sábado, 10 de novembro de 2012

Paciente Trinta e Sete: Criança






Paciente Trinta e Sete: A Criança


Eu peguei a próxima ficha de atendimento médico para chamar o paciente pelo nome: "- Ana Maria!" Eis que entra no consultório sozinho um senhor de seus setenta anos. Ele disse: "- Boa tarde doutora, minha criança não pode vir!  Pensei sem falar nada para o senhor na minha frente: "- Não acredito! marcaram uma criança na minha agenda!" A vida inteira me confundiram com neuropediatra, neurologista especializado em cuidar de crianças". Então, eu tenho que explicar que não, que sou neurologista só para adultos... Eles ficam decepcionados e dizem "- Não, não acredito... A doutora tem um jeito tão meigo, tão doce que pensei que fosse médica de crianças..." E então, eu penso com os "meus botões": " - Nem que eu fosse uma bala de coco eu seria pediatra ou neuropediatra!". O engraçado é quando a pergunta é outra: "- Você opera as cabeças também?" Nesse caso a pergunta é mais uma eresia do que qualquer outra coisa, pois eles sabem que a resposta será "não". É difícil imaginar alguém doce, delicada, meiga abrindo a cabeça de alguém com uma espécie de furadeira. Apesar de que uma mulher pode sim ser neurocirurgiã sem nenhum problema... Resolvi perguntar a idade da criança: "- Quantos anos ela tem?" Porque teria que fazer como algumas vezes fiz, pedir desculpas e dizer que não atendo crianças e pedir para remarcar  a consulta, mas esta criança era um pouco mais velha tinha "apenas" oitenta e um anos  e estava com doença de Alzheimer! Perguntei para o senhor o que ele era da paciente achando estranho que fosse sua cônjuge, pois era estranho aquela alegria toda e dedicação de uma pessoa que estava cuidando de seu cônjuge com ointenta e um ano com Alzheimer, não que não exista, mas é raro... Não, não era sua esposa, era sua tia... E ele continuou com sorriso no rosto: "- Ontem doutora, ela passou o dia inteiro em outro planeta!" Então perguntei: "- Como assim?" Ele respondeu: "- Ah, doutora ela estava viajando, não era nem aqui na Terra, era longe, bem longe, no meio dos planetas, estrelas etc." Pensei comigo: "Ah que bom! Pelo menos com doença de Alzheimer podemos viajar para outro planeta e ainda acreditar que é verdade...!  Dependendo da vida que se tenha tido é uma boa saída... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário