segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Paciente Quatro




Tratamento a seco



Fazia tempo que ele não aparecia nas consultas. Alguns dias atrás havia lembrado aquele paciente, e até pensei: - Nossa, faz tanto tempo que o senhor José, não aparece... Será que ele voltou para sua terra? Será que melhorou da depressão e já não precisa mais de médico e nem remédios? Será que morreu? Nunca se sabe quando a morte bate na porta, às vezes, nos pega de surpresa causando um desastre para os que ficam, e já não sei dizer para os que vão... Pois para minha surpresa ele apareceu! Não tinha morrido, não tinha conseguido voltar para sua terra natal. E não estava bem, pois olhei para ele, e seu olhar já dizia tudo... Não precisava nem perguntar, mas perguntei: - O senhor está bem? Ele respondeu: - Não doutora, eu estou péssimo! Então perguntei: - Porque seu José o que aconteceu? E ele respondeu: - É doutora, tentei fazer o tratamento a seco, mas não deu certo... Fiquei olhando para ele e ao mesmo tempo tentando lembrar-se do "tratamento a seco". Lembrei até das roupas que vem com a instrução: "Lavar a seco", mas não conseguia lembrar-se de nenhum tratamento a seco. Bom, excluídas todas as terapias com água, como hidroterapia, natação, banhos com águas termais, lama medicinal etc.  Pensei até na eletroconvulsoterapia para tratar depressão grave, mas ele teria falado esse nome, ou teria falado "levei um choque, doutora". Pensei, será que inventaram alguma máquina que a pessoa depressiva entra, faz-se o tratamento a seco, a mesma sai feliz e que não estou sabendo? Então tive que perguntar: - Como assim seu José, que tratamento é esse? Então ele me respondeu: - Parei todos os remédios de uma fez, fiquei a seco, e fui fazer ioga. Não deu certo doutora, vim buscar as receitas! A inocência nos seus olhos era evidente! Não dava para brigar com ele, tinha sido uma tentativa, uma esperança. Geralmente os pacientes fazem isso, mesmo orientados a não fazer, alguns, em algum momento do tratamento param os remédios. Acho que na verdade ninguém quer tomar remédio, só em último caso! Expliquei para ele, que depois do início do tratamento medicamentoso para depressão, não se pode pará-lo de uma vez, pois os efeitos da retirada brusca são graves. Fiz as receitas, expliquei tudo direitinho e ele foi embora. Espero que tenha melhorado.
* Nome fictício.

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