segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Paciente Dezoito!


Nunca é tarde!



Chamei minha paciente. Entrou uma senhora, com oitenta anos de idade. Ela estava bem, tem nevralgia do trigêmeo, mas está controlada com a medicação. Como não tinha nada para se queixar, ela começou a falar de coisa boa. Foi um papo divertido, como diria o cantor Roberto Carlos, um "papo firme". Ela tinha tatuagens pelo corpo todo, particularmente não gosto muito de tatuagens, mas as delas estavam bonitas. Achei estranho, uma velhinha de oitenta anos toda tatuada... Lembrei que um dia em que estávamos comentando sobre tatuagens e velhice no cabeleireiro. Algumas pessoas diziam que não achavam legal fazer tatuagem quando jovem, porque na velhice a tatuagem com pele enrugada ficaria feia, mas nela estava bonito... Contei a história para ela, e pedi para ela mostrar as tatuagens. Ela então as mostrou, tinha no peito, nos ombros, nos braços, nas pernas, nas coxas, pareciam-me bonitas. Eram flores, corações, borboletas todas coloridas, com sinceridade as elogiei! Não era verdade que tatuagem em idoso ficava feio. Então perguntei: "- A senhora tem essas tatuagens há muito tempo?" Ela respondeu: "-Imagina doutora, são recentes de um ano para cá..." Eu fiquei espantada e então ela continuou... "- Quando eu estava casada eu nem sorria, meu marido não me deixava fazer nada... Agora eu sou outra pessoa..." Então perguntei: "- É o seu marido?" Ela disse: "- Morreu! Fiquei cinquenta e um anos com ele, quarenta e oito de casamento e três de namoro. E então, ele morreu e eu fui viver minha vida... Comecei a andar de moto com meu filho, começamos a ir para todo lugar com os motoqueiros, e comecei a ir para as baladas. Fiquei conhecida doutora, e ganhei um concurso da melhor vovó em um programa de televisão. Agora eles me chamam para tudo, festas, eventos, bailes, passeios de motos, baladas e nós vamos... Outro dia minha vizinha me chamou e mostrou que eu estava na internet. Sabe doutora eu não tenho computador, então nem sabia, porque não sei mexer com essa tecnologia" Eu falei para ela que o próximo passo é comprar um computador e aprender computação, mas agora fico pensando, acho que é melhor ela ficar passeando por aí mesmo, do que em casa no computador. Ela continuou: "- Faz pouco tempo que eu dou risada... Eles gostam de mim, eu sou alegre, só falo coisas boas, mas eu não era assim não... Faz pouco tempo...".
Olhei para ela, tinha as suas unhas pintadas de amarelas, os sapatos floridos de bico fino, salto alto, eram lindos, nunca vi igual... Os cabelos eram pintados de loiro, vestido preto, brincos coloridos, um deles bem grande vinha até o ombro, batom cor de rosa. Não, ela não tinha nenhum sintoma de doença de Alzheimer, nem de demência senil, estava com as funções cognitivas normais... Ela só tinha descoberto que é possível ser feliz sozinha! Ela havia descoberto a felicidade...
   

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