sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Paciente treze!



O pão francês


Lembrei-me do escritor e psicanalista Rubem Alves. Ele conta em uma de suas crônicas, que tinha um paciente com mais de oitenta anos, quase morrendo, que ficou com uma vontade louca de comer pastel. Portanto, ele não era mais dono de si, preso em seu leito pela doença, a única forma era pedir para a filha comprar um pastel, mas ela negou! Disse que não poderia comprar o pastel porque o colesterol dele era alto. Acho que ele morreu no dia seguinte com vontade de comer pastel... Ontem, a mesma situação aconteceu comigo... Chamei minha paciente, entrou sendo levada por sua filha em uma cadeira de rodas uma senhora de oitenta e sete anos com Doença de Alzheimer. Era visível que pela sua idade e doença, ela estava bem! Olhava para mim serenamente, quando perguntei se ela estava bem, ela deu um sorriso como criança faz, sem muito dizer... A dose do medicamento para o Alzheimer já estava máxima. Não tinha mais nada a ser feito, mas a filha queria falar algum problema...  Quem não tem problema? Todo mundo os tem de alguma forma mesmo que simples, pelo menos é o que vejo e escuto como médica. Parece que fica chato conversar com alguém e não falar de nenhum problema. Em Londres, para se evitar isso, as pessoas quando se encontram falam do tempo, se vai chover, se não vai, se vai fazer sol... Certo ou não, não sei, acho bom desabafar, por para fora, compartilhar, mas se pensarmos bem, às vezes não temos nenhum problema relevante ao nosso redor, então, porque criá-lo? Foi o que aconteceu quando indaguei a filha da paciente. Sim, havia um problema: - Doutora, minha mãe come muito pão francês! Esse é o problema, preciso de um encaminhamento para a nutricionista! Logo lembrei do paciente do Rubem que queria no fim da vida comer um pastel. Não aguentei falei: - Senhora, se o único prazer dela com oitenta e sete anos é comer pão francês, deixa ela! Então ela disse: - Doutora, mas ela come quatro pães franceses no café da manhã!  Falou em café na manhã, mexeu comigo, também é minha refeição favorita do dia! Imagina se me privassem de alguma coisa do meu café da manhã? Eu não iria gostar... Então falei: - Quatro pães de uma vez realmente é exagero, mas porque você dá quatro pães para ela? Não é ela que pega, nem compra, pois ela está na cadeira de rodas, reduza a quantidade de pães e  pronto! A filha respondeu: É!
Não encaminhei para a nutricionista, não fazia sentido... Porque implicar com o pãozinho que uma velhinha de ointenta e sete anos come com todo prazer no café da manhã? Realmente, às vezes criamos problemas sem sentido, inúteis, que não vão mudar em nada uma situação... Deixa o velhinho comer seu pastel sossegado e a velhinha comer dois pãezinhos no café da manhã! 

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