quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A Tia Má



A Tia Má


Não, não era tia Maria, Marlene, Márcia... Também não era minha tia, era a tia da minha melhor amiga quando era criança, só que era uma tinha "má".
Eu era pequena, talvez uns oito anos,  eu adorava andar de patins e era boa nisso... Andava para frente, de ré, com um pé só, rodava com patins... E junto comigo vinham minhas amigas...
Minha irmã ganhou os patins, mas logo caiu, bateu o nariz, saiu muito sangue do nariz e ficou muito inchado, ela desistiu... Eu andava bem, em qualquer lugar, no quintal, calçada, num salão... Ás vezes no sábado à tarde, a criançada usava o salão da igreja para andar de patins, porque lá o chão era muito lisinho. Brincávamos daquela brincadeira de colocar várias cadeiras uma do lado da outra, e todos andavam de patins ao som de uma música ao redor das cadeiras, e então, alguém desligava a música, e quem ficasse sem cadeira era eliminado do jogo. Outras vezes, íamos à frente da igreja onde o chão era bem liso e andávamos, andávamos de patins... Naquela época os patins eram de quatro rodas, abertos, o meu era verde o da minha irmã, preto. Como é bom recordar essa época...
 A tal da "tia má" era tia da minha amiga. Ela era da religião Testemunha de Jeová e vendo as crianças felizes brincando em frente à Igreja que era católica, chamou-me de lado e disse "- Seus patins vão pegar fogo em frente a sua igreja." Na hora levei um susto, lembro-me dela até hoje com aquele olhar  malvado. Eu assustada perguntei: "- Fogo?! Como assim fogo?" Então ela respondeu: "- Sua igreja é do mal, vocês todos vão para o inferno morrer queimados!" Sai desesperada correndo para casa. Jamais tinha visto e nem ouvido algo tão assustador. Imagina uma criança, pura, sem malícias, criada pelos pais católicos, cujos pais já eram católicos e toda ascendência, numa aldeiazinha no meio da Serra em Portugal, Fui criada desde então na Igreja Católica, ouvindo falar que Deus é amor, paz, e que ama seus filhos. Agora, eu ouvir que ia morrer queimada junto com meus patins e a Igreja?
Cheguei a casa chorando e contei o acontecido para minha mãe. Ela tentou me acalmar, tentou me explicar que existiam várias igrejas, mas eu não conseguia entender... Porque, se Deus era um só, cheio de amor... Que confusão era essa? Eu estava apenas brincando e ia morrer queimada por Deus... 
Agora entendo porque Jesus gostava das crianças, porque ainda não lhes havia pintando o sentido com maldade, preconceito, desamor, medo... Não, não podia ser que a igreja dela estivesse certa, isso era a maior prova de desacato das leis de Deus...
Hoje tenho compaixão da "tia má", mas nunca esqueço aquela voz no meu ouvido... Tenho certeza que Deus não gostou nada disso... Ele nunca iria atormentar as criançinhas...  Quando as pessoas vão aprender que Deus é amor incondicional? Se sua religião ensina algo longe disso, esqueça não é Deus... 
Depois de muitos anos fiquei sabendo que essa pessoa não é mais Testemunha de Jeová, e nem sei se é de outra religião... Fico triste com as palavras e sermões inventados, que os homens proferem em nome de Deus através da própria imaginação... Só o amor a Deus, a si mesmo e ao próximo podem nos salvar...   
    

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