quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Paciente Dezesseis!

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Um homem bom!



Chamei meu paciente. Entrou na cadeira de rodas, sendo trazido pela esposa. Um senhor  de mais de oitenta anos com sequela de AVC (acidente vascular cerebral), pouco conseguia falar devido à enfermidade, mas sua esposa falou por ele, com muito carinho... É difícil isso acontecer, o cônjuge entrar empurrando numa cadeira de rodas de seu marido sem reclamar... Foi durante a conversa que percebi a causa da tal harmonia. A esposa me explicou que ele era um homem muito bom. Contou que durante todos esses anos de união ela só presenciou um homem com amor no coração. Ela disse que se cada um tivesse um pouco de amor no coração do jeito que o senhor tinha, o mundo seria bem melhor! Acredito mesmo, porque é raro ver um relato desses. Ela disse que os filhos também gostavam muito do pai, e mesmo ele limitado daquele jeito, faziam de tudo para levá-lo para todo lado junto com eles. Conclui que quem planta sementes de bem um dia mais tarde irá colher também o bem... Sempre haverá um jeito desse bem voltar para nós, mesmo que venha de outro lugar totalmente inusitado.
Ela continuou, porque ele foi um "bom" homem, pai, companheiro e ninguém tem coragem de deixá-lo "mofando" em casa, o levam para todos os eventos, festas etc. E ele adora! Ele nunca gastou o dinheiro com vícios, sempre preferiu gastar em caridade, presentear quem ele ama. Ele sempre dizia, agora pouco por causa do AVC: "- Para que gastar dinheiro com cigarro, bebidas se podemos usar esse dinheiro para fazer um bem, agradar uma pessoa." É verdade, concordei!
Só me assustei quando a mulher disse que ele tinha ganhado um rato de presente em uma festa e queria ter trazido para me mostrar... Fiquei pensando: "- Ai meu Deus, só me faltavam trazer um hamster para eu ver..." Não tenho nada contra os ratos, mas não é meu animal de estimação preferido. Então eu disse: "- Ah, vez bem ele não ter trazido, porque senão eu levaria um susto!" Então a senhora disse: "- Não doutora é um rato de brinquedo!" Ele corre a casa toda e meu marido se diverte... “Você nem imagina como ele gosta de brincar com o ratinho...” Falei: "- Ainda bem, porque pensei que era um rato de verdade... Pode trazer o rato na próxima consulta que a gente brinca com ele..." Esses meus pacientes! Há muito que aprender com eles... 
Ela continuou dizendo que ele a ajudava muito, que ela tinha sido submetida à uma cirurgia, e não precisou de ninguém para os ajudar... Então perguntei: "- Mas, ele não está na cadeira de rodas? Ele anda?  A senhora respondeu: "- Pouco doutora, pouco, sempre escorado em alguma coisa! Mas ele tem outra forma de ajudar, ele me lembra da hora de tomar remédio, quando estou com alguma dor ele faz uma oração para mim, ele sempre tem um sorriso no rosto para me alegrar! Pensei, não é porque uma pessoa está em uma cadeira de rodas, sem falar, que não tem como ela ajudar. Há muitas formas para fazer caridade, para expressar o amor, para ser feliz apesar das dificuldades...
Fiquei emocionada com a história e por isso estou relatando aqui! O amor puro e verdadeiro ainda existe! Quando se tem amor verdadeiro no coração que nasce todo dia, esse amor transborda, não cabe dentro de um só coração, é como mágica se espalha pelo ar...


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