terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pedacinhos



Pedacinhos


Tenho medo de mexer nas minhas coisas, pois encontro pedacinhos dele. Agora mesmo fui arrumar alguns papéis e encontrei e-mails impressos que trocamos há dez anos... Então vem a saudade e invade minha alma, faz doer meu coração, sinto lágrimas escorrerem dos meus olhos... É inevitável não os ler... E por ironia do destino, em nossas conversas eu pergunto o que ele sentiria se eu morresse o que faria, mas não tenho a resposta do e-mail... Acho que ele não respondeu... Porque responderia?  E porque perguntei isso? Guardo tudo de novo  no mesmo momento! Não consigo! Não posso mais sofrer assim... Porque eu imprimi esses e-mails? Por quê? Porque os guardei?  Devia ter feito a pergunta para mim, se ele morresse o que eu faria... Não fiz. Se tivesse feito com certeza  agiria de modo diferente... Não pensei que a morte estava por perto... Não, nunca imaginei viver sem ele... Achava que esse dia estava longe demais, que eu não devia me preocupar que tínhamos a vida inteira pela frente, enganei-me...
Havia uma música que sempre me perseguia, fazia parte da trilha sonora do CD filme "Cidade dos Anjos" com a  Meg Ryan, sempre aparecia tocando em algum lugar onde eu estava, no radio do carro, nos lugares públicos, e em vários outros lugares. A frequência com que a música me perseguia era alta.  Eu até tinha o CD, e ainda o devo ter em algum lugar, mas propositalmente o escondi há alguns anos.
Sempre que a música tocava tinha a impressão que a morte levaria meu amor de forma repentina... Eu tinha medo, desligava o rádio, mudava de estação. Enfim, parecia que era um aviso, mas nunca pensei  nele... Nós estávamos sempre juntos que jamais podia imaginar ele longe de mim, como não imagino. Acho que ele está perto, mas não consigo o ver! Mesmo quando estávamos longe um do outro, estávamos perto, não dá para descrever esse sentimento, é indescritível! 
Ele não precisava dizer nada, eu o conhecia pelo olhar, pela alma... Eu conseguia o ler, sabia seu "código"... Ele falava pouco, mas um olhar dizia tudo! Sinto falta dessa "inabalável" cumplicidade... Tiveram épocas que fomos namorados, fomos amigos, fomos irmãos, mas nesses doze anos nunca houve a época em que não fomos nada um para o outro. E é isso que faz a diferença. Essa presença mesmo na ausência fazia tudo ter mais sentido... A presença se transformava em eternidade, cada sorriso, cada expressão em sua face, movimentos de suas mãos seriam eternos... Isso tudo é difícil de ser descrito com palavras...
A música nunca mais tocou... Já até esqueci qual era a música que me perseguia... Ela já deu seu recado, foi embora...
São tantos pedacinhos dele espalhados ao meu redor, que não posso mexer em nada... A blusa que ele adorava me ver vestida está lá no meu armário, uma camisa cor de rosa, pink. Quando eu a vestia, ele dizia: - Você fica tão bem com essa blusa, com essa cor! Na verdade, não me lembro dele implicando com a minha aparência, e eu vice e versa. Ele estava sempre lindo.  Tínhamos até a mesma ptose palpebral, um olho um pouco mais fechado que o outro... Achávamos graça! Ele só falava que gostava de me ver de minissaia, que eu deveria usar mais minissaias... Assim éramos nós, almas gêmeas...  

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