capa "Este caderno é para você, que está aqui neste momento no nosso apartamento do Guarujá, e queira escrever, desenhar ou deixar uma mensagem". Começamos escrevendo, e depois, as mensagens, desenhos, rabiscos, brincadeiras  foram aparecendo... Todo mundo pegava o caderno e deixava suas palavras. Às vezes, estávamos com amigos, familiares no apartamento e escrevíamos ou desenhávamos juntos. Outras vezes, meu pai emprestava o apartamento para alguém, que escrevia algo ou não. Ontem fomos ao Guarujá, fui correndo atrás do caderno. Lá estava ele, todo amarelado pelo tempo, e dentro, as mensagens, desenhos de várias pessoas... Muito emocionante ler algo que foi escrito há 20 anos, por diversas pessoas. Destas, algumas ainda amigas, infelizmente, outras, não mais amigas. Amizades abaladas pelo tempo, mas que deixaram saudades. Foi quando encontrei uma mensagem escrita por mim:


"Guarujá 08/02/1990, inverno:



Despedida



A este pedaço do mundo que aqui fica no Guarujá,
A está face do sol que aqui nasce todos os dias e que já não será mais minha,
À lua e as estrelas que aqui vejo a noite habitando neste pedacinho de céu,
Estou indo embora...

O dia ainda não acabou,
E hoje, o sol me abandonou na minha partida,
A chuva banha a janela do meu quarto,
Como as lágrimas banham meu rosto


A música terminou
E a saudade move minha vida
E o meu coração ficou farto,
De esperar você chegar aqui num dia destes em Agosto."

Lilian Regina Gonçalves


Relembrando o passado, não sei quem eu esperava chegar ao ano de 1990, ele não chegou, e a partida tornou-se uma despedida triste de algo que poderia ter sido e não foi...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Paciente Três

A Doença Certa


A Doença Certa



Chamo pelo nome o próximo paciente. Vejo um senhor por volta de 78 anos entrando no consultório com passos curtos. No primeiro momento já percebi que se tratava de um paciente com doença de Parkinson. Logo atrás do paciente vinha uma senhora que provavelmente seria sua esposa. Então, perguntei se ele estava bem. Sabemos que fazer uma pergunta dessas na área da Neurologia e sempre ouvir "Não", e depois disso muitas lamúrias e queixas. Todos nós sabemos que na Neurologia, as doenças geralmente são crônicas, irreversíveis, com tratamentos limitados. Desde quando estava na faculdade ouvi todos os professores falarem: "A neurologia é uma especialidade em que não temos nada para fazer, porque geralmente as doenças são intratáveis e poucos são os medicamentos que dispomos para tratar estes pacientes". Porém, não tinha jeito, eu já havia me apaixonado pela neurologia, no primeiro ano da faculdade, na primeira aula de neuroanatomia. Lembro-me da aula até hoje, era uma aula que explicava as vias dos sentidos, paladar, olfação etc. Era demais, uma perfeição microscópica  fantástica de toda circutaria dos neurônios e seus caminhos, para cada sentido, uma via. Foi amor à primeira vista! No decorrer dos anos da faculdade, estava certa que queria seguir esta especialidade, apesar de que sabia que iria cuidar de pessoas realmente limitadas e que não poderia fazer muita coisa por elas. Até tinha uma piada no meio médico que dizia que na neurologia era assim em relação aos pacientes: "Se o paciente está bem dê meticorten, se está mal dê gardenal" Bom, voltando ao paciente, bem sei o que ele iria dizer: "Eu estou mal, doutora. Cada dia pior. Não consigo me mexer. Estou travado. Estou tremendo muito etc.", mas pela minha surpresa ele disse: "-Estou bem doutora!". Fiquei feliz, mas é claro, que atrás dele vinha a esposa, na espreita, controlando cada palavra, gesto do seu par, como é comum acontecer nos casamentos. Ela disse: "- Não doutora, ele está muito devagar!" Logo em seguida ele responde: "- Também, eu não tenho pressa! Foi engraçado, dei uma risada. Então sua esposa começou a falar: - Ele sempre foi assim doutora, desde novo, devagar, devagar, não tem pressa para nada." Ele olhava calmo para mim com um sorriso no rosto, percebi que sua mão esquerda tremia um pouco, mas estava bem. Na hora me veio um pensamento, esse paciente tem a doença certa: ele está devagar, passos curtos, porém ao mesmo tempo em movimento, tremendo suas mãos, parado e em movimento ao mesmo tempo. Então filosofei, ele deve ter ouvido a vida inteira que ele era um homem muito pacato, calmo demais, devagar demais. Depois de tantos anos, ele escolheu a doença certa: "- Estou parado, mas ao mesmo tremendo, "em movimento", quem sabe assim parem de me atormentar e dizer que sou devagar, quase parado”. Então, disse ao senhor: - Se o senhor está bem, vamos manter assim o seu tratamento. Ele levantou da cadeira e saiu super feliz. Pensei se é para termos alguma doença, pelo menos que tenhamos  a doença certa... 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Paciente Dois


Tempo para nós!
Chega ao consultório uma filha com sua mãe bem velhinha. Pergunto para a paciente: - Boa tarde, qual é o problema da senhora? Então, a filha fala pela paciente: - Dra. Ela está muito esquecida, não se lembra de mais nada, não reconhece as pessoas, médicos já falaram que ela está com Alzheimer. Então, olhei para a velhinha e com ternura nos olhos e do fundo coração ela respondeu: - "É doutora, agora eu decidi viver só para mim..." Fiquei admirada, nunca ouvi uma resposta assim. Será que precisamos ficar com Alzheimer para podermos viver só para nós? Esquecer mesmo de tudo, coisas que em sã consciência não poderíamos esquecer? Será que essa velhinha estava mesmo doente? Ela pareceu-me muito feliz de ter se esquecido de tudo e de estar vivendo para ela. O Alzheimer não era uma doença, era uma solução para estar em paz com ela mesma, sem ter que dar satisfações para os outros, para se livrar das preocupações que às vezes atormentam nossa vida. Minha vontade foi falar: "- Muito bem, se a senhora está feliz e os outros é que estão incomodados, a senhora está de alta”. É claro, que não pude fazer isso, e a filha saiu com uma receita de medicação para Alzheimer para mãe. Ainda bem, que a medicação nem sempre faz efeito... 

Paciente Um

O Revoltado!



Chamo o paciente, ele entra, e sem hesitação e de modo agressivo diz:
- Estou aqui desde as 11horas da manhã e agora são 13h15min! Então pergunto por que veio tão cedo já que a consulta dele estava marcada para 13h00min. Ele responde: - Porque vim e agora estou sem almoço! Continuava agressivo e achando que eu era a culpada por ele não ter almoçado. Respirei fundo e disse: - Pois bem, vamos ao assunto! Qual é seu problema? Ele disse: vim mostrar um exame que você me pediu!!! Está bem, passe o exame. Era uma tomografia de crânio, que tinha sido solicitada por outro médico, pois eu já havia pedido uma devido ao seu quadro de cefaleia que tinha tido resultado normal. Bom, educadamente, abri o envelope, olhei a tomografia com resultado normal. E disse alegremente para o paciente: - Senhor, Graças a Deus não deu nada, o senhor não tem nenhum tumor, malformação, calcificação, seu cérebro está normal. E qual foi a resposta surpresa que recebi??? "- Como assim, nada?! Então vou voltar lá no lugar que fiz o exame e quebrar a máquina inteira dando pancadas!" Eu disse: - Bom, o senhor falando assim terei que encaminhá-lo para o psiquiatra! O paciente continuou todo revoltado, colocando o exame normal de volta no envelope. Então, resolvi encaminhá-lo para um ambulatório só especializado em cefaleias, porque não conseguiria fazer com que o exame dele desse anormal... 

domingo, 11 de setembro de 2011

Você, eu e a Felicidade


Você, eu e a Felicidade.


Foi tão bom acordar pela manhã com o coração cheio de alegria. O lugar era lindo, um apartamento muito moderno, cheio de luz, o sol entrava pela janela da cozinha. Engraçado, que gosto do estilo de apartamento e móveis antigos, mas em particular, este apartamento moderno era muito lindo.  Quando entrei na cozinha, ainda sonolenta, você estava lá, sentado naqueles banquinhos altos na bancada da cozinha tomando o café da manhã. Eu te vi de perfil, sorrindo e feliz! Ambos estávamos muito felizes, com uma paz no coração, um momento de felicidade indescritível. Porque a vida, realmente é feita de momentos de felicidades. Quem diz que é feliz o tempo inteiro está mentindo como diz Rubem Alves. Fico aqui pensando no vitral que eu faria, com os pedacinhos de felicidade da minha vida. É claro, que seria um vitral maluco, não sei qual desenho apareceria, mas seria uma obra de arte. Pois esse momento era um daqueles momentos raros que temos na vida de felicidade plena! Cheguei à cozinha de pijama de algodão, shorts e camiseta brancos e logo te vi, abracei-te de surpresa com muito carinho, você não chegou a virar o rosto para me ver, beije-te na bochecha com muito amor. Foi uma sensação única de felicidade. Éramos nós dois, transformados em um momento eterno de felicidade, era um daqueles momentos que podemos dizer: - Minha vida inteira valeu por esse momento! Você, seu sorriso, o sol na janela, uma manhã, meu abraço apertado e um beijo de amor eterno! Lilian Regina Gonçalves 

  

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Dia!

Vamos viver um dia de cada vez... É tudo que temos... Não deixe para amanhã o que podes fazer hoje!