domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Tonico e os amendoins!



O Tonico e os amendoins...




O Tonico era um velhinho muito simpático, pai da Júlia, minha madrinha de batismo. Ele tinha estatura mediana, era gordinho, quase careca, tinha um chapéu de palha e suspensórios para segurar as calças sociais. 
O Tonico foi personagem da minha infância e da minha irmã... Ele morava sozinho. Às vezes, para afastar a solidão, ele comprava amendoins ainda na casca, torrava no forno e vinha andando à pé uns dois kilômetros até nossa casa. Quando chegava com os amendoins quentinhos, a alegria era nossa, espalhávamos os amendoins na mesa, ele pedia uma pinguinha para comer com os amendoins, minha mãe fazia café e começava a conversa. Ele contava suas histórias, em já não as lembro, dávamos risadas, era uma alegria, ao entardecer, o Tônico pegava seu chapéu e punha pés ao caminho, para vir o caminho era descida, mas para voltar era uma íngreme subida... E então, ficávamos vendo do quintal da nossa casa, que ficava na Rua Porto Seguro número trinta e nove, o Tônico subir a ladeira com seu chapéu de palha, sapato,  calça e camisa branca estilo social, até desaparecer dos novos olhos...
Ontem o Tonico foi citado aqui no nosso almoço de domingo. Minha irmã lembrou-se do Tonico com carinho, eu também... Mas, havia um fato que me fazia esquecer o Tonico por todo esse tempo, ele tinha feito algo que eu não havia gostado e acho que coloquei as memórias do Tônico, bem no fundo das gavetas do meu cérebro, aquelas que a gente não quer usar... Eu, minha irmã e minha mãe adoravam gatos, e sempre tinha um em casa... O que aconteceu foi que nossa gata deu cria, não sei quantos eram os gatinhos. Em uma dessas tardes que o Tonico veio, minha mãe se queixou para o Tônico falando que não sabia o que fazer com os gatinhos e não tinha para quem os dar. O Tonico, para resolver o problema, disse que tinha donos para os gatos e os levou em um saco de papelão. Eu não vi, mas minha mãe conta que ficou olhando do nosso quintal o Tonico ir embora com o saco de gatos na mão, ao passar ao lado de um riozinho que havia e ainda há no caminho, ele jogou o saco de gatos para dentro do rio. Então, minha mãe contou para mim, e o lindo velhinho Tonico derreteu-se na minha imaginação como um lindo sorvete que seguramos na mão e então, sem querer, ele começa a derreter, derreter, derrete, e se espatifa pelo chão...
Ontem, quando falávamos do Tonico, lembrei-me da história dos gatos e falei: "- Mas mãe, o Tônico não jogou nos gatinhos no rio?" Ela ficou sem graça, talvez hoje, não teria falado isso para mim... Então ela disse: "- Ah não sei... Deixa para lá... Ninguém é perfeito...".
Depois de muitos anos, perdoei o Tonico... Talvez ele tenha se arrependido do que fez... Talvez ele tenha feito isso pela minha mãe que estava desesperada com os gatos... Não sei, deixa para lá, não poderemos nunca saber o que se passou na cabeça do Tonico, porque ele já partiu dessa vida... Mas agora, vou lembrar apenas do Tonico e os amendoins...   

      

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