sábado, 2 de junho de 2012

Paciente Trinta e Quatro: O esqueleto!






O Sonho, a Morte e o Esqueleto

O senhor Geraldo, um senhor de oitenta e um anos de idade, entrou no consultório. Ele estava admirado, depois de muitos anos sem sonhar ele tinha sonhado na noite passada! Ele sonhou, sonhou com a própria morte... E então começou a contar seu sonho instigante. Disse que estava lá ele, morto, todo calmo acompanhando todos os acontecimentos de sua morte. Ele, que nunca pensou em ser cremado, iria ser cremado! E foi assim acompanhando seu funeral tranquilamente chegando ao crematório com toda cerimônia. Quando estava lá começou a pensar no próprio sonho, o que está acontecendo? Eu sou aquele morto que será cremado? Percebeu no sonho que ainda estava vivo, acordou! Chegou dizendo na consulta que hoje ele havia nascido de novo! Essa vida é engraçada com seus mistérios. O senhor Geraldo havia acabado de nascer com oitenta e um anos de idade...
Perguntei se ele gostaria de ser cremado quando morresse, ele disse: “- Não doutora, eu nunca tive esse desejo...”!  Caímos na gargalhada, que sonho inusitado! Então também falei: “- Eu também não quero ser cremada”! E pensando agora sobre o meu corpo morto quando esse dia acontecer, eu não quero em hipótese alguma ser cremada. Não sei como é o processo, mas quero que meus ossos sejam doados para minha faculdade de medicina (Medicina Santo Amaro em São Paulo) para que os alunos possam estudar anatomia. Não quero ficar inteira no formol, quero ficar um esqueleto envernizado...
Quando comecei a faculdade de medicina em Volta Redonda no Rio de Janeiro, onde passei um mês vindo depois para a Medicina Santo Amaro, nós conseguimos um esqueleto inteiro para ficar dentro do nosso apartamento. Quando voltávamos da faculdade à noite, pegávamos nosso livro de anatomia, espalhávamos o esqueleto inteiro a sala e começávamos a estudar osso por osso. Quando mudei de faculdade ficou lá naquele apartamento meu esqueleto de estudo. Já em São Paulo, consegui um osso temporal para mim, seria o osso em que está o ouvido, ficava na minha escrivaninha. Meu pai ficava todo incomodado com o osso e dizia: “- Aí filha, de quem será essa orelha?”.  Eu respondia sem nenhuma preocupação: “- Não sei pai, não sei de quem é essa orelha...”.

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