quinta-feira, 14 de junho de 2012

Plantão





Plantão


E vendo que já são quase duas horas da manhã, lembrei-me dos meus plantões da residência de clínica médica da Santa Casa. Chegava certa hora da madrugada que o pronto socorro começava a esvaziar. Os mendigos já haviam chegado, já estavam acomodados no isolamento por causa do risco de terem tuberculose e contaminarem outros pacientes. Os pacientes com infarto agudo do miocárdio já estavam estabilizados, os pacientes com diabetes mellitus descompensados já começavam a melhorar, pacientes com aumento da pressão arterial já estavam medicados e esperando a pressão arterial chegar aos níveis pressóricos normais  e finalmente os pacientes com distúrbios psiquiátricos todos sedados e quietinhos esperando o dia amanhecer.
Quando já tínhamos estudado e preparado todos os resumos dos casos de todos os pacientes em pequenos rascunhos de papéis para passarmos para o chefe às sete horas da manhã na visita geral com toda equipe presente. Quando as serventes começavam a lavar o chão do pronto socorro quase nos enxotando para fora do recinto era hora de dividirmos o horário. Éramos dois residentes, um deveria ficar acordado cuidado de tudo e o outro ia para o conforto médico que ficava bem longe e no último andar do hospital. Lá estavam todos os beliches, e nós exaustos procurando um vazio para deitar o corpo e fechar os olhos por pelo menos uma hora. E assim era nossa vida, tudo calmo às quatro da manhã, três horas até às sete da manhã, uma hora e meia para cada um procurar um beliche vazio do outro lado do hospital.
Acaba de bater duas horas da manhã, preciso descansar fechar os olhos... Até às sete da  manhã são cinco horas, mas não precisarei dividi-las com ninguém...

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