sábado, 19 de maio de 2012

Paciente Trinta, parte dois: "Os ratos venceram!"




Os ratos venceram!

Não teve jeito, os ratos venceram! Dona Juvelina voltou no consultório, eu estava pensando que ela viria com uma notícia boa, que os ratos tinham desaparecido, ou que alguém tivesse dado um jeito neles, mas fato é que eles venceram! A dona Juvelina piorou, e agora além da depressão começou a esquecer de tudo, talvez até dos ratos...
À noite, a conversa dos ratos viraram canção de ninar, e o xixi deles, água de rosas...  Acredito que foi então que dona Juvelina começou a esquecer das coisas, talvez seja melhor para ela...
Realmente os ratos são chatos, pelo menos no meu ponto de vista, mas, porque não chatos? Porque comem o nosso queijo? Porque são feios ou achamos serem feios? Transmitem doenças? Nós também podemos transmitir doenças uns para os outros...  Então fico pensando, o Mickey Mouse é um rato, adorado por quase todo mundo neste planeta. O Mickey Mouse é legal, é bonito, é engraçado, e é um rato! Ao mesmo tempo se virmos um rato saímos gritando por aí! O fato torna-se uma incoerência. O rato imaginário é bonito, mas o rato real é feio, horripilante!
Por causa dos ratos assustadores dona Juvelina com a idade tão avançada está resolvendo deixar tudo para lá e esquecer-se de tudo...  Talvez seja um mecanismo de defesa de poder continuar vivendo com os amigos que não foram convidados a fazer parte de sua velhice...
“Amigos” intrusos que chegam na hora errada são chatos, mas fazer o que quando não podemos livrar-nos deles? Agora fico pensando na Dona Mimi, outra paciente idosa que está com síndrome de pânico porque não quer ficar sozinha em casa. A Mimi tem uma casa bonitinha, sem ratos para dividir o teto, mas ela está infeliz, pois se sente sozinha! A Mimi todas às tarde tem uma acompanhante, mas pela manhã e nós finais de semana fica sozinha, quando isso acontece ela começa a tremer e ficar em pânico. Não sei se ela gosta de ratos, mas se os ratos da dona Juvelina fossem para a casa da dona Mimi talvez o problema se resolvesse para as duas... No meu caso seria pior porque não sei por que não gosto de ratos, apesar de como disse, não saber por que, talvez seja um conceito pré-formado que foi impresso no meu ser... Pensando agora, tive uma solução para a Mimi, adotar um animal de estimação! Um gato ou um cachorrinho, quando eu tinha uma gatinha de estimação que viveu dezenove anos eu nunca me sentia sozinha. Quando eu chegava a casa, abria a porta e chamava pelo seu nome: “- Nega, Nega, Neguinha!”. E no meio da escuridão, ainda sem as luzes acessas ouvia seu “olá”: “- Miau! Miau!”. E então, eu nunca me sentia sozinha...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário