segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Padre e o Anjo






O Padre e o Anjo



O padre estava lá no meu voo TAP 85 destino a Portugal. Ele viajava sozinho, na janela, com sua maleta de mão coberta com um pano de flanela branca com uma cruz vermelha bordada. Dessa vez eu não tinha intenção de fazer o checking o que me interessava? Viajaria sozinha, qualquer lugar podia ser sem ser ao lado da janela porque senão  passado quatro horas de viagem começo a abrir e fechar a janelinha sem parar, um tipo de “medo de avião”...
Decidida a não fazer o checking online mudei de ideia, ligo o computador, abro o site da Tap a ir Portugal, e entro no meu avião online... Tudo já praticamente ocupado! As cadeiras vazias piscavam em verde no mundo virtual. O computador sugeria-me um assento, até que parecia um bom assento não ficava em frente a outras cadeiras de avião, mas sim em frente às paredes dos banheiros do  avião. O lugar podia ser até mais confortável mais perto do banheiro do avião? Não é por nada, mas a todo tempo tem gente querendo ao banheiro, e é um passa pra lá passa pra cá, fora o cheiro nada agradável que se instala depois que quase a toda tripulação já foi ao “toaillete”
Sobravam dois assentos, um para o fundo do avião outra na frente, ambos os lugares corredores e não nas janelas. Não gosto de ir à frente do avião, parece-me que se o avião cair de bico no solo quem tiver no “rabo” do avião ainda tem uma chance para sobreviver. Mas desta vez escolhi a parte da frente, do lado do senhor padre de oitenta e seis anos de idade que rezava para que Deus lhe enviasse um anjo para sentar-se ao seu lado. Não que eu me considere um anjo, mas o anjo que ele esperava sentou: “eu”, com toda a paciência do mundo!
Ele se apresentou Senhor Joaquim, era muito simpático e logo começou a falar e falar... Eu o observava, um terno com um broche em cruz a maleta caracterizada logo presumi que se tratava de um padre velhinho. Respirei aliviada, tinha escolhido o lugar certo!
Foi então, que ele se apresentou como senhor padre, que estava no Brasil há 50 anos, e o engraçado que percebi é que não havia perdido o sotaque. E que viajava para dar uma olhadela na sua casinha em atrás dos montes, em Vila Real. Às pessoas ao meu redor começaram a olhar para mim e como dizer: “- Você está perdida com esse padre falador a noite toda ao seu lado no avião...”, mas elas não sabiam que ele tinha pedido um anjo para acompanhá-lo na viagem e mesmo sem saber sentia que iria cuidar daquele solitário, padre, velhinho talvez a noite inteira.

Com o tempo fui percebendo que ele não estava acostumado a viajar muito e não sabia dos rituais do avião. Eu lhe auxiliava em tudo. Liguei a televisão, ensinei a mexer no touch da tela, colocando em filmes, músicas etc...
Mostrei-lhe os fones de ouvidos, mas ele não quis saber deles. Hora ou outra ele pedia para eu dar licença para ele passar para andar e fazer exercícios com as pernas no corredor do avião. Todo mundo olhava para mim com dó, torcendo que o velhinho fosse dormir, mas ele não parava de falar. Mal sabiam eles que eu estava toda feliz com o senhor padre que havia rezado a despedida do Ayrton Sena no Cemitério do Morumbi e que conhecia o Papa João Paulo II, e que amava ler livros de filosofia. Então, eles perceberam que eu estava muito bem ao lado do senhor padre por mais que ele entrasse e saísse do seu assento ao lado da janela, e por mais que ele quisesse conversar...
Chegou a hora do jantar! E ele pergunta-me: “- Mas como vamos jantar assim?” Mostrei-lhe a mesinha que se abria, das costas do assento d frente, o lugar onde por o copo e tudo mais...Montei sua mesa de jantar, abri seus talheres e queijos e manteigas pois com a mão trêmula dos seus oitenta e oito anos ficava difícil ainda mais com o avião balançando. Eu pedi até um ataca de vinho para mim e para ele. Foi quando ele sujou seu terno australiano guardado só para momentos especiais, pois eu dei um jeito de limpar o terno para ele. Foi quando ele puxou de dentro de sua camisa um cordão com uma santinha que não soube distinguir quem era ele disse que não era conhecida disse que se tratava de ser a Santa Angélica. Então ele disse: “- Eu rezei muito para que um anjo se sentasse ao meu lado!” Você  está cuidando de mim! Eu pensei, não sei se sou anjo, mas neste momento sou!
Insisti para que ele trocasse de lugar comigo mesmo que eu tivesse que ficar na janela que odeio, mas não teve jeito, ele ficava lá, e tempos em tempos pedia licença para sair para caminhar, dizia que as pernas estavam estranhas e que tinha escolhido mal o terno porque não era confortável para a viagem... Ele quis ir bonito, com seu terno australiano e agora o mesmo o incomodava... Entre idas e vindas, acordei sentada do lado da janela para o café da manhã. Perguntei para o padre se ele tinha e-mail, disse que não, mas logo compraria um notebook... Eu disse: “- Compra sim!” Então escrevi para ele meu nome, endereço, telefones e vou esperar seu contato.
Foi uma viagem muito agradável...


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