quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Favores e pacientes!






Paciente e favores, e mais favores...




Deveria ser declarado o "Dia dos Favores"! Todos os pacientes que atendi tinham favores para pedir.  Era incrível, acho que não teve um paciente que não tinha favor para pedir. Quando estava no final da consulta, depois de tudo analisado, esclarecido, receitas feitas, retorno marcado, só falava falar "tchau" e vinha a pergunta: -"Doutora gostaria de pedir um favor!", e não era um, eram dois, três e quatro, uma lista deles. O pior é, era evidente que a maioria dos favores deveriam ter sido feitos por outros médicos que cuidam do paciente, mas eles sempre vão empurrando para os outros, porque dá trabalho fazer mil e um relatórios, receitas, encaminhamento para especialistas, e pelo paciente não tenho coragem de negar. Tenho pena de dizer "não posso", "não é da minha parte", mas penso com o coração e não consigo deixar de fazer o bem para alguém se isto está ao meu alcance, não é do meu feitio. Às vezes digo que não, mas me corta o coração. Não é que eu não goste de fazer favores. Adoro ajudar outras pessoas! Faço isso pelo amor ao próximo, mas como dizem: "tudo tem um limite", ou "tudo que é demais parece mal". E especificamente naquele dia, estava me parecendo mal... É que vejo cada coisa, que às vezes fico abismada. Alguém nasce com algum defeito físico, tem que se virar para ser alguém na vida. Quem não tem mãos pinta com os pés. O próprio cantor Roberto Carlos perdeu parte de uma perna quando era menino em um acidente, mas isso não o impediu de ir em frente, torna-se um rei. Existem até empregos especiais para os deficientes físicos, vagas para concursos separadas. Agora, alguém que teve alguma doença neurológica que o deixou com um pouco de perda de força em alguma parte do corpo, não pode fazer mais nada! E foi assim, depois de fazer mil relatórios para o paciente, um homem jovem, já recuperado, andando, falando normalmente, controlado das crises convulsivas. Ele me diz que único problema atual é que ficava "nervoso" à noite quando chegava a casa. Logo pensei, nossa ele deve trabalhar o dia inteiro. Então, perguntei: "- O que o senhor faz? Ele respondeu: - “Nada”! Sou aposentando por invalidez". Na hora pensei: "fazer nada também cansa!" e então, ele se foi. Chamo a última paciente, que ficou horas esperando para ser atendida, lá vem uma senhora, com seu marido ambos com mais de 80 anos. Ela tem sequela de AVC, depressão, infarto, transtorno cognitivo e não pediu o favor de ser atendida primeiro, e também não reclamou. E eu tão pouco falei, poderia ser um insulto falar: - "Porque a senhora não pediu para ser a primeira a ser atendida?”Conclui: "Cada um tem a idade na sua mente e não no corpo”. Cada um lida com a doença de uma forma particular, positiva ou negativamente”. 

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