domingo, 24 de novembro de 2013

Nononono!

 
 
 
 
Nononono!
 
 
Seria cômico se não fosse trágico, mas fato é que o ocorrido era verdadeiro. A paciente estava lá, sentada na minha  frente, tinha tido um "derrame", um AVC (acidente vascular cerebral) e de todo o vocabulário aprendido no decorrer dos seus sessenta anos foi a sílaba "no", que falava quatro vezes repetidas, tornando-se uma palavra "nononono".
No início, até pensei que a sílaba "no", queria dizer "não", mas não era isso, ela dizia "nononono" para tudo mesmo que a pergunta derivasse uma reposta afirmativa. Falava "nononono" e afirma com a cabeça. Realmente, era o que lhe sobrara da sua fala, todo o seu português. 
Fiz perguntas para a paciente, ela respondeu, disse seu "nononono", eu acho que entendi. O filho que a acompanhava na consulta deu uma risada, realmente era cômico, se não fosse trágico, até ela mesma ria. A vida havia pego uma peça na senhora...
Fiquei pensando, porque lhe restar apenas essa sílaba no vocabulário, "no", seria não? Não há tantas coisas que queríamos realmente dizer "não" e falamos "sim"! Eu mesmo demorei para dizer "não", não como palavra, mas como vontade, para pessoas, para situações... Luto até hoje com esse "não", esse "não" que é: não quero, não posso, não estou com vontade, não gosto disso, não vou fazer isso para agradar o outro, e tantos outros não... Às vezes, é impossível dizer não, mas outras vezes é imprescindível, mesmo que gente fique com cara emburrada...
Depois de vários anos de terapia, sempre lembro da minha mestra dizendo: "- Olhe sempre para dentro de você! Puxe a camiseta vestida, coloque a cabeça lá dentro e pergunte para seu coração, e se a resposta for não, escuta-te, diga não! Porque se não a vida vai acabar arrumando uma forma de você dizer "não"....   

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