sexta-feira, 23 de março de 2012

Paciente Trinta e Um



Cartela de Remédios


Desde que comecei a ter contato com os pacientes no internato nunca tinha visto tal atitude. No meio da consulta o paciente Lino tirou de um saquinho de plástico todas as cartelas vazias do medicamento que eu tinha prescrito para dor crônica. Eram dezoito cartelinhas, cada uma com recipientes individuais para dez comprimidos, todos abertos e sem comprimidos, ele havia tomado todos os medicamentos prescritos! A prova estava ali... Hoje em dia, como tudo é preciso de provas para ser validado, lá estava a prova: cartelas vazias, remédios tomados! Acredito mesmo que ele havia tomado os remédios, mas agora questiono, e se ele tivesse retirados todos os comprimidos da cartela e jogado fora? Fico pensando na nossa vida moderna onde a palavra de honra não existe mais, e a prova falsa sim... Até pensei fazer direito, mas eu seria uma péssima advogada não conseguiria defender um cliente que eu suspeitasse que tivesse argumentos ou provas falsas, acho que meu escritório estaria sempre vazio... Se dependesse do direito para sobreviver, morreria de fome,  não poderia mentir, nem defender quem não tem direito a defesa! Pensando bem, acho que até poderia ser advogada, mas se viesse um cliente que não pudesse defender por questões morais falaria: "- Sinto muito, não posso defender seu caso, procure outro advogado..." É claro, que não existe certo ou errado, mas sim situações, mas infelizmente não poderia mentir isso não faz parte do meu perfil. Quem mente é uma tristeza, uma vez descoberta a mentira nunca mais será uma pessoa confiável. Poderia ser advogada, mas não poderiam compactuar mentiras. Poderia argumentar e defender, se concordasse com o cliente, mas não faria isso apenas pelo dinheiro... Por isso mesmo, acho que escolhi a profissão certa, medicina! Nunca pensei em fazer medicina para ganhar dinheiro, a minha intenção sempre foi ajudar pessoas... Não poderia fazer nada que fugisse disso para o meu bem próprio
Voltando ao senhor Lino, depois de todas as cartelas  vazias espalhadas na minha mesa, falei: "- Muito bem! E o senhor melhorou! Ele respondeu: "- Sim doutora, eu estou melhorando”. O que faço com estas cartelas? Posso jogar no lixo?". Respondi: "- Sim seu Lino, vamos jogá-las no lixo" E assim fizemos terminando a consulta...


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