sábado, 22 de setembro de 2012

O Hospital








O Hospital




E hoje passando pela rua que sempre passo todos os dias aqui em Santo André, eu olhei para o lado direito no lugar do Hospital em que minha avó morreu e nada havia apenas um terreno! Tinha sumido, tinha sido demolido do dia para a noite. Tudo para baixo em restos no chão, o quarto e a UTI em que a vovó ficou antes de partir da o lado de lá...
Tudo agora não passam de memórias nada mais!
Vou continuar passando pela mesma rua e olhando para o mesmo lugar e independente do que ele possa vir a ser agora, vou lembrar-me do último dia da minha avó naquela cama da UTI. Naquele dia, parecia que havia melhorado, estava feliz, beijou minhas mãos, deu risada, eu pensei que havia uma possibilidade, que ela havia melhorado apesar dos seus oitenta e nove anos e de seu corpinho composto só de pele e osso, tão branquinha como neve...
Já em casa, passado umas três horas em que eu a visitará, senti um frio no estômago nada bom, passado alguns minutos o telefone toca, eu atendi e já sabia do que se tratava, a vovó tinha falecido. E foi nesse ar de tristeza que começamos a preparar tudo para o final. E disse tudo sabemos que o que restará será a saudades, saudades, saudades que nunca poderá ser “matada” e ela continuará a ir com a gente por todo nosso caminho.
A saudade não larga do pé não, não adianta chutar, falar saía para lá, eu não te vejo, vira e volta ela aparece... Faz quatorze anos que minha avó sumiu naquela cama de UTI de um hospital que não existe mais... Lembro-me do sorriso vespertino dela naquele e promessas que tudo estava bem, mas fato é que a morte estava se aproximando da minha avó.
Agora, lembrei-me também do meu paciente no Instituto do Coração. Depois de tantas lutas, meses de internação, colocando o senhor cujo nome não me lembro da cama para a poltrona, da poltrona para a cama... Toda equipe tinha feito o máximo para o velhinho ficar bem e ter a alta programada par o dia seguinte. Ele estava bem, brincava com todo mundo, e sua esposa iria trazer salgadinhos para todos comemorar a saída de seu marido da semi-intensiva. E na agitação da amanhã no hospital, cada um fazia uma coisa, eu prescrevia e preparava a alta do velhinho, enfermeiras preparavam medicamentos, assistente trocavam as fraldas dos pacientes, dava-lhes banho no leito. E no meio da agitação e confusão, olhamos para o velhinho já de alta sentado no seu leito, roxo igual uma uva. Foi uma gritaria total, para tentar reanimar o paciente. Nada feito! Ele não quis esperar a festa partiu, e assim, a esposa foi avisa, e não vieram salgadinhos e nem bolinhos. E aquele dia foi de silêncio da semi-intensiva do INCOR.  Lembro-me de ter ido ao banheiro fechado a parta e ter derramado algumas lágrimas, pois eu tinha acabado de falar “bom dia” para ele...
Eu fico pensando nessa melhora pré-morte, o que seria isso? Como o organismo se organiza para tal? Ele melhora talvez para despedir das pessoas, falar algo que tenha que falar e então, fechar os olhos e deixar saudades...

 



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