quinta-feira, 22 de março de 2012

Paciente Trinta



Causas de Depressão




Exclamei: "- Não entendo Dona Juvelina, a senhora não está nem um pouquinho melhor com o tratamento da depressão? E então ela respondeu: "- Não doutora, não..." E então, dirigi-me para a filha dela e perguntei: "- Aumentamos o antidepressivo e ela não melhorou nada”! A filha da paciente falou: "- Não doutora, não...". E então, uma olhou para outra e percebi que havia algo estranho no ar... Mãe e filha eram parecidas, de cor negra, ambas altas magras, os olhos eram do mesmo formato e eles pareciam querer dizer a mesma coisa. A Juvelina com seus noventa anos ficava mais quieta e esperava a filha falar por ela... Foi então que a filha resolveu contar o que estava acontecendo: "- Doutora desculpe, mas há um problema que tenho vergonha de contar, e esse problema é a causa da depressão da minha mãe..." Eu ia pedir para que ela contasse pois isso era importante, mas não precisou e ela falou de uma só vez: "- Tem ratos na nossa casa! Minha mãe não gosta de ratos e está deprimida por causa deles. Também eles não dão paz! E então perguntei: "- Mas, não tem como pegar esse rato? Uma ratoeira"? A filha respondeu: "- Sabe o que é doutora, os vizinhos foram se mudando, e as casas deixadas ficaram abandonadas, e então os ratos dominaram a área, agora estão lá, e não é um só doutora, são vários! Não tem como pegá-los, pois são muitos! A noite eles ficam correndo em cima do telhado para lá e para cá... E quando eles cismam de conversar um com o outro, só escutamos tchi, tchi, tchi, tchi, tchi, tchi... Um terror! E o pior é que eles nos afrontam, não têm medo da gente..." 
Fiquei imaginando aquele monte de ratos andando para cima e para baixo, conversando e atormentando uma velhinha de noventa anos. Pensei comigo, se o problema são os ratos, deverá existir uma forma de eliminá-los e caso não seja possível, os incomodados terão que se mudar... Perguntei: "- Não tem como eliminar esses ratos? Então elas responderam: "- Não, uma ratoeira só não dá para nada”... O remédio que mata ratos está proibido... E a pior doutora não tem como mudar de lá, não vamos encontrar outra casa que o aluguel seja cem reais por mês, não podemos pagar mais por um aluguel... Minha mãe ficou viúva cedo. Meu pai morreu com trinta anos de infarto, minha mãe conseguiu criar eu e meus irmãos nessa casinha alugada com a ajuda dos vizinhos... Não há solução..." Respondi enquanto pensava numa solução: "- Entendi, entendi..." Porém, por mais que pensasse não conseguia chegar numa conclusão...
Fiz a receita do antidepressivo na mesma dosagem, pois o problema são os ratos... Agora, pensando melhor, talvez se eu aumentasse o antidepressivo da Juvelina, ela pudesse ficar mais feliz a ponto de fazer amizade com os ratos, o que acho impossível, pois eles já aprontaram muito com a velhinha. Já chegaram a morder-lhe a orelha enquanto dormia. Um dia, a filha contou, estavam dormindo, já era de madrugada, um silêncio total, não chovia, quando a dona Juvelina sentiu uns pingos de água caindo do telhado. Mas, se não estava chovendo, da onde vinham aqueles pingos d'água? Foi quando ainda sonolenta entre a razão e o sono, dona Juvelina pode perceber que não eram gotas d'água da chuva, mas sim xixi de rato.    


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