O Barco, o naufrágio, o escolhido.
Fiquei sabendo, na época da adolescência, que para saber qual pessoa amávamos de verdade era simples. Bastava imaginar todos os pretendentes dentro de um barco em alto mar. Logo em seguida, uma tempestade terrível começava, com relâmpagos, trovões e ondas enormes. Então, o barco começava naufragar, todos iriam morrer, era inevitável. Entretanto, você poderia salvar um deles, somente um, o escolhido, era a pessoa que você realmente amava. Os anos foram passando, e no decorrer da minha vida, depois de muitas confusões amorosas, às vezes sozinha deitada na cama do meu quarto antes de dormir, fechava os olhos, colocava-os no barco e pensava qual deles salvaria. Era engraçado e trágico ao mesmo tempo, imaginar todos entrando no barco, a grande tempestade, todos desesperados olhando para mim, estendendo suas mãos e então, o grande momento, eu dava a mão para uma pessoa e a puxava para fora do barco. Há alguns meses, depois de 42 anos de vida, estava pensando quem eu teria amado de verdade, e cheguei a ter dúvidas se já havia amado alguém. Lembrei-me do barco, e então, os possíveis amados foram entrando no barco, veio a tempestade, o momento da decisão e não lembro se salvei alguém porque adormeci e logo em seguida tive um sonho, era uma voz que me dizia: - Olha, quem você amou de verdade foi esta pessoa, e esta outra pessoa.! Acordei feliz porque agora sabia quem realmente eu tinha amado! Porém eram dois nomes, duas pessoas... Isto me deixou intrigada, porque dois nomes? Será que podemos amar mais de uma pessoa ao longo da vida? Desde criança sempre imaginei um único amor! Aquela pessoa amada incondicionalmente, um amor como o de Romeu e Julieta. Já li sobre o assunto e muitos especialistas dizem que sim, podemos amar mais de uma pessoa. Entretanto, para mim, só pode existir um amor verdadeiro! Eu tinha dois nomes, estava feliz! Os dois estavam solteiros, livres, estava fácil, era só colocá-los novamente no barco e salvar um. Porém, o inesperado aconteceu, antes de eu ter tempo de pensar no naufrágio, creio que um mês depois do sonho, um deles fatalmente faleceu! Não poderia mais salvá-lo do naufrágio, não pude fazer nada, nem ao menos estender a minha mão, pois morreu subitamente em cinco segundos, e com ele, todos os meus sonhos, mas o amor, este sim sobreviveu. Quanto ao outro, não sei dizer, pois como diz o Rubem Alves, uma mãe pode ter três filhos, mas se um deles morre, era este o que ela mais amava. A morte deixa a pessoa amada eterna. Acredito que agora, não precisarei mais imaginar o tal barco...
Lílian, o náufrago está agora contemplando as estrelas de cima, vendo-as como elas realmente são, e não como nós, meros crentes, imaginando-as.
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