quarta-feira, 7 de março de 2012

Paciente Vinte e Oito!





Alergia no Cérebro




O paciente não tinha nada de grave. Os exames subsidiários estavam todos normais para a idade de um senhor de setenta e poucos anos. Expliquei exaustivamente que tudo estava dentro do esperado que ele não precisava se preocupar, não tinha nada de "grave" dentro da cabeça...
Ele fez que entendeu, eu estava feliz por dar a notícia que ele não tinha nada de grave.
Depois de tudo esclarecido, eu já estava encerrando a consulta, pronta para me despedir e dizer “tchau” e em pensamento dizer: "- Senhor! Pare de "inculcar"! Pare de procurar doenças! Vai viver a vida e ser feliz! Ninguém que passa dos setenta anos vai estar se sentindo como um jovenzinho de vinte... A vida é assim mesmo, há tempo para tudo, são fases da vida! E então, ele fala: “- Doutora, preciso de um alergologista (especialista em alergias)...”. Perguntei: "Está bem, onde é a alergia senhor”? Preciso colocar no pedido de encaminhamento..." Ele respondeu: "- No cérebro doutora! No cérebro!" Quase que eu caí da cadeira! Não podia ser, depois de ter explicado tudo para o paciente, ter falado que ele não tinha problema nenhum, ele me diz que tem "alergia no cérebro"! Nem se quer existe isto na neurologia! Alergia no cérebro! Era a primeira vez que ouvia falar nisso em toda a minha vida! Pensei comigo: "-Não, não posso explicar mais nada para esse senhor, ele não pode compreender, e eu não tenho forças para começar uma nova explicação... Além do mais havia quinze pacientes na sala de espera para serem atendidos..."  Porém, eu não iria deixar de saber por que ele achava que tinha alergia no cérebro... Perguntei: "- Porque o senhor acha que tem alergia no cérebro?" Ele respondeu: "- Ah doutora, é que quando eu tomo um antialérgico, dá um sono, eu fico tranquilo e durmo! Se o meu mal-estar no cérebro está resolvendo com antialérgico, só posso estar com alergia no cérebro!” Não tinha nem palavras para explicar que os antialérgicos tem como efeito colateral sonolência, porque as mesmas seriam em vão... Fiz o pedido de encaminhamento, e para o alergologista não achar que eu estava louca coloquei uma observação: "alergologia, a pedido do paciente".
  

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