sábado, 18 de agosto de 2012

Minha amiga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)





Minha amiga na UTI

Recebo um telefonema de uma amiga, perguntando se eu tinha notícias de outra amiga em comum. Calmamente respondo: “- Ainda não consegui falar com ela hoje...”. Nos dias de hoje a vida é assim, uma correria, todo mundo de lá para cá de cá para lá... Logo em seguida minha amiga responde: “- Você não sabia, ela está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”. Fiquei perplexa e disse: “- Como assim na UTI? Falei com ela ontem estava tudo bem...“.
E a vida é assim, um dia estamos bem, no outro estamos na UTI, por isso cada vez mais me convenço que temos de viver o presente como o melhor momento, não dá para esperar por dias melhores, dias melhores, dias melhores... Ilusão! Pura ilusão!
Eu como médica, posso entrar a qualquer hora do dia nos hospitais.  Assim que conseguisse terminar todos os meus pacientes eu correria para o hospital ver minha amiga. E assim fiz, deveria ser mais ou menos sete horas da noite quando peguei meu carro na direção de São Paulo. Depois de tentar cortar caminho para me livrar do trânsito caótico de São Paulo consegui chegar ao hospital já me conscientizando que veria minha amiga, com roupa de hospital, numa cama de hospital, talvez com olhos abertos, talvez com olhos fechados, assustada ou rindo para a situação, pálida ou com boa aparência, cheia de aparelhos ou apenas uma máscara de oxigênio. E foi assim que fui me preparando para encontrar minha amiga de tantos papos, conversas, risadas, choros...
Ao chegar à recepção do hospital me identifiquei como médica, falei que tinha um paciente na UTI que precisava visitar.  A recepcionista disse: “- Pode ir!”. Pensei comigo, tudo bem posso ir, mas onde fica a UTI desse hospital. Depois de perguntar a moça disse tem UTI no sexto andar e segundo andar com cara de brava, mas se você esperar vou tentar localizá-la através do sistema no computador.  Depois de esperar a boa vontade da recepcionista mal humorada que não estava nem aí para nada, ela pediu o nome da minha amiga. E então veio o pior, eu não sabia o nome completo dela, porque a chamamos por parte do nome. Ela é daqueles casos que nunca podemos imaginar que o nome dela verdadeiro é aquele... Depois de muito pensar, analisar lembrei-me do nome ou parte dele.  Porém, na busca no computador não aparecia o nome. Não podia ser, se ela estava ali, estava ali, talvez eu desconhecesse parte do nome dela, tentei ligar para outras amigas e quando você precisa falar com alguém urgente, o celular da pessoa chama até cair na caixa postal, ou já vai direito para a caixa postal ou fica mudo, etc. Então, a recepcionista mandou que eu verificasse na internação, nada feito! Não a encontraram... O jeito foi me encaminhar até a UTI, primeiro numa e depois na outra. E assim fiz, não conhecia aquele hospital, mas de cara não goste, pensei: “- Ai meu Deus”! Onde minha amiga está? Encontrei a porta da UTI apertei o interfone expliquei a situação e a voz falou do lado de lá: “- Pode entrar!”. Até então, não haviam me pedido nenhuma identificação de médica e eu andava lá igual à uma barata tonta pelo o hospital que brinca ser hospital.
Abri a porta da UTI, não havia ninguém no corredor. Eu entrei, lavei as mãos, olhei as placas e me dirigi a UTI adulto.  Chego à porta da UTI desesperada para encontrá-la, e naquela sala enorme cheia de leitos, vou olhando leito por leito na esperança de encontrar minha amiga.
Eu particularmente não gosto de UTI, nunca seria médica intensivista. Imagina só uma grande sala uma cama do lado da outra, um pior que o outro, não se pode levantar, não se pode ir ao banheiro, preso àqueles aparelhos eletrônicos. O paciente ali, vendo toda aquela confusão, parada aqui, parada ali... Já estava sufocada de procurar minha amiga olhando todos aqueles rostos desesperados e sozinhos dos pacientes, quando apareceu uma assistente da UTI e me perguntou: “-Quem você está procurando?”, então expliquei: “- Eu sou médica e estou procurando uma amiga que está internada nesta UTI”. Disse-lhe o provável nome completo. Ela procurou, procurou e nada! Perguntou: “- Mas como ela é?" Então comecei a descrevê-la e mais ou menos o que tinha acontecido e porque ela estaria lá. Não, não tinha nenhuma moça assim com essas características em nenhuma das UTIs.
Saí da UTI sem saber o que pensar... Cadê minha amiga? Desapareceu? Nunca esteve aqui? Já esteve e foi para o quarto? Está sequestrada? Sentei no sofá fora da UTI para descansar em estado de “choque”, o que fazer? Um velhinho sentado no sofá da frente olhava para mim. Nesse momento lembre-me de todas as pessoas que procuram seus entes queridos desaparecidos em hospitais, IMLs etc. Não é uma experiência nada fácil e agradável. Resolvi recorrer ao telefone celular de novo, quem sabe estaria dando o nome errado no hospital. Enfim consegui localizar alguém que poderia resolver meu problema. Não ela não estava internada naquele hospital, informação errada! Ela estava internada em outro hospital da mesma rede daquele em que eu estava... Apesar de querer vê-la, estava cansada demais e aceitei, meio a contra gosto, a informação que ela estaria bem.  Voltei para casa com saudades da minha amiga e pedindo à Deus por sua saúde...  Ainda vamos dar muitas risadas juntas...

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